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Educação

- Publicada em 21 de Março de 2012 às 00:00

A sala de aula no cinema


ANTONIO PAZ/JC
Jornal do Comércio
No lugar do quadro negro, o telão. Em vez do giz, o controle remoto. Quem assistiu ao longa-metragem estrangeiro, vencedor de oito Oscars em 2009, Quem quer ser um milionário?, sabe que não existe uma única forma de aprendizado. A película conta a história do indiano Jamal Malik Othman, um jovem das favelas de Mumbai que participa de um programa popular que empresta o nome ao filme.
No lugar do quadro negro, o telão. Em vez do giz, o controle remoto. Quem assistiu ao longa-metragem estrangeiro, vencedor de oito Oscars em 2009, Quem quer ser um milionário?, sabe que não existe uma única forma de aprendizado. A película conta a história do indiano Jamal Malik Othman, um jovem das favelas de Mumbai que participa de um programa popular que empresta o nome ao filme.
Através das perguntas feitas pelo apresentador, o rapaz relembra a sua vida, onde encontra todas as respostas concorrendo a uma fortuna. O intrigante é que o garoto teve uma infância difícil sem chances aos estudos. Portanto, a aposta do escritor e professor da Universidade Federal da Bahia Adriano Leal Bruni é exatamente na vivência. “O conhecimento também se processa a partir das experiências de cada aluno e, nesse contexto, o filme é mais didático e lúdico”, explica o mestre, que há sete anos trouxe o cinema para a sala de aula.
Porém, nem sempre eles são transmitidos na íntegra, e uma edição de partes que interessam para a disciplina que está sendo abordada é o suficiente para cumprir o objetivo. “Em apenas três minutos de exposição de uma cena é possível se discutir o que se levaria 16 horas de trabalho”, avalia o professor.
Doutor e mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Bruni está escrevendo seu 17º livro pela editora Atlas, que será lançado em 2013, no qual faz uma analogia do mundo real, das finanças empresariais com a ficção. Como amante da sétima arte, descobriu que as histórias contadas através da tela do cinema eram uma forma de prender a atenção dos jovens. “O filme é um recurso didático complementar, uma ferramenta de apoio”, completa. Com o olhar treinado, o professor confessa que não consegue mais se desligar nem mesmo no momento de lazer.
Além disso, Bruni também utiliza histórias publicadas na mídia impressa para que os alunos do curso de Ciências Contábeis, Administração e Economia, encontrem alternativas para resolver problemas das instituições em análise. “Casos de jornais e revistas são compactados para que os estudantes possam entender o aporte teórico da situação, a fim de montar soluções”. Segundo ele, dessa forma, fica evidente que não existe uma só resposta ou uma única percepção, pois cada um constrói um caminho com base em suas experiências pessoais, mesmo que auxiliados pela teoria. “As pessoas são diferentes e chegam a conclusões diversas”, justifica.
Para Bruni, as exposições ficaram ainda mais ricas e dinâmicas e os jovens correspondem muito bem aos estímulos, o que vem se comprovando na assiduidade aos cursos.

Indicados como melhores filmes para profissionais da Contabilidade:

  • A Lista de Schindler – Mostra a importância do contador em uma empresa. O drama conta a história de Oskar Schindler, um antigo militar polonês, que progride nos negócios com a sua fábrica de panelas. Schindler contou com ajuda do seu contador judeu para elaborar uma lista de pessoas que acabaram sendo livradas dos campos de concentração com a alegação de serem úteis para seus negócios. 
  • Chocolate - com Juliette Binoche e Carrie-Ann Moss – Fala da criação de novos negócios, empreendedorismo e gestão
  • Mestre dos mares – Dirigido por Peter Weir, com o ator Russell Crowe, trabalha o planejamento estratégico.
  • A Firma – Suspense dirigido por Sydney Pollack, estrelado por Tom Cruise. O diretor mostra os meandros de uma grande empresa advocatícia que ajuda a lavar dinheiro da máfia.
  • Roger e Eu – Aborda o papel da gestão, importante para contadores e administradores de empresas. Fala sobre a empresa General Motors. Direção de Michael Moore.
  • Wall Street 1 – Poder e Cobiça – Indicado para os contadores e para quem lida com o mercado financeiro. Trabalha a ética, mercados de capitais e o valor da informação. Estrelado por Michel Douglas e Charlie Scheen.
  • Um bom ano – Filme de Ridley Scott com Russell Crowe. Traz um duro conceito de finanças, compra e venda de ações. Indicado para economistas também.
  • Uma linda mulher – Estrelado por Julia Roberts e Richard Gere, apesar da classificação de romance, o filme é apresentado em algumas partes para discussões nas aulas de contabilidade e finanças.
  • Ameaça Virtual - Caso Barings - Com Ewan Mcgregor. Fala de tecnologia da informação, contabilidade, liderança, ética, responsabilidade social corporativa e qualidade de vida no trabalho.
  • Náufrago – Na interpretação de Tom Hanks, a película mostra o aprendizado e a importância do planejamento, principalmente, em situações de risco.
  • Enron – Os mais espertos da sala – Documentário que relata um dos maiores escândalos financeiro já visto na história. A companhia de energia estadunidense, localizada em Houston, Texas, foi alvo de denúncia de fraudes contábeis e fiscais, levando o poderoso grupo a pedir concordata que arrastou consigo a Arthur Andersen, empresa de auditoria.
Dicas do professor baiano Adriano Leal Bruni

Dinamismo e criatividade ajudam no aprendizado

Como todo artista que gosta de plateia, todo o professor quer prender a atenção do aluno.  “A nossa realização é ver os olhos brilhantes dos alunos, demonstrando que assimilaram bem aquela aula”, comenta a professora e coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Rede Metodista de Educação do Sul - IPA, Neusa Monser. Segundo ela, algumas matérias são mais complexas, densas e difíceis de ensinar.
É o que ocorre com a cadeira Princípios Fundamentais da Contabilidade, em que a professora se utiliza do teatro para reforçar o aprendizado da disciplina. “Encenamos situações de casos reais que ilustram a teoria estudada”, explica. O retorno dessa prática, segundo ela, foi surpreendente, pois os universitários acabaram assimilando o estudo de uma forma bastante rápida e fácil. 
“Precisamos ter uma postura diferente como professores perante o novo perfil de estudante, dessa Geração Y”, diz.  A Geração Y é um conceito sociológico para explicar o comportamento dos jovens nascidos entre os anos 1980 e 2000 perante as mudanças da sociedade moderna, incentivada pelos avanços tecnológicos e o desenvolvimento da comunicação.
De acordo com a coordenadora, a instituição vem incentivando o corpo docente a buscar uma metodologia que cative cada vez mais os jovens. Para Neusa, é importante que o professor se coloque constantemente no lugar do aluno. “A autoavaliação sincera é fundamental”, aconselha. A técnica de filmes também é estimulada pela faculdade. “Temos que ter sensibilidade para criar um novo comportamento em sala de aula”, avalia a professora. “Nossa função é ensinar e, se esse objetivo não está sendo alcançado, nossa tarefa é inócua”, comenta.

Luz, tela, ação, debate e pipoca

Cinema na sala de aula, com direito a pipoca. É assim que a Faculdade de Administração, Contabilidade, Economia, Hotelaria e Turismo (Face) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) atua há pelo menos três anos. A iniciativa é responsabilidade dos professores Sedinei Beber e Vicente Zanella, que ministram cursos nas cinco faculdades da universidade e integram o currículo extraclasse. No projeto Aula com Pipoca, do professor Zanella, o estudo de uma história através da linguagem cinematográfica é complementar às outras disciplinas da Face. “O aluno se sente mais envolvido”, analisa o professor. O projeto busca a integração dos estudantes de diferentes cursos e conta com o patrocínio da locadora Espaço Vídeo no fornecimento da pipoca.
Segundo Zanella, em um estudo sobre a Teoria dos Jogos, a película escolhida foi Uma mente brilhante, onde foram convidados como debatedores o economista e professor Leandro de Lemos e o psiquiatra Lucas Spanemberg, do Hospital São Lucas, abordando a saúde mental. Uma mente brilhante, drama biográfico dirigido por Ron Howard, trata da vida de um grande gênio da matemática, John Nash, interpretado por Russell Crowe.
Aos 21 anos ele formulou um teorema que provou sua genialidade, mas aos poucos Nash começou a demonstrar ser um homem sofrido e atormentado e chega a ser diagnosticado como esquizofrênico. Porém, após anos de luta para se recuperar, ele consegue retornar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel.
“A ideia é utilizar os longas-metragens como ferramenta de aprendizagem”, diz o coordenador. Segundo Zanella, a universidade é um local onde os estudantes estão abertos ao grande universo de informações, portanto, o tema acaba sendo tratado com mais profundidade, extrapolando o conteúdo da disciplina. Atualmente, cerca de 300 universitários participam da disciplina no auditório do prédio 50 da Pucrs.
Para o professor Sedinei Beber, coordenador do programa O Olhar do Cinema, a universidade precisa se adaptar à modernidade e se ajustar as exigências do novo perfil de estudante. “A cinematografia nos mantêm atentos”, comenta. “Temos que acostumar os jovens a ver filmes com outros olhos”, diz. Segundo ele, as aulas são bastante concorridas.
Gestão e Negócios foi um tema debatido com alunos interessados de diversos cursos da Pucrs. O longa-metragem escolhido para ilustrar foi Minority Report, de ficção científica, lançado em 2002, estrelado por Tom Cruise e dirigido por Steven Spielberg. Nesta transmissão, o professor Beber abordou, entre outros assuntos, a legalidade das decisões, questões de estratégia e como uma pessoa perseverante pode superar grandes desafios. O tema foi considerado um sucesso de público.

Cinema e literatura caminham juntos

A leitura é a arma utilizada para chamar a atenção dos alunos do coordenador do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), João Rocha. Ele aconselha seus alunos ao hábito de ler e recomenda o livro O Mundo é Plano, de Thomas Friedman, sobre economia internacional, e A Meta – Um Processo de Melhoria Contínua, um best-seller escrito por Eliyahu M.Goldratt e Jeff Cox com mais de 2 milhões de exemplares vendidos no mundo.
O livro A Meta trata do funcionamento de uma indústria e questionamentos sobre o seu funcionamento e de como seria possível solucionar os problemas. O processo de melhoria contínua desenvolvido pelos autores pode ser aplicado em outras organizações.
O livro de Friedman traz uma análise da globalização e mostra o comportamento de países como a Índia e a China e tantos outros que ingressaram na cadeia global de fornecimentos de serviços e produtos. 
A experiência positiva do professor como aprendiz nos cursos de mestrado e doutorado foi bastante enriquecedora. “Fazíamos debates sobre os filmes e livros e isso era um fator motivacional”, comenta. Rocha acredita que a metodologia incrementa o interesse do aluno, embora a Ufrgs não desenvolva nenhum programa específico. 
Rocha, apesar de não utilizar a sistemática do cinema em sala de aula, aposta na pedagogia adotada pelo professor John Keating no longa-metragem Sociedade dos Poetas Mortos, estrelado em 1989 pelo ator Robin Williams.
A história conta que, em meados do século XX, na Welton Academy, em uma tradicional escola preparatória, o professor de literatura aplica seus métodos inovadores para incentivar os universitários a pensar por si próprios criando um choque cultural com a ortodoxa direção do colégio. “Neste caso, são os professores quem deve assistir”, recomenda o coordenador.
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