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COLUNA

- Publicada em 10 de Julho de 2015

Humanos contra as máquinas

O ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger, como ator, conseguiu uma proeza significativa. Há alguns anos, o American Film Institute organizou uma pesquisa da qual participaram diretores, produtores, intérpretes, críticos e historiadores. O objetivo era apontar os mais significativos heróis e vilões do cinema. Na primeira categoria, a eleição foi vencida por Gregory Peck e sua criação do advogado e pai em O sol é para todos, de Robert Mulligan. Na segunda, o primeiro colocado foi Anthony Hopkins pela figura de um psiquiatra canibal em O silêncio dos inocentes, de Jonathan Demme. Pois em tal eleição, o intérprete de O exterminador do futuro: gênesis apareceu nas duas listas. Era um dos primeiros colocados entre os vilões devido à sua presença em O exterminador do futuro, de James Cameron, como um robô enviado ao passado para matar a mãe de um futuro rebelde, evitando assim que um líder ameaçasse, no futuro, o domínio das máquinas. E sua participação como um robô que protegia Sarah Connor no Exterminador-2 fez com que ele também aparecesse com destaque na lista dos heróis. Neste filme, ótimo, por sinal, uma cena memorável era a despedida da máquina em forma humana, dizendo para seus protegidos que agora compreendia por que os humanos choravam. O filme que agora está em cartaz é, de certa forma, uma junção dos dois primeiros da série, ambos de Cameron. A figura predominante é a do defensor dos justos, mas há uma cena na qual Schwarzenegger luta contra ele próprio. Neste momento, fica explicitada a temática proposta pelo diretor Alan Taylor e seus roteiristas: o conflito entre o bem e o mal exposto de forma a espalhar tais forças em espaços cujas fronteiras não são definidas.

O cinema americano, em anos recentes, tem sido vítima do avassalador ataque dos efeitos especiais. O objetivo principal é o de impressionar as plateias com a utilização, cada vez mais aperfeiçoada, dos recursos técnicos hoje disponíveis. O filme de Taylor não escapa de tal tendência. Mas enquanto filmes assim alcançarem somas significativas nas bilheterias, tal proposta não será abandonada. E não há como negar que algumas cenas são muito bem realizadas e possuem considerável força, principalmente, a da ponte. As equipes técnicas são cada vez mais competentes na utilização dos recursos de computação, sendo de lamentar que quase sempre os filmes permaneçam distantes daquelas qualidades que caracterizam as obras verdadeiramente significativas. Mas o filme de Taylor não é desprovido de interesse. Ele até surpreende pela forma como desenvolve o tema do bem e do mal mesclados na natureza humana. Seria bem melhor se fossem mais reduzidas as cenas de ação, repetitivas na maior parte e que nada acrescentam à narrativa.

O mais interessante é a questão do núcleo familiar, tumultuado por agressividades e ressentimentos, antes de ser recomposto. Sarah vê no robô que a protege a figura paterna. Mas o grande líder do futuro, o salvador da Humanidade, transforma-se de filho em inimigo. A mescla de tempos diferentes permite também que em alguns momentos a violência seja dirigida contra o pai do herói do futuro, com o filho transformado numa figura que parece movida pelo ódio mais intenso. Nesse ponto, o filme seria bem melhor se não fosse prejudicado pela confusão de tempos diferentes e pelas inúmeras possibilidades permitidas por alterações nos acontecimentos e suas repercussões no futuro. Assim, heróis se transformam em vilões e, por vezes, a confusão predomina. E num elenco dominado por intérpretes inexpressivos, fica fácil para Schwarzenegger se destacar, valendo-se, inclusive, da repetição de uma frase sobre velhice e obsolescência que se tornou elemento dos mais destacados na promoção do filme. Depois que a ação é concluída, entre os créditos finais, ainda há a última cena, que claramente indica que a ameaça não foi totalmente exterminada. Se isso significa uma constatação, nada a objetar. Mas certamente mais um filme sobre tais personagens seria algo perfeitamente dispensável.