Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

CONJUNTURA

- Publicada em 04 de Março de 2011 às 00:00

PIB cresce 7,5% e tem maior alta desde 1986


MARCELLO CASAL JR/ABR/JC
Jornal do Comércio
O crescimento de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 foi o maior desde 1986, segundo dados divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quando o índice também cresceu 7,5%. Em 2009, ano em que a economia brasileira enfrentou os efeitos negativos da crise global, o PIB do Brasil mostrou queda de 0,6% em relação a 2008. A soma das riquezas geradas no ano passado chegou a R$ 3,675 trilhões.

O crescimento de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 foi o maior desde 1986, segundo dados divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quando o índice também cresceu 7,5%. Em 2009, ano em que a economia brasileira enfrentou os efeitos negativos da crise global, o PIB do Brasil mostrou queda de 0,6% em relação a 2008. A soma das riquezas geradas no ano passado chegou a R$ 3,675 trilhões.

No quarto trimestre do ano passado, em relação ao trimestre anterior, o PIB do Brasil registrou aumento de 0,7%. Economistas esperavam um crescimento entre 0,24% e 1,20% no período, sendo que a mediana das projeções apontava alta de 0,80%. Na comparação com o quarto trimestre de 2009, o PIB apresentou alta de 5% no quarto trimestre do ano passado. Neste caso, as projeções de alta variavam de 3,9% a 6,1%, com mediana de 5%.

O IBGE revisou de 2,1% para 2,5% o crescimento do PIB do quarto trimestre de 2009 ante o terceiro trimestre de 2009. O instituto anunciou ainda a revisão de 2,3% para 2,2% a expansão do PIB no primeiro trimestre de 2010 ante o quarto trimestre de 2009, enquanto o crescimento do PIB no segundo trimestre de 2010 foi revisado de 1,8% para 1,6% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Já a expansão do PIB no terceiro trimestre de 2010 passou de 0,5% para 0,4% ante o segundo trimestre do ano anterior.

O crescimento da indústria, do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo no PIB foi recorde em 2010, segundo dados divulgados pelo IBGE. Em relação a 2009, a expansão de 10,1% da indústria no ano passado foi a maior da série histórica iniciada em 1996, quando o instituto mudou a metodologia de cálculo do índice. Já o consumo das famílias atingiu uma alta recorde de 7% e a formação bruta de capital fixo de 21,8%.

A alta de 7,5% no PIB em 2010 ante 2009 foi norteada pelo avanço no consumo das famílias, segundo o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Luis Olinto Ramos. O especialista lembrou que o consumo das famílias cresceu 2,5% no quarto trimestre de 2010 ante o terceiro trimestre; e avançou 7,5% na comparação com o quarto trimestre de 2009. Em 2010, o consumo das famílias cresceu 7% ante 2009, o sétimo ano consecutivo de aumento. "O consumo das famílias respondeu por 60,6% do PIB em 2010", afirmou. "Na evolução trimestral, foi o 29º trimestre de crescimento consecutivo", acrescentou.
Na avaliação de Olinto Ramos, o consumo das famílias em 2010 foi influenciado positivamente pelos bons sinais mostrados pelo mercado de trabalho, como crescimento do emprego e da massa salarial real. "Além disso, também tivemos no ano passado o incentivo de redução do IPI em alguns produtos", disse ele, lembrando os benefícios de redução e de isenção fiscal promovidos pelo governo para estimular o consumo do mercado interno no cenário pós-crise global. "Quem explicou mais o crescimento de 7,5% do PIB foi a demanda interna", afirmou.
O PIB per capita do Brasil somou R$ 19.016,00 em 2010. De acordo com o instituto, este desempenho do PIB per capita em volume em 2010 foi 6,5% acima do apurado em 2009.

Crescimento foi de 4% na gestão Lula e 2,3% na de FHC

A elevação do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,5% em 2010 gerou uma média de expansão de 4% nos oito anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010), marca superior ao crescimento médio de 2,3% na gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), segundo o economista da MCM Antônio Madeira. "O sucesso de Lula foi construído muito por aquilo que ele não fez: ele manteve os princípios básicos da gestão da política econômica da era FHC, como o câmbio flutuante, regime de metas de inflação e redução da dívida pública interna com a geração de superávits primários", comentou.

Do ponto de vista da análise econômica, Madeira disse que não é possível dizer que a era Lula foi melhor para o País do que os oito anos do governo FHC. Ele lembrou que muitas mudanças estruturais foram feitas na gestão tucana, como o saneamento de bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa, a renegociação da dívida dos estados, que gerou a Lei de Responsabilidade Fiscal, e a privatização em vários setores, como o de telecomunicações, energia e empresas do setor siderúrgico. Antes de ser eleito presidente, FHC, quando ocupava o Ministério da Fazenda, coordenou a criação do real em 1994.
Segundo Madeira, Lula deu continuidade ao processo de melhora da economia, pois manteve o combate à inflação como prioridade, o que elevou a previsibilidade da economia, aumentou o horizonte de planejamento das empresas e estimulou a concessão de crédito pelo sistema financeiro. "E além de manter o câmbio flutuante, o ex-presidente Lula manteve a geração de superávits primários expressivos, o que ajudou a reduzir a dívida pública interna."

Para Mantega, Brasil já é a 7ª economia do mundo

No embalo do crescimento de 7,5% na produção de todos os bens e serviços que compõem o Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2010, o Brasil passou a ocupar a sétima posição entre as maiores economias do mundo, superando França e Reino Unido. A subida no ranking foi comemorada na quinta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A meta do governo Dilma Rousseff é concluir o seu mandato com o Brasil na quinta posição.

O cálculo do ministro sobre a posição brasileira é baseado no critério de Preço, Paridade e Poder de Compra (PPP), utilizado normalmente pelos economistas levando em consideração os diferentes custos de vida e taxas de inflação dos países, ao invés de apenas converter os valores em moedas locais para uma comum, como o dólar. Mantega afirmou que os dados são preliminares, calculados pelo governo brasileiro. Mas a estimativa vai de encontro aos rankings elaborados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela Central de Inteligência Americana (CIA) que, utilizando projeções para o ano de 2010, já colocavam o Brasil no sétimo lugar mundial segundo este critério. Em ambas as classificações, o País fica atrás - na ordem - de Estados Unidos, China, Japão, Índia, Alemanha e Rússia.

No entanto, quando considerado o PIB nominal do País convertido em dólares, o Brasil ocupa a oitava posição em 2010, tanto na lista do FMI quanto da CIA. Por esse critério, as economias francesa e britânica ainda são maiores que a brasileira, ocupando a quinta e a sexta colocações, respectivamente. Além disso, pelo ranking nominal, o País está à frente da Índia e da Rússia, mas ainda é ultrapassado pela Itália. Se considerado o PIB nominal per capita, o Brasil despenca em todos esses rankings. Segundo as projeções do FMI, o País ocupa a 55ª posição nesse critério, enquanto para a CIA estaria na 60ª.

Mantega afirmou ainda que o Brasil ajudou outros países a saírem da crise financeira por meio do aumento das suas importações. Ele destacou que as compras internacionais subiram 36,2% em 2010, ante uma alta de 11,5% nas exportações. Segundo o ministro, essa disparidade reduziu o superávit comercial do País.

"Como o Brasil cresceu acima da média dos outros países, importou mais. Por isso, o Brasil ajudou os outros países a saírem da crise", disse. Mantega afirmou que o mercado interno robusto dá dinamismo à economia brasileira, sendo acompanhado do crescimento recorde do emprego. Segundo ele, o Brasil teve o quinto maior crescimento do grupo de países que compõem as 20 maiores economias do mundo (G-20), atrás de China, Índia, Argentina e Turquia.

‘Pibão foi bom', mas não vai se repetir, projeta a presidente

A presidente da República, Dilma Rousseff, comemorou o crescimento de 7,5% do PIB. "O pibão foi bom", afirmou a presidente. Ela avaliou que o percentual estava dentro do que o governo esperava, mas previu que nos próximos anos o crescimento não será tão acelerado. A presidente acredita que o País crescerá a uma taxa de 4,5% daqui para frente e fez questão de dizer que o governo continuará trabalhando para que a inflação não saia do controle.

Para Dilma, o governo aumentou a capacidade para que o País cresça e isso permite que o Brasil se expanda e aumente seu dinamismo. "Estamos fazendo agora uma consolidação fiscal porque, para nós, o controle da inflação é uma das questões mais importantes e é uma conquista que o povo brasileiro, ao longo dos últimos, obteve. Não vamos deixar, de maneira alguma, a inflação ficar fora de controle."

A presidente disse que um dos instrumentos eficazes de combate à inflação é a capacidade de crescimento do País. Por isso é importante, na avaliação dela, aumentar a capacidade de investimento para que o crescimento ocorra com estabilidade.

Já o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, declarou que o desempenho do PIB no ano passado confirma que "a economia brasileira entrou em um novo ciclo de expansão", após a rápida recuperação dos efeitos da crise financeira de 2008/2009. Em breve nota, ele destacou que "a demanda doméstica continuou sendo o grande suporte da economia".

A autoridade monetária chamou atenção ainda para a formação bruta de capital fixo, um indicativo de investimento, que teve alta de 21,8% no ano passado. O IBGE destacou que foi a maior taxa acumulada em quatro trimestres da série iniciada em 1996. O resultado, observou o BC, "sugere que o empresariado nacional está confiante nas perspectivas para a economia brasileira neste e nos próximos anos".

Sérgio Guerra diz que não é possível comemorar alta do PIB

O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), divulgou nota oficial em que analisa o crescimento do PIB. "Infelizmente, não podemos comemorar o crescimento do PIB como deveríamos. Os 7,5% seriam uma boa taxa de crescimento se os problemas estruturais da economia brasileira não estivessem aparecendo", criticou o dirigente tucano.

Guerra destaca os "gastos excessivos feitos nos últimos anos", afirma que os "juros foram para as estrelas" e que os "cortes em investimentos e programas sociais anunciados até agora não passam de espuma". Para o pernambucano, outros cortes terão de ser feitos. Ele arremata lembrando do candidato tucano derrotado na eleição presidencial: "José Serra chamou a atenção para o estelionato eleitoral que se aproxima. Tem razão", concluiu.

Extrativismo mineral puxa desempenho da indústria

O crescimento recorde de 10,1% do PIB da indústria em 2010 foi influenciado pelo bom desempenho da extrativa mineral e de setores que se beneficiaram do aumento das linhas de crédito, como a construção civil e a indústria de transformação. O segmento extrativo mineral apresentou um incremento de 14,8% sobre 2009, influenciado pelo minério de ferro, que registrou um aumento superior a 100% no ano passado.

Já o aumento do crédito foi o principal componente a puxar a alta de 6,2% da construção civil. O crédito beneficiou ainda a indústria de transformação, que responde por 58% do PIB. Segundo o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, a maior oferta de linhas de financiamento para bens de capital contribuiu para aumentar a produção de máquinas e equipamentos e da indústria automotiva.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os crescimentos do Produto Interno Bruto (PIB) em 7,5% e de 10,1% no PIB industrial em 2010 são resultados expressivos e que devem ser comemorados. Ainda assim, a entidade expressou preocupação quanto à retração da atividade industrial no segundo semestre de 2010. "A CNI observa que a trajetória do desempenho recente da indústria deve ser encarada pelas autoridades econômicas do País como um alerta", destacou a entidade em nota.

A CNI ressalta que "o PIB da indústria recuou 0,3% no quarto trimestre de 2010, diante do terceiro trimestre do mesmo ano. Foi a segunda queda consecutiva da atividade industrial do País. No terceiro trimestre, o PIB da indústria caiu 0,6% em relação ao segundo". Segundo a entidade, essa retração deve ser levada em conta pelo Banco Central na condução de sua política de combate à inflação.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também alerta para o risco da desaceleração do setor, consequência, segundo ele, das medidas de contenção do crédito adotadas pelo governo em dezembro e do aumento da taxa básica de juros. "O Brasil corre o risco de perder mais uma vez uma grande oportunidade de crescimento", afirmou. "É provável que o PIB nacional em 2011 fique entre 3% e 4%. E o crescimento industrial pode estagnar entre 2% e 3%. Isso é lastimável", projetou o industrial.

Formação de capital fixo tem elevação recorde de 21,8%

A variação recorde da 21,8% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em 2010 ante 2009 refletiu forte interesse dos produtores de elevar sua capacidade produtiva, direcionando seus gastos na compra de máquinas e equipamentos, nas palavras do coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Luis Olinto Ramos. Ele comentou que, dentro da FBCF de 2010, 55,2% foram originados de máquinas e equipamentos.

"O que podemos perceber aí é um gasto relacionado a investimentos, e também relacionado a gastos habitacionais. Mas pelo que podemos observar, é possível dizer que os produtores estão aumentando sua capacidade produtiva, ou aproveitando para renovar estoques de bens de capital", afirmou ele, comentando que, pelo menos em 2010, é possível perceber este interesse por parte dos produtores.
Ele admitiu que o Programa de Sustentação de Investimento (PSI) do Bndes, que oferece financiamento para compra de máquinas e equipamentos e que deve terminar em março deste ano, pode ter ajudado a compor este bom cenário na FBCF em 2010, além de programas de financiamento voltados para a construção civil. Mas preferiu não tecer comentários sobre a sustentabilidade deste movimento em 2011, lembrando que o IBGE não faz previsões.

Exportações subiram 11,5% e importações avançaram 36,2%

As exportações do Brasil cresceram 3,6% no quarto trimestre de 2010 em relação ao terceiro trimestre do ano passado. Em relação ao quatro trimestre de 2009, as vendas externas subiram 13,5%. No acumulado de 2010, as exportações tiveram alta de 11,5% em relação a 2009.

Já as importações contabilizadas no PIB aumentaram 3,9% no quarto trimestre de 2010 ante o terceiro trimestre do ano passado. Em relação ao quarto trimestre de 2009, as importações subiram 27,2%. Em 2010, as importações subiram 36,2% ante 2009.
A contabilidade das exportações e das importações no PIB é diferente da realizada para a elaboração da balança comercial. No PIB, entram bens e serviços e as variações percentuais divulgadas dizem respeito ao volume. Na balança comercial, entram somente bens e o registro é feito em valores, com grande influência dos preços.

Avanço seria maior se os juros caíssem, avaliam centrais sindicais

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) avaliou, em nota distribuída à imprensa, que o crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 seria ainda maior se os juros não fossem tão elevados. "O PIB de 2010 poderia ser ainda melhor e mais exuberante se as taxas básicas de juros não permanecessem na estratosfera - como insiste o Banco Central, haja vista a alta registrada ontem", diz a nota, assinada pela Executiva Nacional da CUT.

Para a entidade, o crescimento do PIB é resultado, e não causa, do fortalecimento do mercado interno, do aumento do emprego com carteira assinada e das políticas públicas. "Se o Estado brasileiro tivesse recuado diante dos reflexos da crise econômica de 2009, como aconselharam diferentes analistas e consultores, e se, naquele mesmo período, o movimento sindical cutista não tivesse resistido às propostas de flexibilização de direitos trabalhistas, o crescimento de 7,5% do PIB em 2010 não teria acontecido", diz a central.
Também em nota, a Força Sindical considerou "alentador" o crescimento do PIB, mas avaliou que a alta seria ainda maior não fossem os "patamares estratosféricos" da Selic. "O crescimento de 7,5% em 2010 irá beneficiar as negociações salariais, que envolvem milhões de trabalhadores, neste semestre, e poderá fomentar um ciclo virtuoso na economia, com o aumento do consumo, da produção e do emprego", disse o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho.
"O PIB poderia ser maior se as taxas de juros estivessem menores. O governo precisa entender que juros em patamares estratosféricos funcionam como uma trava para o setor produtivo. Infelizmente, os tecnocratas do governo insistem em se curvar ao capital especulativo. Somente no início deste governo tivemos duas altas consecutivas da taxa básica de juros", acrescentou.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO