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comércio exterior

- Publicada em 26 de Outubro de 2011 às 00:00

Em Brasília, gaúchos pedem o fim de barreiras argentinas


MDIC/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
A continuidade da restrição argentina à entrada de produtos brasileiros no país, movimento que assola principalmente as indústrias calçadista e moveleira do Rio Grande do Sul, levou o governo gaúcho, parlamentares e empresários a pressionar a União a adotar medidas contra o vizinho. Reunidos em Brasília com o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Alessandro Teixeira, ouviram a promessa de que será dada continuidade à negociação "diária" com líderes argentinos na tentativa de reduzir o impacto às cadeias afetadas.
A continuidade da restrição argentina à entrada de produtos brasileiros no país, movimento que assola principalmente as indústrias calçadista e moveleira do Rio Grande do Sul, levou o governo gaúcho, parlamentares e empresários a pressionar a União a adotar medidas contra o vizinho. Reunidos em Brasília com o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Alessandro Teixeira, ouviram a promessa de que será dada continuidade à negociação "diária" com líderes argentinos na tentativa de reduzir o impacto às cadeias afetadas.
Para ganhar maior poder de barganha, um levantamento produzido pela Associação das Indústrias de Móveis do
Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) e pela Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) diagnosticando o volume de perdas ao Estado com as barreiras comerciais será produzido e enviado ao Mdic. A elaboração do documento foi acordada durante o encontro, com a proposta de dar mais um argumento ao governo brasileiro nas negociações com a Argentina.
Até agora, cerca de 3,4 milhões de pares de calçados não conseguiriam obter permissão para entrar em solo argentino. Os fabricantes já foram onerados com perda das vendas no Dia das Mães argentino, comemorado em outubro. O receio hoje é que a comercialização para o Natal também seja atingida. "O secretário Teixeira disse que passadas as eleições argentinas, o Brasil iria retomar as negociações com Buenos Aires de forma mais intensa para uma rápida solução nesse contingenciamento de milhões de pares ainda trancados", afirma o diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein.
Apesar da esperança em ver o dilema das diversas exportadoras solucionado, o principal argumento apontado na reunião para que o governo brasileiro não adote medidas mais drásticas é que a balança comercial com a Argentina ainda é bastante favorável ao Brasil, com um saldo de aproximadamente R$ 7 bilhões. O cenário, que dificulta as negociações, porém, não pode ser aplicado ao Rio Grande do Sul e a setores que exportam aos vizinhos cisplatinos. De acordo com o deputado federal Ronaldo Zulke (PT-RS), que participou da audiência, enquanto o Rio Grande do Sul exporta ao país cerca de R$ 1 bilhão, as importações já estão na casa dos R$ 3 bilhões. "Isso exige uma mediação entre o que são os interesses do Estado e esse quadro mais geral do País", afirma.
Apesar de reconhecer que o saldo brasileiro nas vendas com a Argentina é um entrave para liberar a entrada de produtos naquele mercado, o parlamentar demonstra otimismo quanto à persistência do Mdic nas negociações. Ele lembra que o governo brasileiro, ainda que em menor medida, também está impondo restrições a produtos como balas, chocolates e automóveis argentinos.
As sanções brasileiras parecem não ter efeito sobre a cadeia moveleira. A conselheira da Movergs e vice-presidente regional da Fiergs, Maristela Cusin Longhi, calcula que mais de R$ 7 milhões em móveis produzidos no Estado estejam barrados, com licenças que levam, em médio, 136 dias para serem concedidas.
"Isso tem que ser resolvido de alguma forma, precisamos de uma interferência", reivindica Maristela. A dirigente afirma que uma das questões priorizadas durante a reunião em Brasília é a falta do posicionamento argentino em cumprir os acordos comerciais, que segundo ela, não pode ser encarado como um problema pontual.

Em encontro na Argentina, governo local afirma que vai cumprir cota de 15 milhões de pares por ano

O embargo argentino aos produtos brasileiros não foi motivo de agenda apenas no Brasil nesta terça-feira. Deputados do Vale do Sinos foram a Buenos Aires em um encontro emergencial com membros do Ministério da Indústria local. Giovani Feltes (PMDB), João Fischer (PP) e Lucas Redecker (PMDB) foram recebidos pelo diretor de política comercial externa do governo Cristina Kirchner e pelo diretor do Mercosul do ministério industrial argentino. Como resultado do encontro, a promessa de que até o fim deste ano a cota de 15 milhões de pares brasileiros que ingressam no país a cada ano deve estar nas prateleiras do comércio portenho.
O deputado Giovani Feltes revela que "passado o episódio eleitoral, a situação pode, pelo menos, voltar ao normal". Ainda assim, Feltes explica que outras demandas argentinas junto ao governo brasileiro podem interferir nas negociações, principalmente nas cadeias láctea e vinícola. "Eles são sensíveis ao fato de que a indústria calçadista emprega de forma intensiva mão de obra, porém, as coisas têm que ser analisadas num contexto maior", observa. Ou seja, a vantagem brasileira na balança comercial é um empecilho às liberações dos produtos gaúchos.
O parlamentar afirma que apesar da compreensão com a indústria gaúcha, os calçados não estão no centro da estratégia do comércio bilateral, e que os argentinos estão levando em conta outros fatores e setores para arquitetar os próximos passos. "A situação que nos colocaram é que o Brasil é um mercado importante para a indústria argentina, assim como eles para nós, mas isso tem que ser contextualizado", sintetiza. (MB)

Encerramento das eleições pode não ser solução final para entraves

As eleições argentinas serviram como justificativa para o aperto à concessão de licenças aos produtos brasileiros. Na tentativa de emplacar sua reeleição, o governo de Cristina Kirchner estaria se utilizando do embargo para equilibrar as contas entre os dois países. Passado o período eleitoral e reeleita a presidente, a expectativa é que as negociações afrouxem a entrada de calçados, móveis e máquinas agrícolas na Argentina.
O deputado estadual Luis Lauermann (PT) é um dos representantes presentes à audiência com o secretário-executivo do Mdic, Alessandro Teixeira, que acredita na tese. "Esperamos que esse processo de eleição definido contribua para a resolução da negociação", diz. Ainda assim, o parlamentar defende que o governo brasileiro deve agir com mais dureza. "Do contrário, a Argentina fará o que faz há muito tempo, desrespeitando os acordos e não cumprindo com as regras do comércio internacional", acrescenta.
Mesmo vislumbrada pelos representantes brasileiros, a resolução do impasse comercial pode não ser solucionada com o fim do pleito argentino. Estudo desenvolvido pela consultoria argentina Abeceb aponta que além de não amenizar a restrição à entrada de artigos brasileiros, a reeleição de Cristina Kirchner pode acentuar o entrave. Isso porque os principais fatores conjunturais continuam a desfavorecer o país vizinho, que deve intensificar as barreiras para proteger seu mercado.
Um dos motivos apontados pela Abeceb é a relação entre o câmbio e os custos de produção na Argentina. A valorização do real compensava o aumento dos custos internos daquele país. Com a desvalorização do real e produtos brasileiros mais competitivos no mercado vizinho, as fronteiras devem se fechar ainda mais. "A interrupção do processo de valorização do real também vai pressionar negativamente o intercâmbio industrial, ampliando o déficit industrial bilateral", destaca o levantamento. (MB)
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