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mercado de trabalho

- Publicada em 31 de Outubro de 2011 às 00:00

Dinamismo marca mudanças nas profissões


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
No século XXI, ocupações não desaparecem. Transformam-se, são incorporadas por outras ou mudam de nome. Também há o grupo de novas aptidões. Algumas estão na fila à espera da inclusão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), como a de turismólogo, que deve ganhar impulso com eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 e ingressará no dicionário do mundo do trabalho nacional em 2012. O bancário, por exemplo, sobreviveu à enxurrada de soluções tecnológicas, mas não é o mesmo de 30 anos atrás. Outros ofícios conservam a originalidade, como alfaiate e ourives, testando a massificação dos produtos na era pós-industrialização e da mutação de hábitos. Aposentou-se a máquina de escrever, e o datilógrafo virou digitador.
No século XXI, ocupações não desaparecem. Transformam-se, são incorporadas por outras ou mudam de nome. Também há o grupo de novas aptidões. Algumas estão na fila à espera da inclusão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), como a de turismólogo, que deve ganhar impulso com eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 e ingressará no dicionário do mundo do trabalho nacional em 2012. O bancário, por exemplo, sobreviveu à enxurrada de soluções tecnológicas, mas não é o mesmo de 30 anos atrás. Outros ofícios conservam a originalidade, como alfaiate e ourives, testando a massificação dos produtos na era pós-industrialização e da mutação de hábitos. Aposentou-se a máquina de escrever, e o datilógrafo virou digitador.
Foi justamente no segmento da tecnologia que emergiram as profissões do futuro, como engenheiro mecatrônicos, que atuam no desenvolvimento de chips, cobiçados pela fábrica do Ceitec, na Capital. A CBO também registra uma superpopulação de tecnólogos, que somam quase 30 desde 2008. “São tantos que não conseguimos rastrear todos ainda”, surpreende-se a chefe de divisão da CBO, Cláudia de Carvalho Paiva, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No Brasil, o dicionário das atividades reconhecidas, que é atualizado anualmente, somou em 2010 quase 2,5 mil ocupações, que se ramificam em mais de 7 mil títulos sinônimos (uma ocupação acaba tendo as funções incorporadas por outras).
Na faxina coordenada por Cláudia em 2002, depois de 20 anos sem maiores alterações, constatou-se que havia até 30 mil titulações. “Muitos nomes de cargos ou funções só interessavam às empresas. Não tinha sentido manter engenheiro sênior, junior...”, justifica. Na atualização, o MTE se ajustou aos parâmetros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e afinou os registros às mudanças da forma de fazer o trabalho. Segundo a responsável, foram feitas mais de 7 mil entrevistas para formatar a genealogia das ocupações. “Fomos ao interior e detectamos que algumas atividades se mantêm, mesmo com todos os avanços da tecnologia. Não podemos excluir da CBO, já que ainda existe quem faz; no máximo, mudar o título.”

As persistentes tesouradas de um barbeiro

Barbeiro como antigamente está em extinção, avisa o veterano Almeri Martins Velho, que aluga uma cadeira em um dos salões mais disputados instalado na Rua Andrade Neves, Centro Histórico da Capital. Para Velho, 79 anos e desde os 13 anos no ofício, a atividade não é a mesma de um cabeleireiro, que faz cursos profissionais em escolas como a do Senac. “Muitos chegam aqui e temos de mostrar como faz.” Barbeiro como Almeri não tem diploma, pois frequentou a escola dos barbeiros mais velhos. No caso do profissional mais antigo do salão, o professor foi um barbeiro muito popular em São Leopoldo, com quem o quase octagenário se formou na arte de fazer cabelo, barba e bigode. “O segredo é a mão firme”, ensina. “Quando não conseguir mais, fico em casa”, garante.
O veterano bem que tentou deixar de lado a ocupação. Há cinco anos decidiu se aposentar. “Fiquei oito meses sem fazer nada. Um dia cansei. Não consigo ficar longe da tesoura”, conta, admitindo que a procura pelo serviço não permite inatividade antes da hora. Menos ainda da ferramenta, a mesma que o acompanha há 40 anos. No salão, a renda mensal não passa de R$ 1,5 mil, descontando o aluguel da cadeira, de R$ 250,00 por semana. “Vem homem, mulher. O corte varia de R$ 12,00 (com máquina) a R$ 22,00.” O estabelecimento funciona de domingo a domingo. “O movimento era bem maior. É que hoje tem muito cabeleireiro.”
Vizinho de cadeira, o barbeiro Donato Martins, que aprendeu a profissão com o pai, não tem preconceito e se rendeu aos cursos para não perder espaço para a concorrência do lado de fora. “Faço escova e cortes da moda para mulheres”, propagandeia Martins.   

Gerações de alfaiates renovam ofício secular

Alfaiate não tem escola, tem antecessor. Divo Lannes, 84 anos, e o novato Bernardo Both, 29 anos, se conheceram em outubro e traçaram os pontos que unem os artífices deste ofício que resiste à enxurrada da confecção cosida nas linhas de produção com mais intensidade desde os anos de 1960. Os dois tiveram professores exímios. Lannes aprendeu a identificar as virtudes de um bom tecido, como cortá-lo e moldá-lo ao corpo do cliente com um alfaiate italiano que residia em Uruguaiana. Chegou a atuar em Buenos Aires. Both deu os primeiros passos com o avô aos nove anos e só há três anos decretou independência, após um longo estágio com outro profissional.
Já que a industrialização não exterminou com essa ocupação, que experimenta uma revitalização sob medida, o profissional veterano, com seu atelier em um edifício na movimentada Rua dos Andradas, dá conselhos ao jovem, cuja missão é perpetuar a aptidão. “Se eu tivesse a tua idade me dedicaria às encomendas femininas. As mulheres buscam cada vez mais a alfaiataria para se vestir e querem sempre usar uma roupa diferente por dia”, resume o atento Lannes. Both já detectou a tendência e traçou sua estratégia. Em pouco tempo abrirá um negócio unindo costura e venda da matéria-prima, dos tecidos importados que enobrecem casas italianas e paulistanas aos aviamentos. “Já tenho tudo planejado”.
Para a coordenadora nacional da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lúcia Garcia, que cresceu em meio a carretéis, linhas e fitas métricas do pai alfaiate, o segredo para perpetuar a ocupação secular pode estar justamente na segmentação. Lúcia lembra que a característica marcante nessas atividades é a baixa escala e uma operação familiar. A tarefa, acrescenta a especialista, é quase inglória. Ao melhor estilo do chamado mercado de ocupação por conta própria, que mantém sua fatia de 15%, ou 2,5 milhões de postos de trabalho em regiões metropolitanas, as mesmas mãos cortam o tecido, costuram e passam o traje.
Lúcia justifica que a remuneração não é elevada e se dilui em poucos integrantes. “Já tive oito pessoas trabalhando comigo, mas tive de reduzir”, contrasta Lannes, que registra uma escassez a quem, como Both, ambiciona crescer. “É muito difícil achar um oficial - que é o costureiro de alfaiate”, preocupa-se. O jovem concorda que a ocupação é cada vez mais rara e orgulha-se de ainda cuidar sozinho do feitio das encomendas. “Levo até três dias para fazer um terno.”

Joias raras e exclusivas diferenciam a arte de ourives

O rio-grandino Paulo Luis de Boer da Silva ostenta um anel de ouro 18 quilates com uma pedra. “Ela tem filetes de ouro em seu interior. Veja como é preciosa”, orgulha-se o ourives e designer de joias. Para o proprietário da relojoaria, fincada há mais de 50 anos na rua Andrade Neves, a poucos metros da barbearia de Almeri Martins Velho, a velocidade e a reprodução em massa de peças promovidas pela indústria não conseguem o mesmo acabamento e originalidade de sua criação. Mas ameaça sim o negócio, já que são peças que se multiplicam rapidamente e chegam aos pontos de venda de redes que conseguem brigar por consumidores usando condições de financiamento imbatíveis. “Não posso seguir a mesma estratégia”, confronta.
Boer tem clientela cativa, que busca uma peça exclusiva e paga o preço que vale, remunerando a arte do design e a forma artesanal de elaboração. Uma peça pode levar até três dias para ficar pronta. Ele hoje se dedica mais ao negócio do varejo, mas quando veio da cidade natal para se instalar na Capital, moldava o metal. Outra dificuldade que afeta este segmento é a escassez de ourives. Boer tem seu próprio artesão há 15 anos e tem receio de perdê-lo. “É uma atividade que está em extinção”, constata.
Cláudia Paiva, chefe da divisão da CBO, cita que na revisão do código atividades de artesãos também foram incorporadas, como ceramista, tecelão e moveleiro. A diversidade cada vez domina mais os registros, ressalta a coordenadora. “O número de ocupações cresceu 17% entre 1982 e 2002”, contrasta.

Afiador de facas desafia o tempo

Schoereder deixou a bicicleta de lado, mas não abandonou a mobilidade.MARCELO G. RIBEIRO/JC

O único teste que Danilo Domingues de Matos não consegue passar é o do clima. Se chove, o apito do afiador de facas para de soar em bairros como Petrópolis, Higienópolis e Chácara das Pedras, em Porto Alegre. O prejuízo é de Matos, que deixará de ganhar R$ 5,00 por ferramenta submetida ao seu esmeril. A ocupação mostra, por outro lado, que é à prova do tempo. O ofício de amolar utensílios domésticos sob duas rodas percorre décadas e resiste à concorrência de chaveiros ou mesmo à oferta de materiais quase descartáveis. Permite-se até uma atualização, pois desde 2002, o nome oficial na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) é afiador de cutelaria, ajustando-se à diversidade do segmento.
O amolador estreou há 12 anos na atividade, que conheceu na Capital, depois de deixar Porto Xavier, na fronteira com a Argentina, onde era agricultor. “Aprendi com um tio e um amigo”, contou. Aos 36 anos, Matos hoje não cogita trocar de ramo, “só se aparecer algo melhor”, e admite que é cada vez mais raro tipos como ele. A jornada vai das 9h às 16h. “Saio de casa, na Vila Dique (atrás do aeroporto Salgado Filho), e faço um bairro a cada dia, de domingo a domingo”, descreve. O trajeto supera 22 quilômetros diários. O preço é de R$ 5,00 para afiar faca, alicate de tirar cutícula ou tesoura. “O mais difícil é o alicate. A lâmina é muito fina. Se erro não tem volta”, justifica.
“Ó o afiador, ó o amolador”, repete após cada apitada, pedalada a pedalada. É comum ele ser parado na via por um transeunte mais jovem curioso para saber o que é a parafernália adaptada à bicicleta. No verão, Matos migra para o Litoral Norte, faturando com clientes de Tramandaí a Torres.
Já o afiador Leo Schoereder deixou um pouco de lado a bicicleta e abriu uma oficina em um ponto fixo na zona Sul da Capital. “Dá mais retorno”, explica. Na Semana Farroupilha, Schoereder acampa no Parque Harmonia, onde acerta o fio de 1,7 mil facas. Agora ele planeja percorrer o bairro Restinga. “São 200 manicures atuando por lá”, anima-se.

Turismólogo está à espera do registro

Cinthia aguarda reconhecimento da profissão em classificação oficial.FREDY VIEIRA/JC

A demanda da Copa do Mundo de 2014 deve multiplicar o mercado para os turismólogos, como a porto-alegrense Cinthia Fusquine Verbist. A profissão não é tão nova e identifica os diplomados em cursos superiores de Turismo e Hotelaria, mas ainda não deu entrada na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Cinthia trabalha na Secretaria de Turismo de Porto Alegre, entrou por concurso e está ansiosa para ter o reconhecimento no banco de atividades. “A Copa vai dar um empurrão sim, pois abrirá muitas frentes de atividades que exigirão o conhecimento que só o turismólogo pode oferecer”, aposta a jovem, que enxerga na Capital muitas intervenções que cabem ao profissional, desde o setor público ao privado.
Na área, também já surge a modalidade de tecnólogo, com formação mais rápida e que pode ser alternativa às empresas. “O registro na CBO vai ajudar a valorizar nosso trabalho. Sem isso, acabamos não nos diferenciando de outras ocupações no mesmo setor.” A profissão de Cinthia é o típico caso a que a equipe do Ministério do Trabalho e Emprego está sempre atenta. A classificação precisa ser constantemente atualizada para captar novas demandas e manter calibrados os dados de contratações, pesquisas e indicadores do mercado de trabalho. Censo, Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e Relação Anual de Informações Sociais (Rais) utilizam os códigos. O pior é estar na categoria “Outros”. “O documento tem de estar vivo. Leva um ano para definirmos se uma nova ocupação vai entrar. Precisamos provar que ela tem peso”, diz Cláudia Paiva, chefe da divisão da CBO.

Bancário é uma profissão que se atualiza e resiste

O bancário de 30 ou 40 anos atrás não é o mesmo dos anos 2010, mas continua a ser bancário. O calhamaço de papel com as listagens de correntistas e seus créditos e débitos diários se reduzem hoje a códigos digitais que comandam operações em tempo real. Para a equipe da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), a atividade está na lista dos ofícios mutantes, que mais sofrem o impacto de inovações tecnológicas. “Novos tipos de funções foram incorporadas. O bancário já não é mais aquele que fica atrás do guichê. A função sofreu mudanças sob efeito de concentração de empresas, entrada de instituições estrangeiras e da tecnologia”, elenca Cláudia Paiva, chefe da divisão da CBO.
Herdeira do modelo antigo de funcionamento, a dupla Sérgio Antônio Bordin e Paulo Roberto Todeschini Reis não tem muita saudade do tempo em que o trabalho exigia mais mão de obra. “Ficava até a noite para fechar o movimento do dia”, recorda Reis, cujo banco onde teve o primeiro emprego em 1973 acaba de ser extinto, dentro da concentração e forte ritmo de fusões, outra marca do ramo financeiro nacional dos últimos 20 anos. Agora, compara o empregado do Banrisul, o fechamento ocorre em minutos. O caixa só fica refém das maravilhas da tecnologia quando o recurso técnico não funciona.
Aí entra em cena o colega Bordin, também nativo do começo dos anos de 1970, quando pagamentos, entradas e saídas de valores tinham os dados perfurados em cartões, gênese dos sistemas informatizados que o superintendente da área de TI ajudou a desenvolver e que são o maior valor de qualquer instituição financeira. “As pessoas pensam que é o dinheiro que vale, mas os maiores trunfos de um banco são a segurança e as soluções para efetuar as transações.” Quando o cartão magnético aportou nos guichês e a autonomia dos clientes ganhou maior grau com o autoatendimento, Reis achou que os dias da ocupação estavam contados. Por enquanto, não. Hoje o profissional mais parece um vendedor, só que de seguro, cartões, previdência e crédito. O alívio do caixa é que muitos clientes ainda o procuram para que ele faça o atendimento. “Eles confiam na gente. Espero que isso não mude”, ressalta Reis.

Fonte: Cláudia Paiva, chefe da divisão da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)/

Ministério do Trabalho e do Emprego
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