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Entrevista Especial

- Publicada em 18 de Outubro de 2010 às 00:00

Vitória de Dilma passa por ampla mobilização, diz Vanazzi


CLAUDIO FACHEL/JC
Jornal do Comércio
Desde o início de junho, Ary Vanazzi (PT) acumula as funções de prefeito de São Leopoldo e coordenador-executivo no Estado da campanha de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República. Ele considera bom o trabalho, já que a petista largou com 13% das intenções de voto e em 3 de outubro fez 46% dos sufrágios no Rio Grande do Sul. Apesar da expectativa de vitória no primeiro turno, Vanazzi avalia que o resultado foi positivo. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, ele projeta a reta final da campanha no segundo turno, salientando comparações entre os governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT). Também diz que trabalhará pela mobilização popular que, para ele, é a única maneira de Dilma vencer esta eleição.
Desde o início de junho, Ary Vanazzi (PT) acumula as funções de prefeito de São Leopoldo e coordenador-executivo no Estado da campanha de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República. Ele considera bom o trabalho, já que a petista largou com 13% das intenções de voto e em 3 de outubro fez 46% dos sufrágios no Rio Grande do Sul. Apesar da expectativa de vitória no primeiro turno, Vanazzi avalia que o resultado foi positivo. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, ele projeta a reta final da campanha no segundo turno, salientando comparações entre os governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT). Também diz que trabalhará pela mobilização popular que, para ele, é a única maneira de Dilma vencer esta eleição.
Jornal do Comércio - Qual o diagnóstico do primeiro turno?
Ary Vanazzi - Dilma começou aqui (no Rio Grande do Sul) com 13% das intenções de voto e chegou ao final do primeiro turno com 46% dos votos. Diagnosticamos que só vamos ganhar essa eleição se tivermos uma grande mobilização popular, social. A primeira tarefa é recuperar a mobilização na sociedade civil organizada. Dos partidos da base aliada, dos movimentos sociais. E construir um processo de mobilização do setor empresarial, que foi um dos mais beneficiados no governo Lula. O setor produtivo ganhou muito dinheiro, vendeu mais, exportou mais. Temos que reunir empresários simpáticos ao projeto, ampliando essa base.
JC - A vitória no primeiro turno era dada como certa?
Vanazzi - Nunca tive essa visão. Houve expectativa criada por grandes meios de comunicação. Trabalhamos para ampliar a vantagem da Dilma, mas o objetivo é ganhar a eleição, no primeiro ou no segundo turno. Teve um sentimento de que poderíamos ter ganhado (no primeiro turno).
JC - Além da mobilização que o senhor mencionou, que outros fatores podem definir a campanha no segundo turno?
Vanazzi – A comparação entre os governos e o debate mais claro sobre os interesses que cada projeto defende nos temas importantes. Os programas e os debates de TV ajudam a clarear dúvidas da sociedade. Além disso, a qualificação e o movimento da militância e dos atores políticos são definidores. O cidadão quer ser convencido. Toda a campanha que construímos tem esse símbolo, que é conhecimento, aglutinação, clareza do projeto e firmeza no que queremos construir. E a participação do Lula, que tem um papel estratégico.
JC - E como está a organização para o segundo turno?
Vanazzi - Criamos uma estrutura de campanha no Estado muito sólida. Temos 25 comitês regionais, coordenados por partidos de toda a base aliada. Lançamos a campanha oficialmente com um grande ato em Porto Alegre (na quinta-feira). Então, temos estrutura e uma relação madura e qualificada com as bases dos partidos aliados. Hoje temos grande parte dos prefeitos do PP e do PMDB apoiando Dilma.
JC - Mas e o apoio do PMDB gaúcho a Serra?
Vanazzi – Faz alguma diferença. Mas tenho convicção de que a base que construímos dá sustentação de uma vitória de Dilma aqui. Temos todo o PDT engajado, um setor forte do PMDB e do PP. O PTB praticamente todo.
JC - Qual o peso do governador eleito, Tarso Genro (PT), na campanha?
Vanazzi – Ele é o coordenador político, vai cumprir agendas, conversar com os partidos da base. Eu fico com a organização, a mobilização social. Mas ele é a grande referência.
JC - E essa ligação do plano de governo de Tarso alinhado ao govero federal?
Vanazzi – Para recuperarmos o Rio Grande do Sul, devemos ter um governo federal alinhado. É um dos nossos argumentos fortes. Nos dois governos Lula, tivemos dois governadores que foram na contramão do crescimento do País. Agora temos a oportunidade de ter o governo federal com a Dilma e o do Estado alinhados. Sempre foi uma briga a questão dos pedágios, é preciso acordo. E o governo Tarso vai construí-lo com o governo federal.
JC - Se José Serra (PSDB) vencer, isso permanece?
Vanazzi – Não. Serra tem outro projeto. É um governo de privatização, de falta de compromisso com a saúde. É só perguntar aos prefeitos os recursos que o governo federal mandou para as cidades e o que a (governadora) Yeda Crusius (PSDB) fez pelos municípios. Se não fosse pelo governo federal, metade das prefeituras tinha fechado as portas em 2008. Só conseguimos administrar as cidades porque o governo federal repôs as perdas do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), injetou recursos nos programas sociais, equilibrando a economia interna. E não é só dinheiro. É facilitando a implementação dos projetos, a articulação da cidade, concordar com a política.
JC - Como?
Vanazzi - Vou dar um exemplo para se perceber a tragédia que seria a eleição do Serra. São Leopoldo produzia 65 toneladas de lixo por dia em 2004. Hoje, são 150 toneladas. Isso é maior poder aquisitivo, maior consumo, maior investimento em moradia. E aconteceu nos últimos oito anos. O governo Lula fez uma revolução. Assumiu um País quebrado pelo FHC, privatizado, sem projeto, sem planejamento. Agora imagina a Dilma receber um País estruturado, com planejamento estratégico para os próximos dez anos, e o Brasil crescendo 6%. Vai ser uma revolução. E estamos correndo o risco de interromper um projeto estratégico no Brasil. Superamos a crise, não esgotamos o mercado interno, temos muito a crescer.
JC - E quais as diferenças entre os projetos de Dilma e de Serra?
Vanazzi – Quem promete 10% de aumento da aposentadoria e R$ 600,00 de salário-mínimo não tem responsabilidade. Quando ele (Serra) foi ministro do Planejamento, não teve coragem de manter nem o reajuste inflacionário. Terminou o governo FHC e o salário-mínimo tinha 5,25% a menos de aumento do que a inflação. Lula estancou a perda do salário-mínimo e do aposentado. Orçou um reajuste igual à inflação. E ainda conseguiu recuperar 2% do salário-mínimo. Nos próximos 8 ou 10 anos, poderemos chegar lá com a recuperação do salário dos aposentados. Então, Serra pode dar 10% em um ano e depois não dar mais. Porque não tem estrutura econômica, uma reforma previdenciária que comporte isso. E os dois piores salários-mínimos regionais são os do Rio Grande do Sul e o de São Paulo, dois estados administrados pelo PSDB.
JC - O senhor diria que as propostas são inversas às do senador Paulo Paim (PT)?
Vanazzi - Paim definiu como proposta o salário-mínimo em US$ 100,00, já está US$ 300,00. Então, recuperamos o poder aquisitivo do salário-mínimo. Além disso, foram gerados 14 milhões de empregos com carteira assinada. Não é pouca coisa.
JC - Além dessa comparação, que outros pontos serão destacados na campanha?
Vanazzi – Os programas de investimento para o Rio Grande do Sul. São várias estradas projetadas, licitadas, em andamento. As obras do Trensurb - levaram 15 anos para fazer de Sapucaia a São Leopoldo -, em três anos, fizemos o dobro dessa extensão.
JC - O senhor cita temas importantes como reforma da Previdência, a infraestrutura, mas o debate dos presidenciáveis está nos temas comportamentais, como o aborto. Qual sua avaliação?
Vanazzi – O PSDB está tratando essa questão do aborto de forma irresponsável. Isso tem que ser debatido no Congresso Nacional, com a devida responsabilidade. Queremos debater inclusão social, crescimento econômico, distribuição de renda. São os três temas mais importantes. Nosso debate é estrutural. No Rio Grande do Sul, por exemplo, um colono que sempre sonhou comprar um trator não chegava nem perto disso. Hoje temos 70 mil famílias no Estado com um trator novo. Isso entusiasma o filho que está na roça. Tem milhares de pessoas beneficiadas com o programa Luz para Todos, que o FHC não quis implementar. Tinha agricultor que estava há 50 anos morando na roça e não sabia o que era energia elétrica. Isso revolucionou a vida no campo.
JC - Qual o peso da questão religiosa na eleição?
Vanazzi - Faço um desafio para o PSDB nesta questão. Ver as prefeituras e os governos que eles têm e a relação com as igrejas, de partilhar responsabilidades na gestão pública. Aqui na minha cidade, temos muitos convênios com igrejas, colocamos recursos para cuidar de crianças, parcerias para fazer atividades sociais. Temos uma relação, não só de respeito à fé, mas de compromisso no cuidado com o cidadão. Isso em todos os governos. Lula fez isso com muitas prefeituras. E pergunto qual a ação concreta que o PSDB tem em suas prefeituras? Nenhuma.
JC - Afirma-se que Lula é maior do que o PT e por isso ele teve liberdade para fazer a coalizão com partidos de linha diferente, tirando espaço do PT. Dilma seria menor que o PT e teria que ceder mais espaço ao partido na sua gestão. Qual é a sua interpretação?
Vanazzi – O inverso. No governo Lula, o PT tem um domínio maior. A aliança que construímos em torno da candidatura da Dilma é de campanha e de projeto. Lula ganhou a eleição com PT, PSB, PCdoB e PRB. Depois teve uma composição para governar o País. Hoje estamos construindo uma eleição com o PMDB de vice, com o PDT apoiando, com o PSB, PCdoB, PRB. Então a complexidade do projeto é muito maior, distribuída entre esses partidos, porque o peso e a responsabilidade no governo e na campanha são muito grandes. E para governar um País e fazer as reformas necessárias, é preciso uma base sólida. Vai ser um governo com mais tranquilidade. O compromisso partidário é maior.
JC - O presidente Lula fez críticas à mídia do País. Como o senhor avalia o papel da imprensa na democracia brasileira e no atual momento político?
Vanazzi – A imprensa cumpre um papel muito importante na democracia brasileira, acompanhando, fiscalizando, emitindo opinião. Minha única contrariedade é quando ela toma partido. Isso numa democracia traz prejuízos. É a primeira vez na história desse País que grandes meios de comunicação tomaram posição. Isso não é pouca coisa no Brasil. E é uma opinião pesada, dura, que cria uma imagem.
JC - Mas o senhor não acha melhor que o apoio seja formal, claramente, como fez O Estado de S. Paulo em editorial?
Vanazzi – Clareia, mas acaba virando um instrumento de uma parte da sociedade num processo de eleição. E é a primeira vez que acontece na democracia brasileira. Mostra que temos dois projetos muito distintos no País e que todo mundo tem lado. E o nosso lado tem uma luta histórica pela democracia, pelo respeito à liberdade de imprensa, aos direitos humanos, à Constituição.
JC - E as críticas de que um novo governo do PT pode trazer ameaças à democracia?
Vanazzi - Dizer que não somos democráticos é uma afronta à inteligência humana, porque o que mais fizemos nesse País foi redemocratizar o Estado brasileiro. Fizemos conferência da cultura, da comunicação, da habitação, dos direitos humanos, dos negros, da educação. Milhões de brasileiros participaram de políticas públicas nacionais. Construímos as condições de mobilização no País de verdade. Não só na ideia de que democracia é o voto. No nosso governo a democracia é a participação direta do cidadão nos espaços públicos. Isso é um elemento revolucionário na democracia brasileira.

Perfil

Ary José Vanazzi, 51 anos, é natural de Coronel Freitas (SC). Até os 20 anos, foi agricultor familiar. Através da Igreja Católica, passou a se dedicar aos estudos e a atividades políticas. Atuou em missões de apoio a índios, aos sem-terra e participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em Santa Catarina. Veio para São Leopoldo em 1984 para estudar. Cursou História no La Salle. Além de lecionar em escolas públicas, trabalhou no comércio. Líder comunitário, candidatou-se a vereador em 1988 e elegeu-se pelo PT. Reelegeu-se em 1992 e dois anos depois disputou a Câmara dos Deputados, sem sucesso. Foi candidato a vice-prefeito em 1996 e, em 1998, a deputado federal. Ficou na segunda suplência, mas foi chamado para ser secretário estadual de Habitação na gestão petista de Olívio Dutra (1999-2002). Em 2002, obteve vaga na Câmara dos Deputados com 76 mil votos. Dois anos depois, disputou a prefeitura de São Leopoldo, sendo eleito e reeleito em 2008, com 78% dos votos. No ano passado, foi um dos pré-candidatos do PT ao governo do Estado, pela corrente Articulação de Esquerda. Neste ano assumiu como coordenador-executivo no Estado da campanha de Dilma Rousseff (PT) à presidência.
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