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Mercado Financeiro

- Publicada em 16 de Abril de 2012 às 00:00

Consumo testa força da moveleira gaúcha Unicasa


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
Aos seis anos, a pequena Helena sabe bem o que quer. Levada pela mãe, a bióloga Daisy Bessa, a uma loja da marca de móveis planejados Favorita, do grupo Unicasa, em Porto Alegre, Helena compôs o futuro mobiliário sob medida para seu quarto no computador e saiu ansiosa para ver tudo montadinho em casa. “Fiz lista do que queria e mudei só algumas coisinhas”, observa a menina. A mãe encarou tudo com muito astral e tentando acomodar o desejo de Helena ao fôlego da renda doméstica. Com o salto dos ganhos dela e do marido em dois anos, Daisy conseguirá custear a encomenda, que não sairá barato. “É um investimento e um carinho que a gente se faz”, rendeu-se a bióloga.
Aos seis anos, a pequena Helena sabe bem o que quer. Levada pela mãe, a bióloga Daisy Bessa, a uma loja da marca de móveis planejados Favorita, do grupo Unicasa, em Porto Alegre, Helena compôs o futuro mobiliário sob medida para seu quarto no computador e saiu ansiosa para ver tudo montadinho em casa. “Fiz lista do que queria e mudei só algumas coisinhas”, observa a menina. A mãe encarou tudo com muito astral e tentando acomodar o desejo de Helena ao fôlego da renda doméstica. Com o salto dos ganhos dela e do marido em dois anos, Daisy conseguirá custear a encomenda, que não sairá barato. “É um investimento e um carinho que a gente se faz”, rendeu-se a bióloga.
Decisões como essa da mãe de Helena alicerçam a ambição do grupo moveleiro gaúcho, que marcou para 27 de abril sua estreia na BM&FBovespa. A Unicasa, que é dona ainda das grifes Dell Anno, New e Telasul, dependerá muito da manutenção do consumo de classes emergentes e mesmo de alta renda para convencer o mercado a comprar seu papéis. A indústria, com sede em Bento Gonçalves e cujo maior acionista é o megaempresário Alexandre Grendene, tem a seu favor um trunfo. “A venda de móveis planejados cresceu três vezes mais que as linhas prontas nos últimos anos”, registra o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado (Movergs), Ivo Cansan. E isso só foi possível, emenda o próprio Cansan, porque o ramo não comercializa só guarda-roupa ou cozinha. “Vende-se personalização, satisfação e serviço”, esquadrinha o dirigente, o que justificaria preços que triplicam frente aos modulados ou prontos.
Ao anunciar o lançamento de ações (emissões primária e secundária), cujo potencial de captação é estimado em uma cifra acima de R$ 540 milhões, a Unicasa canaliza seu poder de gerar caixa e lucros nas quatro marcas, que abocanham todos as faixas de renda, de A a D. O presidente da Movergs lembra ainda que o player, que se posiciona como o líder no ramo de planejados, descola-se pela veia dos acionistas, já acostumados aos desafios de metas de eficiência.
O ramo moveleiro, que tem o segundo maior polo justamente na região da Serra gaúcha, é dominado ainda por empresas familiares e de pequeno e médio porte. “O exemplo da Unicasa pode ser seguido, com mais grupos buscando fusão e quem sabe o mercado de capitais”, especula Cansan. O consultor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi) e analista da indústria de móveis Marcelo Villin Prado agrega requisitos como forte profissionalização para alcançar o patamar. “É preciso visão além das necessidades da família. Quando dá certo vira um ativo”, provoca Prado.    
Mas antes disso, o candidato a IPO e seus concorrentes terão de torcer para as vendas de 2012 se recomporem. O ano passado teve crescimento de 4,3% no volume, muito longe do paraíso da alta de 10% de 2010. A própria Unicasa sentiu na pele. O prospecto para investidores indica recuo de 5,7% na quantidade total vendida e avanço de 2,6% na receita bruta. No mercado doméstico, o volume caiu 7,6%, e o faturamento subiu 2,3%. A largada deste ano não está muito animadora. A Movergs espera desempenho um pouco acima da inflação até dezembro. As medidas do governo para desoneração da folha ainda não estão valendo e o corte no IPI tem efeito momentâneo. Na loja, os arquitetos e sócios Ricardo Vasconcellos e Ana Favieiro, franqueados da marca Favorita, assinalam que os três primeiros meses estão mais animadores que o ano passado, marcado por altos e baixos. “O planejado ficou mais acessível e vemos que tanto donos de imóvel novo como usado tentam ir mobiliando aos poucos”, descreve Vasconcellos.
O pós-venda é outra variável nessa indústria. É consenso entre fabricantes e varejo que a montagem dos projetos tem falhas e gera descontentamento nos clientes. A Unicasa mais uma vez é exemplo. No site Reclame Aqui, duas marcas do grupo figuram no ranking dos nomes mais recentes que são alvos da ira de consumidores: a New (voltada à classe C) figura em sexto lugar, e a Favorita (classes B e C), em 20º. Ivo Cansan alega que os problemas estão ligados principalmente à oferta de mão de obra qualificada, que não acompanhou o ritmo de ascensão do planejado. “É nosso grande problema hoje”, admite o presidente da Movergs. Segundo o dirigente, as empresas tentam suprir dificuldades com treinamento e parceria no comércio. Lojistas que atuam com o segmento cobram maior presença da indústria, para não pagarem sozinhos pelos erros. A bióloga Daisy já passou pelo dissabor ao contratar o projeto da sua cozinha. “Nunca mais comprei da marca. Erraram feio.”    

Grupo enfrenta maré baixa de estreias na bolsa

Mais que provar seu poder de gerar rentabilidade em um setor sensível a consumo e condições de crédito e renda, a Unicasa enfrentará o ambiente em baixa dos IPOs na BM&FBovespa. Este ano registra apenas 11 ofertas públicas de distribuição de ações em andamento, com dois cancelamentos. Entre as empresas está o BTG Pactual, banco de investimento que lidera o processo de abertura de capital da moveleira gaúcha. Desde 2008, o setor enfrenta desaquecimento e altos e baixos, efeito da crise internacional de 2008. O recorde de estreantes foi em 2007. Em 2009, houve um sopro de retomada, que não manteve o vigor desde 2010. 
“A janela de oportunidade não está tão aberta”, pondera o sócio-diretor da Fundamenta Administradora de Recursos, Valter Bianchi Filho. O analista acredita que a oferta destinada a pagamento de dividendos deve se firmar, já que os bancos responsáveis pela estruturação do negócio fizeram sondagens prévias. Mas tudo dependerá ainda do encerramento da reserva dos papéis, que vai até dia 24. No dia 25, ocorre a precificação, para posterior oferta na bolsa, marcada para dia 27. O valor da ação varia na faixa de R$ 16,50 e R$ 20,50.
Pioneira entre fabricantes de móveis na BM&FBovespa, a Unicasa desfila como atrativo sua abrangência de mercado, que agregou linhas corporativas, de olho na demanda para empreendimentos ligados à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016. O boom do ramo de construção residencial também pavimenta as projeções da companhia. Marcelo Villin Prado, do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), aponta que o desafio do grupo será manter a liderança em seus mercados, já que atua com uma marca para cada faixa de renda, e elevar o giro financeiro. “A empresa compensa isso com margem maior de preço. Mas é possível melhorar esta proporção com trabalho forte nos canais próprios.”
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