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Coluna

- Publicada em 03 de Dezembro de 2010 às 00:00

Reencontro com Michael Jackson


Jornal do Comércio
O diretor Daniel Colin é, também, o responsável pela dramaturgia de Wonderland e o que M. Jackson encontrou por lá, que reparte com Felipe Vieira de Galisteo. Deve-se mencionar, ainda, o compositor Arthur de Faria pela autoria da trilha sonora, o que o transforma, na prática, em coautor da obra, que cumpriu carreira na Usina do Gasômetro.
O diretor Daniel Colin é, também, o responsável pela dramaturgia de Wonderland e o que M. Jackson encontrou por lá, que reparte com Felipe Vieira de Galisteo. Deve-se mencionar, ainda, o compositor Arthur de Faria pela autoria da trilha sonora, o que o transforma, na prática, em coautor da obra, que cumpriu carreira na Usina do Gasômetro.
Misturar a vida e discutir a importância de Michael Jackson, a partir de algumas referências literárias como Lewis Caroll, Samuel Beckett e J. M. Barrie, misturando Alice e Peter Pan, é, sem dúvida, uma proposta ousada mas que, de modo geral, alcança seus objetivos, em um espetáculo de cerca de duas horas e meia de duração, sempre provocativo, ainda que às vezes cansativo, com múltiplos espaços cênicos e deslocamentos do público, o que muitas vezes atrapalha a visibilidade da encenação.
Discutir Michael Jackson, enquadrando-o num debate em torno da indústria cultural e da massificação, não é só um tema oportuno quanto importante. Na ótica de Colin-Galisteo, que se valeram de extensa bibliografia e filmografia, Jackson teria sido um menino ingênuo e ignorante dos perigos e do preço a ser pago para chegar ao estrelato. Não acho que a tese seja inócua ou desimportante, pelo contrário. O fascínio pela visibilidade e notoriedade sempre se constituiu numa fascinação para o ser humano (basta lermos textos de Locke e Hume a respeito da importância que a imagem e a fama têm para todos nós). Muito mais na contemporaneidade, em que se acrescenta a perspectiva do voyeurismo.
Colin e Galisteo levaram anos para concretizar a ideia. Reuniram um elenco numeroso, alcançaram uma produção complexa e cara, parcialmente financiada pelo Fumproarte, e contraditoriamente realizam um espetáculo que fica restrito, em cada sessão, a apenas algumas dezenas de espectadores. Há uma evidente, mas creio que voluntária, contradição - que na pior das hipóteses permite ao feliz espectador uma proximidade com a encenação que seria impossível num grande teatro, com um palco italiano distante da plateia.
A encenação está equilibrada. A direção de atores de Maico Silveira logrou dar unidade, ritmo e qualificação homogênea a todo o conjunto. A cenarização de Élcio Rossini atravessa espaços divididos por véus. A coreografia de Diego Mac foi bem assimilada por todo o conjunto. Os figurinos de Daniel Lion, com técnicas especiais para os tecidos, de Ana Cláudia Bemarecki, permitiram que o vestuário aderisse aos intérpretes como suas próprias peles, muito colaborando para esta transformação radical dos personagens a maquiagem de Nikki Goulart, os vídeos de Paula Pinheiro, a preparação vocal de Simone Rasslan e a preparação corporal de Tatiana Mielczarski e Rodrigo Marquez.
O público tem um espetáculo cheio, até mesmo com um falso final que, dividido em duas partes, na primeira apresenta a ascensão e na segunda a queda do M. Jackson mencionado no título.
De modo geral, o espetáculo é muito interessante e se sustenta. Contudo, não tenho dúvida em avaliar que poderia ser mais curto, sem perda de qualidade. A concentração evitaria, por exemplo, a evidente dispersão dos primeiros momentos da segunda parte, em que se cai num certo apelo erótico sem maior consequência. Contudo, o grupo reencontra o caminho e o final é sensível e emocionante. Um simples registro não pode dar conta de todas as observações que se teria a fazer em torno do trabalho: o excelente trabalho da contrarregragem, sem o que o espetáculo soçobrasse; o uso da metalinguagem, quer sobre o teatro, quer sobre o próprio personagem; a ironia, o uso da composição musical Smile, quando da derrocada do personagem; do bom trabalho com o sistema coringa de encenação, devido a Augusto Boal, com pelo menos três diferentes intérpretes personificando M. Jackson, e assim por diante.
Seja como for, é um espetáculo a se ver e a se valorizar, obrigatoriamente, uma das mais importantes realizações do ano teatral da cidade, a mostrar a maturidade do grupo e de seu diretor.
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