OLÁ, ASSINE O JC E TENHA ACESSO LIVRE A TODAS AS NOTÍCIAS DO JORNAL.

JÁ SOU ASSINANTE

Entre com seus dados
e boa leitura!

Digite seu E-MAIL, CPF ou CNPJ e você receberá o passo a passo para refazer sua senha através do e-mail cadastrado:


QUERO ASSINAR!

Cadastre-se e veja todas as
vantagens de assinar o JC!

Ou, faça login via rede social:

exposição

- Publicada em 06 de Julho de 2015

Aquarelas mostram seu valor em exposição de Joaquim da Fonseca

Nem tanto em uma folha qualquer, como sugere Toquinho, se deve desenhar utilizando a técnica de aquarela. Popularizada pela música brasileira, essa técnica de pintura, que exige papel de alta densidade e tintas de qualidade, ganhou força nas vozes de compositores como Toquinho, Vinicius de Moraes e Gal Costa.

Muitas vezes relegada ao segundo plano pelas artes visuais, as aquarelas mostram o seu valor na exposição de Joaquim da Fonseca, considerado um dos maiores aquarelistas em atividade no Brasil. A mostra Estâncias e colônias abre hoje, a partir das 19h, na Galeria de Arte Paulo Capelari (Cel. Bordini, 665).

"Existe um preconceito muito grande com as aquarelas. Pelo fato de ela ser feita em papel, a maioria das pessoas não percebe ou não sabe que o papel tem uma durabilidade maior que a própria tela", explica Fonseca, citando, como exemplo, as aquarelas do pintor inglês William Turner (1775-1851), ainda em perfeito estado.

Aos 80 anos, Fonseca reúne na mostra uma série de 40 trabalhos, em médios formatos. As cenas que o artista retrata revelam as paisagens do pampa gaúcho, cenário onde viveu sua infância, em Alegrete. Em todo lugar que viaja, o artista leva um caderno para anotações - geralmente, são esboços dos locais visitados.

O olhar de Fonseca está voltado para a temática das paisagens não só aqui do Estado, mas no Brasil e em outros países, como no projeto de livros de viagens que ele desenvolveu na década de 1990 em parceria com Luis Fernando Veríssimo. Ele assinava as ilustrações sobre diversas capitais. O primeiro deles foi Traçando Nova Iorque; depois, vieram Roma, Paris, Porto Alegre, Japão e Madri. "Não é comum os livros de viagens ilustrados; normalmente, há fotografias dos lugares. A ilustração dá liberdade para as pessoas acrescentarem algo da imaginação delas sobre aquele lugar", descreve o artista.

Fonseca conta que uma das razões de trabalhar a temática é devido ao seu gosto de explorar e experimentar a noção de distância. "Gosto das paisagens com muitos campos e montanhas, para expressar melhor o horizonte", diz. O trabalho de Fonseca é também caracterizado pela intensidade das tonalidades e a forma espontânea que busca nas pinceladas.

Joaquim da Fonseca teve a oportunidade de estudar e conviver com grandes nomes, como Ado Malagoli, Aldo Locatelli, Cristina Balbão, Alice Soares, João Fahrion e Fernando Corona, durante o período em que graduou-se em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da Ufrgs, na década de 1960.

Mas a aquarela entrou de fato na sua vida depois de cursar a pós-graduação em Artes Visuais na Syracuse University dos Estados Unidos (1981-1983), na qual obteve o diploma de MFA Master of Fine Arts em Comunicação Visual - disciplina que ele lecionou durante vários anos na Ufrgs. Deste período, ele também guarda os ensinamentos obtidos de Jerome Witkin, pintor norte-americano com quem se iniciou na técnica da aquarela.

Além de professor, Fonseca foi designer gráfico, jornalista e diretor de arte da MPM propaganda. Na extinta Revista Globo, foi ilustrador, diagramador e chefe de redação. Atualmente aposentado, ele lembra com saudades daqueles tempos, período que havia um maior interesse pela arte. "Hoje, o mercado se resume a colecionadores. Outras pessoas até adquirem quadros, mas são muito poucas", desabafa.

Para Fonseca, ainda é preciso uma conscientização sobre a obra de arte como investimento. "Não é como comprar uma televisão, que logo deve trocar por estar obsoleta. No momento em que quiseres te desfazer de uma obra de arte, haverá sempre um comprador", explica.

Um fato curioso que percebe no mercado gaúcho é a não aquisição de trabalhos com paisagens marinhas. São poucas as que ele já expôs no Estado devido à falta de interesse do público. "Não sei o porquê, mas não tem jeito. É um tabu, a maioria das galerias de arte nem adquire porque não tem saída", comenta.
Residindo em Brasília desde 2009, Fonseca traz para a mostra trabalhos realizados a partir de anotações e esboços feitos ao longo do tempo. Muitas das paisagens com casarios antigos retratados por Fonseca nem existem mais, tornando essas aquarelas uma forma de registro histórico do Estado.