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Natal

- Publicada em 19 de Dezembro de 2011 às 00:00

Mais consumistas, crianças capricham nas listas de pedidos ao Papai Noel


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Jornal do Comércio
Quando a psicóloga Patrícia Pires Dill sentou ao lado da filha Isabela para, juntas, escreverem uma carta para o Papai Noel, não imaginava que nos próximos minutos iria ver a menina de quatro anos de idade praticamente perder o fôlego. “Ela foi ditando uma série de presentes que desejava ganhar neste Natal, e se empolgou de uma maneira que chegou a faltar o ar”, conta a mãe.
Quando a psicóloga Patrícia Pires Dill sentou ao lado da filha Isabela para, juntas, escreverem uma carta para o Papai Noel, não imaginava que nos próximos minutos iria ver a menina de quatro anos de idade praticamente perder o fôlego. “Ela foi ditando uma série de presentes que desejava ganhar neste Natal, e se empolgou de uma maneira que chegou a faltar o ar”, conta a mãe.
Na lista de pedidos de Isabela, os personagens de desenhos animados e das propagandas veiculadas em canais infantis foram líderes absolutos. Ela pediu uma fantasia da Cinderela, a boneca da Cinderela, a boneca da Mônica, a carruagem da Barbie, o castelo da Barbie, as amigas da Barbie, o príncipe que faz par romântico com a Barbie, e – (ufa) - um ursinho de pelúcia novo, já que o antigo ela doou para o próprio Papai Noel dar de presente para outra criança. “Minha filha fala do Natal durante todo ano e, quando ela enxerga os primeiros enfeites natalinos nas ruas, já coloca em pauta o que quer ganhar de presente”, conta Patrícia.
Gabriel, o filho mais novo da manicure Sônia Avaly Borges, também tem quatro anos e, assim como Isabela, neste Natal almeja um brinquedo de um de seus personagens de TV prediletos. “Ele me pediu o laptop do Batman”, diz Sônia, destacando que o filho é “muito exigente para a idade que tem”.  A frase soa como um elogio. Prova disso é o esforço que a manicure está fazendo para atender ao pedido do filho. “Como é um brinquedo de marca, que custa o dobro do preço dos produtos deste gênero, e também é mais difícil de encontrar, fui obrigada a negociar no local onde vou comprar”, conta. Sônia se refere à forma de pagamento inusitada que ela encontrou para não desapontar o pimpolho, sem precisar usar cartão de crédito. Desde novembro, toda semana ela vai até o estabelecimento e entrega na mão da gerente em torno de R$ 20,00. “Está quase pago. Quando eu quitar, posso finalmente retirar o lap top”, explica a mãe de Gabriel, pontuando que esta é uma demanda antiga do filho e que acredita que ele irá se surpreender com o presente.
Contabilizando dezenas de bonecas, Laura, três anos de idade, entendeu, após uma conversa com seus pais, que as amigas de brinquedo precisavam de roupas novas. “Ao sentar com ela para escrever a lista de pedidos ao Papai Noel, explicamos que não fazia sentido ganhar mais bonecas”, revela a mãe, Rosana Schnorr. “Então, junto conosco, ela chegou à conclusão de que precisava de roupas para as bonecas que já tem”, conta Rosana.
Como a menina gosta muito de mexer em água, concluiu a breve lista com um pedido inusitado. “Ela decidiu também que quer uma pia para lavar louça”, diz a mãe, que é assistente social e tem como hábito conversar sempre, buscando levar a filha ao raciocínio. Mas Laura tem vontade própria, destaca Rosana, citando o exemplo recente da roupa escolhida pela menina em seu aniversário, uma fantasia da Branca de Neve, que “volta e meia ela veste para brincar ou para usar em passeios com a família”.
O que Isabela, Gabriel e Laura têm em comum? Imaginação e estímulo diário da mídia, que impulsiona, cada vez mais cedo, o desejo consumista das crianças. Como eles, milhões de pequenos brasileiros esperam pelo Natal sonhando em adquirir produtos divulgados na televisão e criados a partir dos desenhos animados. “É impressionante, eles sabem os nomes, em qual canal passa, diferenciam os programas e, depois que ganham, em pouco tempo já acham que os brinquedos estão velhos”, diz a manicure Sônia, comparando as atitudes das crianças de hoje com o comportamento dos pequenos das gerações passadas. “Tenho três filhos com mais de 18 anos, e com eles não era assim, não existia esta coisa de escolha e exigência.”

Pais procuram estabelecer prioridades

Sônia recebeu de Gabriel o pedido de um laptop do Batman.MARCELO G. RIBEIRO/JC

O céu é o limite para a variedade de artigos que se abarrotam nas prateleiras das cada vez mais numerosas lojas de brinquedos do País. E, como imaginação de criança não tem limites, a indústria precisa correr para inovar, fornecendo, a cada ano, dezenas de alternativas aos consumidores, não necessariamente baseadas em personagens de desenhos animados. No rol de brinquedos que fogem dos tradicionais, estão instrumentos musicais de porte, como piano de cauda, jogos de categorias como o futebol de mesa, barracas em náilon, piões eletrônicos, bolas que brilham no escuro, entre muitos outros.
Enquanto técnicos da indústria pesquisam, desenvolvem, testam e divulgam informações sobre artigos do gênero, outra corrida leva os pais quase à loucura. Encontrar o que os pequenos querem pode até nem ser uma tarefa difícil, mas levar para casa o produto nem sempre é possível. Isso porque, apesar da economia aquecida nos últimos anos, ainda é caro comprar presente para criança. Qualquer brinquedo com marca e qualidade confiáveis, mesmo que seja a tradicional bonequinha ou uma versão simples de carrinho, não sai por menos de dois dígitos generosos.
A alternativa é tentar explicar às crianças que é preciso estabelecer prioridades, ensina a psicóloga Patrícia Pires Dill, mãe de Isabela (quatro anos). “Quando fizemos os pedidos de Natal deste ano, eu expliquei a ela que a lista estava muito grande e que teria que optar pelas preferências.” A menina chegou a responder que iria “ficar triste e talvez até chorar”, conta Patrícia, mas no final escolheu ganhar a  fantasia de princesa. “Ela gosta de se fantasiar e brincar pela casa”, explica a psicóloga, garantindo que vai dar o presente. “Mas o resto dos brinquedos que ela quer são muito caros, e sei que ela não irá cuidar, nem dar o valor que têm”, diz Patrícia, ressaltando que, no futuro, pode vir a fazer um esforço para comprar os brinquedos mais caros. “Eu ensino ela a doar tudo o que não usa mais, busco evitar que ela fique consumista, tento fazê-la pensar em outras coisas, entender o significado do Natal ”.
A psicóloga acredita que pelo fato de as crianças deste século serem criadas dentro de casa, “muito enclausuradas”, a diversão acaba sendo os desenhos animados. “Quase não existe mais brincadeira de rua. Antes, a bicicleta e o skate eram os brinquedos prediletos, mas hoje a interação das crianças é com universo de videogame e outros entretenimentos mais isolados”, argumenta Patrícia. Ela pontua que, com a mídia influenciando, é natural que os pequenos acabem tendo um pensamento mais consumista. “A televisão mexe com a imaginação da criança, é muita informação, sempre lançando produtos novos. As propagandas coloridas estimulam o desejo”, completa a manicure Sônia Avaly Borges, mãe de Gabriel (quatro anos), que garante prorrogar “o que pode” em atender as demandas do filho.

Empresas inovam para atrair os pequenos

As indústrias de produtos voltados ao público infantil pesquisam muito o comportamento familiar dos brasileiros, para que possam desenvolver produtos ideias. Dentro deste contexto, a Phisalia Produtos de Beleza, que “concentra esforços em ouvir e interpretar o que querem seus consumidores”, criou uma embalagem que conversa com a criança, para os itens da linha Trá lá lá Kids.
“A rotulagem tem um grande teclado musical, e traz os personagens Meg e Bil em traço 3-D, em alusão ao videogame”, explica a gerente de marketing da Phisalia, Francis Canterucci. Outro item, o kit de xampu e condicionador Caixa Cantante, toca a música tema do Trá lá lá ao ser aberto. “Abusamos do poder criativo, de transmitir com imagem e som o conceito do desenho, possibilitando a diversão no banho, que tem tudo a ver com brincar e cantar no chuveiro”, destaca a gerente de marketing.
Somando 36 anos no mercado, a marca de higiene, limpeza e beleza infantil busca constantemente criar produtos que atendam aos quesitos de segurança e qualidade almejados pelos pais, mas sempre cativando a atenção das crianças, revela Francis. “É preciso inovar para se manter competitivamente ativa na área.” A gerente de marketing afirma que os pais de hoje fazem verdadeiras manobras para comprar e atender aos pedidos dos filhos. “As crianças passaram a ser o centro das atenções da família, e a opinião delas conta na hora da decisão, coisa que não acontecia no passado”, avalia.
Há quem defenda que a evolução do quadro social da família, com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, não somente alterou os hábitos de costumes, mas trouxe uma sensação de ter que compensar a ausência nas relações com presentes para as crianças. Além disso, a necessidade de inclusão social dos públicos das classes menos abastadas estaria levando os pais a comprar produtos de marca, buscando possibilitar a aceitação dos filhos pelos grupos de amigos.
“Os pais fazem o que podem para suprir a demanda dos filhos, principalmente as famílias de poder aquisitivo um pouco menor, mas com boa informação, que procuram acompanhar as tendências”, concorda a supervisora da rede Del Turista, Beatriz Mayer. Ela observa que o fato de crianças de até seis anos de idade ainda acreditarem em Papai Noel facilita a “vaquinha” entre pessoas da mesma família para a compra de brinquedos com mais tecnologia e voltados ao desenvolvimento,  que custam mais caro. “É uma alternativa que funciona bem para o bolso dos pais e promove a alegria dos pequenos”, garante.

Exigência dos pequenos inclui escolha das marcas

Segundo dados da pesquisa Multi da Abihpec, 36% das crianças de dois a 10 anos já solicitam suas marcas de preferência. Seja pelo fácil acesso à informação ou pela redução do tempo de permanência dos pais com os filhos, analistas confirmam uma crescente influência dos pequenos na decisão de compra dos pais. Para se ter uma noção do crescimento deste mercado, só neste ano, de acordo com o Ibope, o consumo de artigos infantis deve movimentar R$ 26,2 bilhões no Brasil.
As prateleiras de uma loja de brinquedos são um ótimo termômetro para mostrar o que agrada ao público infantil e aquilo que não chama a atenção das crianças. Para definir quais produtos expor, empresários do ramo ficam atentos aos números de venda, buscando identificar em quais áreas devem continuar apostando e quais segmentos devem ser descontinuados.
 “Analisamos o comportamento das crianças nas lojas e também os itens que prendem mais a atenção delas, assim conseguimos detectar as preferências deste público”, revela o gerente comercial da PB Kids, Renato Floh. Segundo ele, os brinquedos que povoam o imaginário infantil nos dias de hoje são, sem dúvida, ligados aos lançamentos de cinema e desenhos animados. “Os mais desejados entre as crianças são Toy Story, Transformers, Barbie, entre outros.” Floh também acredita que a mídia tem uma grande influência nas decisões dos pequenos. “Mas, além disso, as preferências dos amigos contam muito e pesam no momento da escolha”, completa.
Conectada ao mercado mundial de brinquedos, a PB Kids busca disponibilizar os últimos lançamentos de mercado. Este ano, as grandes apostas para o Natal são as bonecas que agem como gente. A linha Meus Travessos traz personagens que interagem com as crianças e falam dezenas de frases. “Brinquedos tecnológicos, como helicópteros e carrinhos de controle remoto, continuam entre os preferidos dos meninos. Jogos repaginados como o Super Jogo da Vida e Detetive 3D prometem repetir a dose de sucesso do Dia das Crianças”, opina o gerente comercial.
Apesar de ser uma das líderes de mercado, a boneca Barbie anda perdendo espaço, na visão da supervisora da rede Del Turista, Beatriz Mayer. “O grito da moda entre as meninas de cinco a 12 anos são as Monster High, da Mattel, umas bonecas filhas de monstro, muito feias, mas extremamente modernas.” Na opinião de Beatriz, o produto agrega pela proposta de aceitação das diferenças na sociedade, uma vez que as bonecas monstro se destacam pela “sabedoria, inteligência, postura, hábitos e roupas diferentes.”
A supervisora da Del Turista frisa que, como a maioria dos brinquedos, as Monster High estão na mídia. “E isso faz com que as crianças saibam o que querem já aos três ou quatro anos de idade.” Beatriz argumenta que hoje em dia os brinquedos chegam ao mercado com “mais informação que ajuda no desenvolvimento do raciocínio lógico”, como, por exemplo, o novo Banco Imobiliário, que permite compras com cartão de crédito e débito. Existem brinquedos bilíngues para crianças a partir dos três anos. Entre as versões antigas de sucesso, atualmente repaginadas, ela cita o pião Bey Blade, que funciona à base de pilha, permitindo pontuações a cada rodada e iluminação durante o giro. “É um brinquedo bem saudável, que estimula a agilidade, concentração e ajuda no desenvolvimento”, opina.
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