Cenários típicos do Rio Grande do Sul, os campos e a pecuária ajudam a compor o imaginário coletivo quando o assunto são as tradições locais. O sinal de alerta, entretanto, já foi aceso. O Pampa está hoje entre os biomas brasileiros mais devastados, ocupando o segundo lugar em um ranking nada positivo, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. Apenas a Mata Atlântica é menos preservada no País que os campos gaúchos. É uma realidade que preocupa e dá o tom do enorme desafio que se tem pela frente.
Em muitas áreas, o campo foi removido e substituído por lavouras, de soja em solos mais secos, e de arroz nas regiões mais úmidas. Essa prática também tem levado a um aumento da contaminação do solo e da água, já que no cultivo dessas lavouras são usados defensivos agrícolas.
A silvicultura, que é o cultivo de pinus, eucalipto e acácia, é outra atividade econômica que passou a ser realizada nesse bioma nos últimos anos. E também trazendo como resultado muitas perdas. “No Cerrado, estão substituindo a vegetação florestal por pastagens cultivadas, e aqui no Estado as pastagens naturais estão tendo que dar lugar para lavouras de árvores. A inversão da aptidão econômica dos biomas não faz sentido e não é sustentável, pois não é a vocação dessas áreas”, critica Ilsi Boldrini, professora associada do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Segundo ela, a manutenção da vegetação campestre é dependente de uma pecuária extensiva e bem manejada.
Ilsi acompanha há muitos anos a vegetação do bioma Pampa e vem desempenhando um importante papel nas ações de preservação, especialmente na formação de recursos humanos conscientes sobre a importância destas atividades. No Brasil, o Pampa é exclusivo do Rio Grande do Sul, porém, tem continuidade de flora, fauna e estrutura no Uruguai, leste da Argentina e sudeste do Paraguai. Enquanto que nos demais biomas a predominância é a floresta, o Pampa tem como matriz principal a vegetação de campo, entremeada por mata ciliar nas margens dos rios e, ainda, árvores isoladas.
“A vegetação campestre é mais antiga do que a florestal e, consequentemente, muito rica e diversa. Como é formada por vegetação baixa, composta predominantemente por gramíneas, aos olhos de um leigo parece muito monótona. Por isso sempre foi pouco valorizada”, observa a pesquisadora. O Pampa só foi reconhecido como bioma em 2004 e, até então, a Mata Atlântica, a Caatinga, o Cerrado e a Amazônia sempre foram privilegiados em termos de recursos para a realização de pesquisas. A vegetação de campo até era estudada, mas sob o ponto de vista da Mata Atlântica. Hoje, segundo a professora, já existe uma mudança em curso, na medida em que os órgãos de fomento passaram a publicar editais para os pesquisadores poderem desenvolver ações voltadas exclusivamente para esse bioma. Apesar da perda de 64% da sua cobertura original, o Pampa ainda contabiliza cerca de 2,1 mil espécies vegetais campestres, um indicativo da sua alta biodiversidade.
Pesquisadora orienta alunos e técnicos ambientais
Ilsi Boldrini está na Ufrgs desde 1975 e, já no ano seguinte, começou a ministrar aulas na Faculdade de Agronomia. Na época, ela trabalhou muito próxima aos agrônomos, procurando orientá-los nas suas atividades no campo. Ela também é diretora-executiva da Associação Sócio Ambientalista (IGRÉ).
Atualmente, a formação de recursos humanos é uma das suas atividades principais. Com mestrado em Botânica e doutorado em Zootecnia, a pesquisadora atua no programa de pós-graduação em Botânica da Ufrgs e orienta estudantes na área de taxonomia, cujo foco é a identificação das plantas, nesse caso, de vegetação campestre. Esse trabalho rendeu frutos. Em parceria com os estudantes de pós-graduação, foram elaborados livros que falam da diversidade do Pampa, caso do “Bioma Pampa - diversidade florística e fisionômica” e “Campos dos morros de Porto Alegre”. O objetivo é informar a população sobre a necessidade de conservação do bioma, diz a pesquisadora. Outro trabalho de conscientização que vem sendo feito é junto aos técnicos de instituições municipais e estaduais.
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PRÊMIO ESPECIAL |
• João Mielniczuk: Revista Ciência Rural - Professor Titular Aposentado do Depto. de Solos da Ufrgs. |
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL |
• Ilsi Boldrini: Professora associada da UFRGS/ Instituto de Biociências.
• Silvia Terezinha Sfoggia Miotto: Professora Associada da UFRGS do Instituto de Biociência, Departamento de Botânica
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CADEIAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA |
• Algenor da Silva Gomes, Pesquisador Aposentado da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS).
• David Driemeir, Professor da Veterinária da Ufrgs. |
TECNOLOGIA RURAL |
• Ronaldo Matzenauer, Fepagro.
• César Valmor Rombaldi, Professor Titular da Ufpel, Departamento de Agronomia.
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NOVAS ALTERNATIVAS AGRÍCOLAS |
• Sérgio Francisco Schwarz, professor adjunto da Ufrgs, departamento de horticultura e silvicultura.
• Celso Aita, Professor Associado da UFSM/Depto. Solos.
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