Eram esperados os dissabores políticos da presidente Dilma Rousseff (PT) no Congresso Nacional. Os parlamentares estavam esperando a oportunidade para dar o troco ao Palácio do Planalto.
A pedra já vinha sendo cantada há algum tempo. Quem não deu muita importância a isso foi a própria presidente da República, talvez não suficientemente informada pela ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), e pelos seus líderes na Câmara dos Deputados e no Senado.
O mais recente e significativo percalço enfrentado pelo governo no Legislativo foi a derrota que o PMDB e outros “aliados” infringiram à cúpula governamental no Senado, ao rejeitar a recondução do protegido da presidente, o petista Bernardo Figueiredo, à presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A primeira consequência é que o trem-bala, entre São Paulo e Rio de Janeiro, classificado de faraônica fantasia por alguns, já aprovado, vai tardar ainda mais para sair do papel.
A vingança parlamentar
As pesquisas indicam que a presidente Dilma se tornou mais popular do que Lula (PT). A base aliada sempre levou em conta a popularidade do ex-presidente porque ele sabia usá-la para afirmar a sua liderança - era um dado da equação do seu poder. No caso de Dilma, é como se os números fossem uma abstração: não impedem os políticos de desafiá-la. Mais a relutância do Palácio do Planalto em autorizar as verbas para as emendas parlamentares, além da recusa do governo de preencher logo as vagas nos escalões superiores da administração federal e não atender os chamados interesses dos aliados de uma dúzia de legendas com interesses difusos, levaram ao confronto. Essa briga entre os dois maiores partidos é vista de duas formas pelo PT: como uma “tensão pré-eleitoral” da ala de oposição do PMDB e uma “injustiça” contra Dilma Rousseff. “É algo totalmente artificial, de uma ala que votou no José Serra (PSDB), vota com a oposição e reclama que não há tratamento do governo”, disse o deputado federal gaúcho Paulo Pimenta (PT), que afirmou que a influência política na escolha de cargos diminuiu.
Utilização da Máquina
Uma herança do ex-presidente Lula que trouxe também a utilização plena da máquina governamental para fortalecer o PT nas eleições deste ano com o objetivo de tirar o PMDB da liderança nas prefeituras do País - hoje 1.177 - é o que coloca a força nacional da sigla de Michel Temer na briga pelos espaços. Para o deputado do PT Henrique Fontana (foto), isso não surpreende. “Lutar para vencer eleições é o que se espera de um partido.”
Segundo ele, o PMDB transferiu o título de um dos seus candidatos mais fortes para Bento Gonçalves para disputar com Roberto Lunelli (PT), que tenta a reeleição. “Mas não fui reclamar com o vice-presidente Temer sobre o PMDB ter tentado retirar os nossos espaços”, comparou.