Decididamente, o noticiário tem sido negativo para a economia e, via de consequência, para a sociedade brasileira. Temos coisas boas em andamento no setor educacional federal. Porém, na área do emprego, via exportações e investimentos na infraestrutura, temos anúncios e mais anúncios, porém poucas realizações. As vendas de inverno estão projetadas para baixo pelos lojistas e as liquidações começaram, quando a tradição apontava para o mês de agosto. A inadimplência está em alta. Por isso, há quem, antes mesmo do fim do primeiro semestre, que deseje ver 2015 pelas costas, tal o cipoal de notícias ruins.
Realmente, o melhor é ver o ano de 2015 pelas costas. Está ocorrendo um turbilhão dos acontecimentos que, a rigor, começaram em 2013, com as manifestações espontâneas nas ruas de várias capitais do Brasil, iniciando-se em Porto Alegre contra o reajuste das tarifas do transporte coletivo. Em 2014, novas gerações e algumas antigas tiveram a esperança de ver o Brasil campeão mundial de futebol aqui, sonho desfeito em 1950 em pleno Maracanã. Também não foi possível. A rigor, os sonhos nacionais foram se esfumaçando um após outro e encerraram o ano com a tristeza de tantos desvios de dinheiro público. Nunca antes, na história do Brasil houve tantas falcatruas. Ou, então, elas ocorriam mas não eram descobertas. Não na extensão, na profundidade e no prejuízo conforme agora apurados.
A ética humanista tem a posição de que se nós estamos vivos, sabemos o que é ou não permitido. Estar vivo significa ser produtivo, empregar os nossos próprios poderes não apenas para uma finalidade transcendental, mas para nós mesmos, para compreendermos a nossa existência, para sermos, enfim, mais humanos. Os brasileiros não devem julgar que, apesar deste ano que não acabou mas nos pesa tanto, os nossos ideais estão sepultados.
Não podemos desanimar, pois os sonhos não estão acima das nuvens, no passado, mas sim no presente e no futuro em que a ética prevalecerá. Pelo menos, será a atitude da maioria. Não vamos, entretanto, buscar soluções fora de nós mesmos. As soluções estão dentro de nós, dos mais altos escalões da República até o cidadão comum, vivendo o seu cotidiano na senda do trabalho, da família e da sociedade, passando pelas etapas inerentes a todos nós, até que chegue o fim inexorável.
Não, não devemos aceitar que o comportamento ético seja uma relíquia do passado, de anos pretéritos e que não voltam mais. Evidentemente que não podemos viver do passado, nem do futuro, eis que um e outro são construídos agora, no presente, com nossas atitudes, trabalho, organização e muita ética. Não somos réplicas das pias Irmã Dulce ou da Madre Tereza de Calcutá, exemplos inatacáveis, poços de virtudes tão somente. Temos lá os nossos defeitos, manias e escorregamos em deslizes. No entanto, temos que ter ações corretas na vida na maioria das vezes, especialmente quando na vida pública.
Evidentemente que o futuro do Brasil não estará garantido apenas pela nossa eficiência material, na acumulação de riqueza. Investimentos que garantam trabalho, renda, educação, moradia e saúde básica para todos é que nos darão um futuro sempre melhor. Não vamos deixar que as mazelas de 2015 em vários setores, públicos e empresariais, nos causem um vácuo existencial e nos desorientem na vida individual e coletiva. Não vamos perder a produtividade e a fé para termos dias melhores.