Jogos de azar apresenta dez contos do grande escritor português José Cardoso Pires, nascido em Peso em 1925 e falecido em Lisboa em 1998, e um dos maiores escritores portugueses contemporâneos. Autor de O hóspede de Job, Balada da praia dos cães e De Profundis, entre outros, José Cardoso Pires teve sua obra traduzida em muitos idiomas e recebeu inúmeros prêmios importantes, como o Prêmio Castelo Branco e o Prêmio Dom Dinis. Jogos de azar, muito aguardado primeiro livro inédito de Pires depois de três relançamentos, traz, sobretudo, narrativas que envolvem a vida de pessoas desocupadas, cidadãos que não têm meios para viver, que convivem diariamente com a penúria, estando a todo momento à mercê do acaso. Pires não está preocupado somente com denúncia social, mas igualmente com a representação em linguagem elaborada das mazelas de sua época. Na apresentação do volume o escritor e jornalista José Castello refere que Cardoso Pires escreve sobre o fio da navalha, avança com cortes secos, aplica golpes certeiros, e nos leva a saltar no tempo e no espaço, nos empurra para um lado e para outro, obriga-nos a suportar sua inquietação. A escritora Inês Pedrosa, por sua vez, falando do colega ilustre, disse que José Cardoso Pires escrevia com a mão precisa de um Christian Barnard e a precisão cromática de um Caravaggio, escapando ao logo infinitamente contido em qualquer ideia geral. Realmente, contando sobre os seres e as coisas aparentemente banais, jogando fora lugares-comuns e mandando para longe o bom senso, José Cardoso Pires, o exímio caçador do banal, segundo José Castello, nos deixou narrativas esplendorosas, mostrando criaturas privadas de realização em momentos importantes. Na orelha da coletânea, Luís Henrique Pellanda diz para o leitor tomar cuidado com o livro, que ele é como uma navalha e que sua lâmina, afiada na década de 1960, ainda corta muito bem, lembrando as palavras do personagem-narrador de Carta a Garcia, que disse: nas navalhas está tudo, realmente: pão e sangue, solidão e amor, morte e liberdade, a navalha não é apenas um instrumento estúpido de destruição, como a baioneta, guardiã obtusa de todo autoritarismo. Na navalha há também dança, capricho e fina engenharia, completa o narrador. Editora Bertrand Brasil, 240 páginas, R$ 29,00, [email protected].
Mensagem de esperança para harmonizar o caos do mundo
Edgar Morin nasceu em Paris em 1921, em família italiana, de ascendência judeu-espanhola. A adolescência foi marcada pelo nazismo, pelo stalinismo e pelas mazelas da Segunda Guerra Mundial. Aos 20 anos, na França, entrou para o Partido Comunista e para a Resistência Gaulista. Depois da guerra, prosseguiu resistindo ao stalinismo, à Guerra da Argélia e a todas as barbáries. Considerado um dos grandes pensadores da atualidade, altamente criativo e original, Morin é autor de obras fundamentais como A Cabeça Bem-Feita, A Religação dos Saberes, O Mundo Moderno, Meu Caminho, Questão Judaica, Cultura e Barbárie e Ciência com Consciência, entre outras, e é doutor honoris causa de várias universidade do mundo. Rumo ao Abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade, ora lançado no Brasil, trata de um tema crucial: a crise mundial da humanidade de hoje e a oportunidade inédita de ver as forças de desintegração e de regeneração se harmonizarem, em benefício das pessoas e dos países.
O embate não parece dar sinais de superação, mas Morin faz a sua parte, propondo releituras de controles do universo, crise cultural, supremacia do progresso e da ciência e de forças do capitalismo globalizado que pretende impor uma uniformidade indesejável. Falando de crise da modernidade, de Iluminismo, da emergência da sociedade-mundo, da cultura e globalização do século XXI, de realismo e utopia, entre outros tópicos de relevo, Morin entende que a tecnociência nunca produziu tanto sobre os enigmas da vida, mas que tornou-se, porém, incapaz de recuperar a visão de totalidade. Morin é contra o conformismo da maioria dos pensadores e propõe reformas da organização social, da educação, da vida e da ética, na busca de pessoas e mundo melhores. O pensador entende que estes quatro movimentos interdependentes e complementares devem ser acionados para renovar o sentido de um futuro equitativo e sustentável, metamorfoseando a sociedade-mundo e restaurando a esperança. Apesar da idade, dos muitos estudos e pesquisas e das experiências, Morin ainda apresenta um otimismo saudável, num planeta onde a intolerância, o caos e os interesses do grande capital parecem dominar a cena. Bertrand Brasil, tradução de Edgar de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco, 192 páginas, [email protected].
e versos
O que foi feito
Isaac Starosta, 2011