Quase 90% dos executivos norte-americanos esperam que as corporações em todo o mundo aumentem os gastos de Tecnologia da Informação (TI) neste ano. Eles projetam incrementos consideráveis nos gastos globais no setor fora dos Estados Unidos nos próximos anos e destacaram a China (86%), a Índia (57%) e o Brasil (42%), respectivamente, como os países que devem ter o maior crescimento da receita no setor. Os resultados fazem parte de uma pesquisa realizada pela KPMG nos Estados Unidos entre abril e maio de 2010 com 130 CEOs e outros executivos de nível diretivo na indústria de hardware e software.
Para especialistas brasileiros, esse levantamento confirma uma tendência crescente nos últimos anos de os executivos americanos diversificarem as compras de TI, abrindo espaço para novos fornecedores. Mais do que isso, reforça o fato de que as atenções estão, realmente, focadas nos países do BRIC.
Na comparação com Índia e China, porém, o País ainda não é considerado prioritário. Para o presidente da Associação Sul-Riograndense de Apoio ao Desenvolvimento de Software (Softsul), José Antonio Antonioni, o grande volume de demanda do mercado americano exige uma igual capacidade de desenvolvimento, ao que nem sempre o Brasil consegue atender em função da carência de mão de obra especializada. "Precisamos ser mais rápidos em resolver esse problema. Na medida em que tivermos profissionais qualificados e em número suficiente, certamente nos tornaremos mais competitivos que Índia e China", aposta.
Além da falta de profissionais suficientes, o Brasil também perde em percentual de empresas avaliadas nos modelos de maturidade. Os clientes americanos exigem que seus fornecedores atendem a determinados critérios, como os relativos à ISO 9000 e relacionados a melhorias de processos implementados, como CMMI e MPS.br. "Esses selos reconhecem a qualidade do processo de desenvolvimento de software e garantem a entrega de produtos qualificados", observa o presidente da Softsul.
Outras vantagens competitivas das empresas brasileiras para ganhar espaço no mercado internacional de TI são a criatividade dos profissionais, a familiaridade com as regras de negócios dos Estados Unidos e o fuso horário. Um estudo executado pelo Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Distribuído de Software da universidade, sediado na Faculdade de Informática (Facin), confirma as oportunidades do Brasil em função da sua posição geográfica, na comparação com outros mercados fornecedores de soluções de TI.
Se em um passado recente a Índia se apresentava como o parceiro ideal dos EUA, dentro da lógica de que "nós trabalhamos enquanto você está dormindo", essa grande diferença de fuso hoje já não é mais considerada tão estratégica. O Brasil passa a se beneficiar da sobreposição de fuso horário com a América do Norte e Europa. Isso porque garante um aumento da conveniência para ambos os lados e o trabalho passa a ser mais interativo e propício à criação de relações mais próximas entre os brasileiros e seus clientes estrangeiros.
"Os clientes de outros países estão preferindo trabalhar com o Brasil porque podem resolver os problemas na hora", revela o professor da Faculdade de Informática da Pucrs e coordenador do estudo, Rafael Prikladnicki. Ele alerta, porém, que essa vantagem só será efetiva se os brasileiros desse setor evoluírem o entendimento da língua inglesa. "Quando os americanos nos fazem uma pergunta, temos até oito horas para pensar na melhor resposta. Vocês precisam responder na hora", disse um indiano, relatando o desafio dessa comunicação.