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Recursos humanos

- Publicada em 24 de Maio de 2010 às 00:00

Quando a mente adoece


Mateus Bruxel/Arquivo/JC
Jornal do Comércio
A tradicional placa que indica o número de dias que a empresa está livre de acidentes de trabalho não pode computar um dos motivos de afastamento que vêm crescendo de forma significativa. As doenças psíquicas estão cada vez mais presentes nas organizações e são consideradas hoje uma das maiores preocupações do ambiente profissional. Os transtornos mentais estão fortemente presentes, seja no mundo dos negócios ou em meio às atividades rurais. Independentemente da área de atuação, os trabalhadores têm sido vítimas constantes.
A tradicional placa que indica o número de dias que a empresa está livre de acidentes de trabalho não pode computar um dos motivos de afastamento que vêm crescendo de forma significativa. As doenças psíquicas estão cada vez mais presentes nas organizações e são consideradas hoje uma das maiores preocupações do ambiente profissional. Os transtornos mentais estão fortemente presentes, seja no mundo dos negócios ou em meio às atividades rurais. Independentemente da área de atuação, os trabalhadores têm sido vítimas constantes.
Apesar de delicado, especialistas travam uma batalha para que o tema seja amplamente discutido dentro das empresas. Os números justificam o debate: a previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que, nos próximos 30 anos, a depressão alcance o posto de doença mais comum no planeta, ultrapassando casos de câncer e cardiopatias. O resultado será a queda na qualidade de vida e no rendimento dos trabalhadores, além de aumento dos gastos públicos com a enfermidade.
Mesmo que ainda não seja o mal que mais acomete a sociedade em geral, a depressão é uma das doenças que mais avança entre a população economicamente ativa. Somente em 2008, os casos de afastamento por episódios depressivos junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) cresceram 16% em relação ao ano anterior. As desordens de causa psíquica relacionadas ao trabalho são muitas vezes causadas pela constante pressão por resultados e competitividade acirrada entre colegas. O psiquiatra e médico do trabalho Arthur Motta explica que esses dois fatores, aliados à individualidade cada vez maior, geram inseguranças nos profissionais.
“No passado, havia muito a ideia de cooperação, enquanto hoje cada um cuida de si em prol dos resultados. Isso faz com que os indivíduos se sintam cada vez mais sós e suscetíveis a desenvolver um transtorno mental.” Ele acrescenta que, além da depressão, o transtorno bipolar e a síndrome do estresse pós-traumático também vêm registrando número maior de casos no País. No caso do último, algumas atividades em específico tendem a apresentar um número maior de afetados. Isso porque estão mais expostos a fatores como o risco de passar por alguma situação violenta.
Bancários, seguranças e transportadores de valor são algumas das profissões que levam consigo o fardo de uma possível agressão. A consequência psicológica de passar por circunstâncias como um assalto, por exemplo, pode causar grande impacto na vida do trabalhador, com resultados que variam muito. Pode representar uma simples ausência, se agravando com a perda de produtividade e afastamento temporário. Muitas vezes, leva ao desligamento permanente do local de trabalho em função dos traumas. “Essas pessoas carregam traços, lembranças das exposições e o constrangimento de passarem por essas violências”, diz Motta.
As perdas também são apontadas como fator desencadeante de distúrbios psicológicos, sejam elas financeiras ou pessoais. A dificuldade de enfrentar problemas, como a morte de um familiar ou o mau andamento dos negócios e demais atividades, é um estopim capaz de ultrapassar as respostas racionais para a solução desses problemas, não estando essa condição restrita aos escritórios das grandes cidades.
Motta revela que no ambiente rural essas ocorrências podem ser ainda mais intensas. Dependendo de fatores como o clima, agricultores amargam perdas significativas, muitas vezes de safras inteiras. “A falência faz com que alguns busquem o fim das preocupações colocando fim à própria vida, tudo ligado a uma atividade econômica”, ressalta.
A incidência de suicídio por trabalhadores é prevalente no campo, explica o especialista. Além disso, destaca a necessidade de o tema ser explorado dentro do ambiente corporativo com foco na prevenção e não no medo ou desinformação. Na França, segundo o psiquiatra, já existem estudos que tentam vincular o ato de tirar a vida no local de trabalho com as motivações  e mensagens que o  indivíduo estaria tentando demonstrar.
O médico lembra, ainda, que o registro de transtornos mentais sofre com a difícil barreira do preconceito. Para lidar com ele é necessária a mobilização de todos os setores dentro das organizações, para que gradativamente as doenças do gênero sejam enxergadas como um problema contemporâneo comum e enfrentadas como qualquer outro fator que atinge a saúde do trabalhador. “Quando diz que está com depressão, o indivíduo pode ser interpretado como mais fraco e vulnerável, mas não é diferente de ter hipertensão”, exemplifica.
Cada vez mais, é fundamental o conhecimento sobre o assunto dentro das empresas. Contar com profissionais habilitados a reconhecer indivíduos que estejam apresentando sintomas como abuso de substâncias como álcool e drogas, desinteresse pelas atividades habituais e tendência ao isolamento -  alguns dos primeiros a sinalizarem casos de distúrbios mentais - é um dos meios de detectar e tratar precocemente uma das situações que mais têm prejudicado a qualidade de vida de trabalhadores.
“É importante o debate no local de trabalho por meio de grupos cooperativos coordenados por profissionais especializados que falem dos medos dos funcionários”, sugere Motta. Para ele, a saúde mental precisa estar inclusa dentro do planejamento das empresas, visando sempre à prevenção de possíveis transtornos.  

Estresse e maus hábitos podem levar a enfermidades crônicas

Um dos fatores que mais prejudicam a qualidade de vida profissional é o estresse. Os executivos compõem a classe mais afetada por ele. Esse é um item que pode comprometer a saúde física e psicológica do indivíduo. A rotina agitada e recheada de preocupações faz, também, com que as enfermidades mais ocorrentes nesse grupo estejam diretamente ligadas aos hábitos de seus integrantes, colaborando ainda mais para o aumento de riscos.
O médico José Antônio Maluf de Carvalho, autor de um levantamento realizado com objetivo de descrever as principais características da saúde dos executivos, pelo Hospital Albert Einstein, de São Paulo, explica que a maior incidência de morte entre os altos dirigentes de empresas é causada por complicações cardiovasculares. “Fatores de risco muito comuns são o sobrepeso, obesidade e sedentarismo”, afirma. Em 2006, o estudo apurou que ocupantes de altos cargos têm maior chance de desenvolver esses problemas. No caso de presidentes e vice-presidentes, o risco aumenta em 6,67%.
A falta de tempo para fazer exercícios físicos em conjunto com a má alimentação são os principais facilitadores para as doenças do coração. Maluf destaca que o tabagismo pode ser somado à lista de hábitos que desencadeia o mal, em especial no Rio Grande do Sul, onde os índices médios de fumantes são mais altos que nas demais regiões. Esses cenários têm como consequência para o profissional principalmente o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC). 
O médico descreve a situação ao comparar o modo de vida dos executivos brasileiros com a população norte-americana, que tem cotidiano e costumes alimentares semelhantes. “Nos Estados Unidos a sobrevida é menor, assim como no caso dos executivos, em função do risco cardiovascular. Se vão morrer disso não sabemos, mas a probabilidade é grande.”
Doenças crônicas como a hipertensão e diabetes são bastante verificadas entre empreendedores e estão diretamente ligadas aos males cardíacos, além da síndrome metabólica, que favorece essas ocorrências e mantém níveis crescentes entre o público em questão. Recentemente vem sendo observado aumento nos casos de esteatose hepática, que consiste no acúmulo de gordura no fígado, desencadeado por fatores como sobrepeso e obesidade. “Também acompanha estados de risco aumentado para o alcoolismo.”
As crises no mundo dos negócios são impulsionadoras tanto de males físicos como psíquicos e apontam para a necessidade de acompanhamento médico dentro das empresas, sobretudo pelo fato de muitas das doenças serem assintomáticas, com a hipertensão e diabetes. Para o médico, a melhora desse quadro só é possível com esforço cooperado entre empresa e executivo.

Assédio moral estimula o surgimento de doenças

A depressão desencadeada no ambiente de trabalho pode ser consequência da permanente pressão por resultados. Mas e quando essa cobrança vai além da questão da competitividade, e o colaborador trabalha com metas quase humanamente inalcançáveis? Nesse caso, o profissional pode estar enfrentando também um episódio de assédio moral.
De maneira geral, o assédio moral pode ser definido como atitudes ofensivas e repetidas cometidas por um funcionário ou chefia com objetivo de desestabilizar um colega. Falando especificamente da questão das metas, trata-se do assédio organizacional. A procuradora do trabalho da 4ª Região Márcia Medeiros de Farias explica que a maioria dos casos registrados hoje é relativa a essas ocorrências, em que o funcionário é submetido ao aumento drástico no volume de atividades.
Márcia destaca que call centers, bancos e frigoríficos são alguns dos que mais sofrem com o assédio organizacional e que não há uma semana em que a Procuradoria do Trabalho não receba alguma denúncia que se enquadre como assédio moral. Nos últimos dois anos, o Rio Grande do Sul acumulou mais de 500 reclamações do gênero.
O problema pode ter ainda outra face e afetar o trabalhador individualmente. Uma característica pessoal, como gênero, orientação sexual e até mesmo a aparência, pode ser o suficiente para despertar em outro colega reações que atinjam a honra de um integrante da equipe, independentemente do nível hierárquico. Em determinados casos, as agressões chegam ao ponto de afastar a vítima do ambiente profissional. “Via de regra, são assediados até pedirem demissão e muitos não têm condições de voltar”, ressalta.
Ao se deparar com alguma das situações descritas anteriormente, a pessoa deve, segundo a procuradora, ficar atenta a informações que possam ser usadas como prova contra o agressor, anotando dia e horários da violência e se alguém mais presenciou o ato. Além disso, o funcionário deve evitar ficar a sós com a pessoa que provoca o assédio e relatar os abusos nos sindicatos e entidades de classe, assim como denunciar na Procuradoria Regional do Trabalho, o que pode ser feito através do endereço eletrônico www.prt4.mpt.gov.br.

Qualidade de vida

Além dos cuidados médicos, existem alternativas voluntárias que servem como medidas preventivas para as principais doenças relacionadas ao trabalho e que melhoram, de maneira geral, a qualidade de vida dos trabalhadores. A prática de exercícios físicos regulares e adoção de dieta equilibrada cumprem perfeitamente esse papel e dependem única e exclusivamente da vontade de quem quer viver bem.
A consultora em qualidade de vida e professora de Educação Física Carla Lubisco conta com uma equipe de profissionais que atende a pessoas interessadas em aprimorarem a sua saúde. Muitas são sedentárias e já possuem problemas como hipertensão e colesterol alto. No primeiro momento, é realizada uma avaliação completa, para, então, o programa ser desenvolvido.
“As pessoas conseguem mudar hábitos e, em alguns casos, reverter problemas de saúde após adotarem uma série de comportamentos saudáveis, como alimentação balanceada, prática de exercícios físicos, sono e gerenciamento do estresse”, observa Carla.
Como cerca de 70% do público atendido pela consultoria é formado por executivos, a profissional decidiu levar um método de gestão adotado pelas principais empresas mundiais para o gerenciamento da qualidade de vida dos seus alunos.
A ferramenta utilizada é o Ciclo PDCA (Plan, Do, Check and Act), que na prática envolve o planejamento, execução, verificação e ação após as medidas corretivas. “As chances de termos sucesso são muito maiores se tivermos um objetivo claro e se entendermos os caminhos que nos levam até ele e as dificuldades que aparecerão pelo trajeto”, diz Carla.

A hora da virada

Depois de um exame de rotina, o contador Mário Anilton, 50 anos, descobriu que estava quase ultrapassando os limites saudáveis da pressão arterial. A situação do contador era contornável sem necessidade de medicação, desde que alguns ajustes nos hábitos fossem efetuados. Dessa forma, desde janeiro ele está sendo acompanhado por um dos integrantes da Equipe Carla Lubisco. 
Anilton, que já jogava futebol semanalmente com amigos, não tinha objetivos estéticos, mas queria manter a saúde. Ele explica que até mesmo a performance nas partidas foi melhorada, pois o corpo está mais preparado para a atividade. No trabalho, o resultado também é positivo. “Passei a ter mais vontade e a ficar mais disposto no trabalho, além de me dar bastante tranquilidade”, relata. 

PILARES para uma vida saudável

Dicas para as pessoas que levam uma vida muito agitada
Mantenha durante o seu dia-a-dia e nas viagens um plano de exercícios físicos que seja adequado à dinâmica da sua agenda, reduzindo as chances de desmarcações e perda do ritmo. Ao programar a sua viagem de negócios, opte por um hotel que tenha Fitness Center ou que esteja localizado próximo a algum parque no qual você possa caminhar ou correr. Peça ao seu professor para preparar um minitreino. Leve na mala tênis e uma roupa adequada para manter os seus cuidados com a sua saúde.
Alimentação saudável
Ter uma alimentação balanceada não significa que tenhamos que abrir mão de tudo aquilo que reconhecemos como agradável ao paladar. É uma questão apenas de encontrar um equilíbrio e abrir a nossa mente para um novo estilo. Mesmo com a rotina de jantares de negócios e viagens, é importante manter o planejamento alimentar saudável.
Gerenciamento do estresse
Experimente dedicar cinco minutos a cada duas horas de trabalho para respirar profundamente. Inspire pelo nariz e expire pela boca. Durante o dia, evite ficar ininterruptamente sentado em frente ao computador, por mais importante que seja a sua tarefa. Beba bastante água, se alongue e caminhe por alguns minutos, mesmo que dentro da empresa. Tire férias regularmente.
Sono reparador
Procure manter sempre os mesmos horários de dormir e despertar. Evite discutir negócios ou terminar projetos importantes poucas horas antes de dormir. Na cama, deixe de lado pensamentos que possam lhe causar preocupação. Nos casos em que uma reunião de negócios ou o fuso horário exigirem que você vá dormir mais tarde, procure compensar.

Fonte: Livro Gestão da Qualidade de Vida - Como viver mais e melhor, de Carla Lubisco

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