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AGRONEGÓCIOS

- Publicada em 14 de Setembro de 2015 às 00:00

Geada prejudica lavouras de trigo no Rio Grande do Sul


GIAN LUCAS BELEDELLI/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
A geada que cobriu as lavouras do Estado nas madrugadas de sábado e de domingo trazem perdas à, até então boa, safra de trigo gaúcha. O fenômeno tem o potencial de prejudicar até 80% das áreas plantadas com a cultura, já que, de acordo com informações da Emater, 42% das lavouras gaúchas do cereal estavam em fase de floração; e outras 38%, em enchimento de grãos, etapas em que a geada pode ser fatal para o grão.
A geada que cobriu as lavouras do Estado nas madrugadas de sábado e de domingo trazem perdas à, até então boa, safra de trigo gaúcha. O fenômeno tem o potencial de prejudicar até 80% das áreas plantadas com a cultura, já que, de acordo com informações da Emater, 42% das lavouras gaúchas do cereal estavam em fase de floração; e outras 38%, em enchimento de grãos, etapas em que a geada pode ser fatal para o grão.
Antes do fenômeno climático deste fim de semana, a projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) era de uma safra de trigo muito superior à do ano passado. No Rio Grande do Sul, a área plantada de trigo apresentava queda de 21,3% nesta safra (2014/2015). Mesmo assim, a projeção era de que houvesse um aumento de 55,7% na produção, com 2,36 milhões de toneladas ante 1,51 milhão no período 2013/2014.
O informativo conjuntural da Emater, divulgado na quinta-feira, dia 10, trazia um prognóstico muito otimista da safra atual - 2014/2015. O clima mais ameno e a menor umidade vinham contribuindo para a cultura, principalmente no momento em que as lavouras entravam, com mais intensidade, em floração e enchimento de grãos, diminuindo a pressão de doenças da espiga. Tudo levava a crer que a produção deste ano superaria a última safra, quando a colheita apresentou produtividade e qualidade baixas.
De acordo com o presidente da Comissão do Trigo da Farsul, Hamilton Jardim, as perdas com a geada foram uma "péssima surpresa" para os agricultores. "Neste ano, apesar da grande elevação dos custos de produção, os produtores investiram nas lavouras e apostavam em uma boa produção. Agora, é preciso contar os prejuízos com esse fenômeno climático inesperado quase no fim do ciclo produtivo", destacou.
No entanto, Jardim recomenda cautela aos agricultores que tiveram lavouras atingidas pela geada. "Como a maioria dos campos nas regiões produtoras são ondulados, as áreas não são afetadas da mesma forma. Regiões mais baixas, que concentram mais umidade, tendem a sofrer mais que as mais elevadas. Então o produtor deve aguardar um período de cerca de 10 dias para ver como as plantas se desenvolvem em suas terras", afirmou o presidente da Comissão do Trigo da Farsul. O assistente técnico Alencar Paulo Rugeri, da Emater, admitiu que o fenômeno é atípico nesta época do ano e preocupa, mas pontuou que ainda é muito cedo para dimensionar os impactos reais à colheita. "É claro que esses eventos causam impacto. Porém, normalmente, o impacto inicial ao produtor ao ver o estado da lavoura é maior do que as perdas reais", salientou.
Rugeri diz que agora não há muito o que os produtores possam fazer. "É preciso esperar as chuvas, que devem vir logo, para só depois saber o tamanho do dano e tomar as devidas providências", explica. A previsão do Centro Estadual de Meteorologia (Cemetrs), da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), é de que, nesta quarta-feira, chegue uma nova frente fria que irá provocar volumes significativos e condições de temporais no Rio Grande do Sul. Os maiores volumes devem ocorrer nas regiões Norte e na Serra do Nordeste.
O presidente da Fecoagro, Paulo Pires, concorda que é difícil quantificar os prejuízos da geada e alerta que não só a produção de trigo deve ser afetada, mas também a de milho. "Naquelas regiões em que o plantio do milho ocorre mais cedo, em agosto, como nos municípios de Espumoso, Não-Me-Toque, Palmeira das Missões, as perdas podem chegar a 100%."
Para Pires, a grande preocupação da Fecoagro é com o fato de que a cultura de inverno não pode ser replantada, logo as perdas não são contornáveis. "Sem dúvida, entramos em uma fase crítica. Tenho convicção de que os danos deste último fim de semana são muito sérios", afirmou.

Produtor teme a diminuição do preço no mercado

Neste domingo, o agricultor Luiz Bernardon teve de abrir mão do descanso para percorrer a sua propriedade no interior de Erechim e começar a contabilizar as perdas com a geada. Dos 50 hectares plantados na propriedade, em torno de 35 foram cobertos de branco no sábado. Bernardon estima que uma parte da produção venha a apresentar reflexos da geada, mas afirma que o seu maior temor - bem como dos demais produtores com quem conversa - é com a diminuição no preço da commodity no mercado.
"A variação no tempo é comum. O que preocupa é que isso seja usado para diminuir o valor do produto. Sempre houve geada e chuva, mas nunca tivemos um prejuízo como o que temos nos últimos anos", reflete. Ao contrário das projeções recentes de que o trigo apresentaria leve recuperação no preço neste ano, Bernardon está preparado para um cenário semelhante ao do ano passado. "Grãos de qualidade e preço baixo de venda."
A plantação de Bernardon ainda não estava na etapa de florescimento, por isso há a esperança de que a maior parte não seja atingida. Mas o produtor adverte que um de seus vizinhos temia perda de 100% da lavoura. "Agora, é esperar a chuva e ver de quanto vai ser a perda", resume.

Tradings devem retomar o financiamento da safra

Tradings devem voltar a ser importantes financiadores da safra agrícola após o Brasil perder o grau de investimento, afirma o sócio da consultoria Agrosecurity Fernando Pimentel. "Desde 2006, as tradings vinham perdendo espaço para os bancos na concessão de crédito, especialmente os bancos multinacionais, que ofereciam linhas em dólar semelhantes às ofertadas pelas tradings. Agora, elas devem voltar a ter um papel de agente financiador da safra", afirmou.
Pimentel explica que o cenário da temporada 2015/2016, marcado por crédito mais lento e tardio e maior rigor por parte dos agentes financeiros, deve se agravar na próxima safra, com juros mais altos. As tradings, que, pelo porte de suas operações, conseguem captar recursos a juros mais baixos no mercado, poderão financiar a produção em condições mais vantajosas.
O sócio da Agrosecurity avaliou que os juros das linhas de financiamento para o agronegócio vão subir. "Hoje, só uma agência rebaixou do Brasil. Quando duas tiverem feito isso, os fundos alocados aqui vão ter de ser repatriados, e a oferta de crédito diminuirá. Isso afetará os juros", disse.
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