Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Trânsito Responsável

- Publicada em 22 de Março de 2011 às 00:00

‘Precisamos mudar a cultura de que a CNH é para todos’


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Jornal do Comércio
A violência sempre esteve presente na vida dos homens, em todas as épocas e dimensões históricas. Entretanto, o trânsito trouxe uma nova espécie de ato violento, no qual o carro é a arma. Porém, não é porque se tem uma arma na mão que se atira. Modos mais prudentes de enfrentar o trânsito não dependem só da capacidade, mas principalmente da índole do motorista.
A violência sempre esteve presente na vida dos homens, em todas as épocas e dimensões históricas. Entretanto, o trânsito trouxe uma nova espécie de ato violento, no qual o carro é a arma. Porém, não é porque se tem uma arma na mão que se atira. Modos mais prudentes de enfrentar o trânsito não dependem só da capacidade, mas principalmente da índole do motorista.
"O trânsito é o cenário explícito de como as pessoas estão vivendo atualmente", acredita Aurinez Rospide Schmitz, diretora do Instituto de Psicologia do Trânsito - Ande Bem. Segundo ela, o dia a dia no tráfego retrata tudo aquilo que o indivíduo sente e não consegue canalizar de forma positiva e saudável: a pressão da rotina, o individualismo, o egoísmo, a falta de consideração e respeito pelo outro. Enfim, estes sentimentos, juntamente com o desequilíbrio emocional, resultam na violência no trânsito.
O egocentrismo, característica que define pessoas que consideram que tudo gira ao seu redor, pode ser uma das explicações para os atos egoístas que presenciamos cotidianamente. "Nossa sociedade sofre um mal-estar marcado e influenciado pela cultura da pressa, do imediatismo, do egocentrismo", explica. Para Aurinez, o trânsito está na contramão de tudo isso, pois nele se espera a tolerância, a paciência e a solidariedade. Assim, os acontecimentos violentos podem ser considerados tanto um sintoma quanto uma consequência.
Desta forma, a personalidade é um dos componentes essenciais para a adequada condução do veículo, sendo ela expressa diretamente no trânsito. A psicóloga afirma que é um conjunto de fatores externos e internos que resultarão em uma determinada atitude. "Quanto mais tranquila e equilibrada for uma pessoa, mais ela vai reagir com tolerância e cuidado diante das situações imprevisíveis no trânsito. Por ele ser constituído de pessoas anônimas, favorece que o descontrole seja expresso, servindo muitas vezes de válvula de escape das suas frustrações."
A necessidade de um condutor no mínimo equilibrado nos faz pensar na qualidade dos testes feitos para se conseguir uma habilitação, nos Centros de Formação de Condutores (CFCs) e como eles conseguem diagnosticar essas características. "Em primeiro lugar devemos mudar a cultura de que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é para todos os cidadãos. Nem todas as pessoas têm condições para dirigir e isso ainda é muito difícil de os cidadãos entenderem", pondera Aurinez.
Os testes aplicados hoje para a obtenção da CNH deveriam servir como uma avaliação real e confiável do futuro condutor. Entretanto, a avaliação é feita apenas num momento específico da vida deste indivíduo, o que impede o acompanhamento de sua saúde mental. Sinara Cristiane Tres, presidente da Comissão de Trânsito e Mobilidade Humana do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS) e psicóloga do Detran/RS, explica que todos os testes realizados nos CFCs passam por uma criteriosa análise. "Para serem aprovados, os testes precisam provar, através de pesquisas qualitativas e quantitativas, cientificamente, que eles avaliam o que se propõem. Se os psicólogos utilizarem essas técnicas, realmente estarão avaliando o condutor", esclarece. Mas ela também acredita que as avaliações deveriam ser refeitas periodicamente.
Outra questão que pode levar ao questionamento da qualidade das avaliações é a quase nula possibilidade de um condutor não passar na prova. A psicóloga do Detran/RS admite que hoje é muito difícil alguém ser reprovado. "Claro que diversos fatores influenciam. Por exemplo, a pessoa, para buscar uma carteira de habilitação, já tem algumas condições psicológicas que outras pessoas não têm", defende. Segundo ela, pessoas com transtornos psicóticos, transtornos mais graves, não têm nem a condição de tentar fazer a carteira. "Existem os inaptos temporários. É uma situação em que a pessoa recebe o resultado com uma inaptidão temporária, para fazer um tratamento, e, posteriormente, ela volta para uma nova avaliação e recebe um resultado apto, ou apto com validade", completa.
Vale lembrar que, em 2002, o Conselho Federal de Psicologia lançou uma resolução prevendo que a avaliação psicológica de candidatos à CNH e condutores de veículos automotores não poderia mais ser realizada em CFCs ou em qualquer outro local, público ou privado, cujos agentes tenham interesse no resultado dos exames psicológicos, dada sua natureza pericial. A norma não é atendida até hoje.

O comportamento oscilante de quem dirige e a pressão sobre os condutores profissionais

Deivison Ávila
O fator determinante para a boa convivência no trânsito é um só: o motorista e seu comportamento ao volante. Isso vale para os veículos particulares, mas vale também para veículos de uso coletivo.
O comportamento dos profissionais - motoristas de ônibus, táxis e lotações - que transitam diariamente pelas ruas da Capital por muitas vezes é questionado e até mesmo hostilizado no dia a dia. Sem perceber o constante estresse enfrentado por profissionais que encaram o trânsito como profissão, condutores de veículos de passeio não se dão conta de que atrás de um volante também está um ser humano. Colocado à prova em dezenas de situações cotidianas, este motorista também comete erros e esquece das leis que devem ser respeitadas.
O Jornal do Comércio conversou com o gerente de Operações da Carris, uma das empresas responsáveis pelo transporte público em Porto Alegre - 22,7% das linhas são de responsabilidade da concessionária -, Marcos Ramos, e com o diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari. Em pauta, o comportamento, as reclamações e como gerir os condutores do transporte público na Capital.
Contrariando o senso geral, no ano passado, em um universo de 72 milhões de pessoas transportadas apenas pela Carris em Porto Alegre, 207 reclamações foram registradas no serviço de atendimento ao cliente. No entanto, esse número não representa o verdadeiro cenário de reclamações referentes a motoristas de coletivos.
No mês de fevereiro, por exemplo, foram levadas até a EPTC 1.345 queixas quanto ao comportamento destes profissionais. Outras 255 foram feitas contra condutores de lotação e 253 referentes a taxistas.
De acordo com Cappellari, dependendo da reclamação, a EPTC solicita a presença do permissionário que responde pela empresa, para que ele fique a par do que está ocorrendo. Caso seja reincidente, ou dependendo da gravidade do relato, o funcionário é encaminhado para um acompanhamento psicológico e social, a fim de que a origem do problema seja diagnosticada. Em relação aos permissionários de táxis e lotações, os condutores são convidados a comparecer pessoalmente para averiguação da notificação. "A EPTC conta com uma equipe especializada em disciplina, que realiza todo esse processo de acompanhamento da reclamação, desde a averiguação da veracidade do fato, a identificação do ocorrido até a devida punição", explica Cappellari.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO