Ricardo Gruner
"Não somos um revival dos anos 1980. Somos uma banda de 2016 fazendo música agora", assim o vocalista Edu K descreve o Defalla, que reúne integrantes da formação original em Monstro. O lançamento do álbum acontece amanhã, nas plataformas de streaming, e a versão física deve chegar às lojas no próximo mês. "Ele é claramente uma ponte da banda de hoje para os dois primeiros discos (Papaparty, de 1987, e It's fuckin' borin' to death (1988)", descreve o músico, complementando: "E resgata aquele som, mas de um jeito atual".
A volta do Defalla, na verdade, nem é um retorno propriamente dito. Conforme o Edu K, o grupo nunca terminou - o que aconteceu é que cada um foi tocar seus projetos. Ele próprio carregou sozinho o nome da equipe por um tempo, em uma época de experimentações que incluem o disco Miami Rock 2000 e o hit Popozuda Rock'n'roll. "Tudo aquilo vale: nosso estilo é não ter estilo. Então, mesmo quando não tinha mais ninguém da formação original, isso também fez parte da evolução do Defalla", afirma o frontman, que agora reencontra Castor Daudt (guitarra), Carlo Pianta (baixo) e Biba Meira (bateria).
Segundo o vocalista, conversas sobre uma reunião do quarteto aconteciam com frequência, mas faltava um empurrão, que só veio em 2011. O produtor Leandro "Lelê" Bortholacci convidou a banda para participar do projeto Discografia Rock Gaúcho - em que artistas tocam trabalhos marcantes de sua discografia ao vivo, do início ao fim. Quando os músicos entraram em estúdio para ensaiar, sentiram que a mágica em conjunto ainda não havia encerrado. Monstro é resultado de um processo que começou naquela ocasião e continuou nos anos seguintes, a partir de ensaios e gravações pontuais. "Nos reunimos durante um estúdio de ensaio gravando tudo o que fazíamos, sem decidir nada. Um ano depois, nos reunimos de novo para registrar em um estúdio de gravação. O Defalla sempre foi uma banda muito orgânica", cita Edu K, comentando que o lançamento inclui pitadas de funk dos anos 1970, pós-punk, um lado gótico e stoner rock.
Já o conceito do disco surgiu casualmente, através de uma colaboração do dramaturgo e escritor Mário Bortolotto, responsável pela letra da faixa-título. "O disco fala da monstruosidade do mundo moderno, das pessoas, dos relacionamentos, da violência como algo natural na vida moderna, e também dos monstros tradicionais", comenta o frontman. Na era dos singles, quando as pessoas pouco escutam um álbum como conjunto, Monstro é uma "anomalia", acrescenta o músico. "Fizemos assim porque vemos valor no álbum como obra, independentemente de como as pessoas vão consumir."
Das 14 faixas do álbum, três delas têm participação de convidados: Dez mil vezes conta com Humberto Gessinger; Pitty reforça o time em Delírios de um anormal, inspirada em Zé do Caixão; e Beto Bruno contribui em Timothy Leary, faixa que forma uma trilogia ao lado de Aldous Huxley e Ken Kesey. A escalação dos artistas aconteceu de maneiras e por razões diferentes. Segundo Edu K, "Gessinger é um gênio pop" que ele queria ver trabalhando com Castor, o qual escreveu a parte instrumental da canção, e Pitty tem um "lado meio soturno" no jeito que coloca sua voz, combinando com o clima de Delírios. Já Beto Bruno conhecia a história de Timothy Leary - além da sonoridade da música em questão dialogar com o universo da sua banda, a Cachorro Grande.
E como o novo disco se enquadra na produção brasileira contemporânea? Para o vocalista, a regionalidade não importa - está todo o mundo na mesma. "Vivemos um momento de saturação da música", constata ele, destacando que todas as formas já foram usadas, corrompidas e reconstruídas. "Estamos em uma época de baixa criatividade e não é culpa de ninguém. As pessoas estão trabalhando para ver se aparece algo novo por aí. E nós fazemos parte disso", encerra.
Para celebrar o lançamento, o quarteto deve fazer shows a partir de maio. Porto Alegre, berço do grupo, está na rota, assim como São Paulo e Rio de Janeiro. As datas ainda não foram confirmadas.