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entrevista especial

- Publicada em 16 de Março de 2015 às 00:00

“Sartori tem um mandato, não pena a ser cumprida”, diz Pedro Ruas


antonio paz/jc
Jornal do Comércio
Após exercer quatro legislaturas e meia na Câmara Municipal de Porto Alegre, o deputado estadual Pedro Ruas é o primeiro representante do P-Sol na Assembleia Legislativa. Como tal, começa a imprimir o estilo combativo, que apresentou em âmbito municipal, na esfera estadual, prometendo uma oposição contundente em relação ao governo do peemedebista José Ivo Sartori (PMDB) que, segundo Ruas, “tem um mandato, não uma pena a ser cumprida”.

Após exercer quatro legislaturas e meia na Câmara Municipal de Porto Alegre, o deputado estadual Pedro Ruas é o primeiro representante do P-Sol na Assembleia Legislativa. Como tal, começa a imprimir o estilo combativo, que apresentou em âmbito municipal, na esfera estadual, prometendo uma oposição contundente em relação ao governo do peemedebista José Ivo Sartori (PMDB) que, segundo Ruas, “tem um mandato, não uma pena a ser cumprida”.

O parlamentar critica especialmente a inatividade da base governista na Casa, que ainda não enviou projetos a serem apreciados pelo Legislativo. “A base de governo está tentando controlar tudo (comissões temáticas e subcomissões) e nós não vamos permitir, até porque esse é um governo que não disse a que veio”, alfineta.

Nacionalmente, a postura de Ruas em relação ao desdobramentos da Operação Lava Jato é cautelosa. Apesar de elogiar a atuação do Ministério Público, Polícia Federal e Poder Legislativo na investigação dos envolvidos no esquema de corrupção, o deputado vê a possibilidade da reforma política, nos termos atuais, em algo que “será para servir aos poderosos”. Para que não seja, ele é a favor de que a doação pública para campanhas não sirva como um “habeas corpus a posteriori”, e que campanhas anteriores sejam também investigadas.

Apesar de ainda não haver indicação partidária oficial, Ruas adianta que o nome de Luciana Genro (P-Sol), pela exposição obtida durante a campanha presidencial em 2014, “empolga a militância”, “podendo chegar no segundo turno”. Segundo o deputado, “ela tem uma capacidade muito grande de traduzir os anseios mais fortes da sociedade, principalmente dos oprimidos”, diz.

JC – Como o senhor avalia seu o primeiro mês dessa legislatura da Assembleia?

Pedro Ruas – É uma grande honra para nós, do P-Sol. Eu acho que nós já conseguimos, em poucos dias, deixar nossa marca do pessoal no que tange aos nossos posicionamentos em relação ao governo do Estado e a nosso comportamento como parlamentar. Quando houve a votação do aumento dos parlamentares, eu não era deputado, mas me posicionei nas redes e coloquei que achava indevido haver um aumento para os membros do Legislativo, Executivo, Judiciário e do Ministério Público. Até em função do fato de que o governador Sartori havia dito que trabalhava com um déficit de R$ 7,1 bilhões. A partir daí eu tomei a decisão de não receber esse valor, mas não fazer simplesmente a devolução para o erário, porque ele iria de novo para os lugares errados. Então mensalmente eu tenho escolhido duas entidades diferentes para receber a diferença do aumento. Tem sido algo fantástico, porque nós também não só temos podido ajudar, mas temos aprendido muito com o trabalho das entidades.

JC – E como está avaliando a movimentação da base aliada de Sartori?

Pedro Ruas – O governo de Sartori é um governo que não tem qualquer projeto. É o único caso de um governador que, em 27 Unidades da Federação, incluindo o Distrito Federal, não mandou nenhum projeto para Assembleia Legislativa. Está literalmente sem projeto, no sentido amplo, sem um plano de ação de governo e sem projeto legislativo também. Houve o anúncio, em 2 de janeiro, de que por seis meses Sartori não pagaria seus credores, e agora há uma especulação de que parcelará o salário de servidores. É isso o que há do governo até agora, além das lamúrias do que se herdou.

JC – O que o senhor acredita que esteja se delineando de pauta em comum entre os partidos de oposição na Assembleia?

Pedro Ruas – A capacidade de serem oposição fiscalizatória e propositiva ao governo, que é a linha do P-Sol. Não temos identidade ideológica ou política com esses partidos, nem com o PT, porque somos oposição ao governo federal, nem com o PCdoB; mas nós achamos que é possível fazer um trabalho de oposição ao governo Sartori conjuntamente, e minha ideia é formar um bloco de oposição. Esse é o único parlamento que eu conheço, que tem líder de governo e não tem de oposição. Por isso já entrei com um projeto de resolução para a Mesa Diretora, para que se crie essa bancada de oposição. Isso não cria nenhuma estrutura de cargos a mais, mas atualmente há cinco minutos de tribuna para serem utilizados pelo líder do governo, e não há um líder de oposição que tenha o mesmo.

JC – Quando haverá uma resposta da Mesa?

Pedro Ruas – Acho que até o fim do mês de março a gente terá posição sobre isso. Eu acho que esse bloco seria formado pelo P-Sol, PT, PCdoB, talvez mais algum partido, como o PPL.

JC – No final do ano passado, a deputada Manuela conversou com partidos menores para tentar mudar a dinâmica tanto na composição da Mesa Diretora, quanto para tentar presidir comissões temáticas. Como está isso?

Pedro Ruas – Isso não teve avanços.

JC – Mas acredita numa tentativa de dar um pouco mais de voz aos partidos que não são os quatro maiores?

Pedro Ruas – Nós estamos aqui porque a população quis isso. Não caímos aqui de paraquedas, fomos eleitos, foi uma decisão do eleitorado rio-grandense, então não é possível que as estruturas da Casa funcionem apenas para os partidos que têm mais deputados. Mas isso é uma circunstância, é momentâneo, depois pode mudar tudo. Acho que deveríamos ter regras que deixassem todos com capacidade de trabalho igual. Os partidos com mais deputados têm uma estrutura bem maior. Nós não só não temos o direito de presidir nenhuma comissão, como está difícil presidir até sub-comissões, porque os partidos grandes tratam de controlar essas. Há uma outra circunstância de que a base de governo, que tem muita força na Casa, está tentando controlar tudo e, obviamente, nós não vamos permitir, até porque é um governo que não disse a que veio. O governador tem uma posição que o faz parecer que caiu por acaso no Piratini. Ele tem um mandato, não é uma pena a ser cumprida. As lamúrias dele são permanentes sobre tudo e todos. Governar o Rio Grande é uma honra, não é motivo para uma choradeira permanente.

JC – No cenário nacional, os fatos investigados pela Operação Lava Jato mostram indícios de corrupção ligados a diversos partidos. O P-Sol é diferente disso? Ele pode se tornar vulnerável a esses desvios do sistema político?

Pedro Ruas – Não, não tem como, porque o P-Sol pode ser traduzido por uma expressão de que gosto muito. É um partido que não se rende e não se vende.

JC – O mote do PT antigamente era “não se dobra e não se vende”.

Pedro Ruas – O teu exemplo é historicamente correto, mas não significa que temos que cumprir esse destino horroroso. Nós somos diferentes desde a origem. Primeiro porque já conhecemos várias experiências fracassadas de projetos partidários. Esses partidos acabam sendo todos muito parecidos, porque, no governo, eles acabam loteando governos, trocando espaços por tempo de TV e rádio, que depois são entregues aos partidos sem nenhuma fiscalização. Isso aí é a porta de entrada da corrupção. A gente sabe que isso é uma regra. Por isso pra nós é tão importante para nós, do P-Sol, ter autoridade para fazer essa crítica.

JC – Houve dois casos recentes de filiados que publicamente destoaram de algumas bandeiras do partido, no caso do deputado Cabo Daciolo (P-Sol/RJ) e do ex-candidato gaúcho a deputado federal, Luigi Matté, que fez declarações homofóbicas em redes sociais. Como o partido está se portando em relação a isso?

Pedro Ruas – Nós vamos tomar uma atitude forte nesse sentido. Essas situações podem ocorrer e têm que ser resolvidas imediatamente. Essas pessoas podem ter sua posição? Podem, mas fora do P-Sol. Nós somos um partido que combate a homofobia, que não admite qualquer tipo de preconceito, e um partido laico, que enfrenta os poderosos. Nós entendemos que a política só tem sentido quando ela é pra transformar a sociedade a favor dos que mais precisam.

JC – Por outro lado existe um esforço pra que o partido cresça, ganhe mais representatividade e tenha mais filiados.

Pedro Ruas – Mas ele tem que crescer pela política e não por filiações massivas. Esse não é um bom caminho e o P-Sol não faz isso. É mais demorado, mas é mais consistente e é nossa única garantia para ficarmos sem qualquer semelhança com os demais partidos, porque o P-Sol vê a política como instrumento de transformação da sociedade em benefício daqueles que são excluídos e, para poder fazer isso corretamente, o partido tem que ter muita cautela no seu crescimento. Nós não fazemos qualquer aliança, não nos interessa o poder pelo poder. Nós fazemos alianças coerentes, quando ocorrem são com PSTU, PCB, não acrescentam um segundo de TV e rádio porque são alianças programáticas.

JC – Como vê a possibilidade de uma reforma política?

Pedro Ruas – Qualquer reforma que ocorra, será para servir aos poderosos. Vou dar um exemplo: é possível que eles aceitem, e nós defendemos isso no P-Sol, o financiamento público de campanha, mas eles vão aceitar isso como uma maneira de “zerar” o passado e é isso que eu tenho dito: quero financiamento público de campanha com investigação de toda parte a privada anterior. Porque não pode ser um habeas corpus a posteriori. Tem que ter uma investigação séria de todas as campanhas eleitorais até agora, inclusive de quem não tem mandato nesse momento.

JC – O senhor acha que a Operação Lava Jato tem sido uma forma de começar esse processo?

Pedro Ruas – Acho que sim. Porque houve um cuidado muito grande do juiz Sérgio Moro, de Curitiba, porque ele não misturou alhos com bugalhos, quem tinha foro privilegiado, quem tinha imunidade parlamentar, quem tinha isso ou aquilo com quem não tinha. Ele fez por etapas, então não caiu naquilo que acaba livrando muita gente, no detalhe formal, que acaba anulando todo o trabalho investigativo. Resta saber se isso seguirá nessa mesma linha de realmente buscar a verdade. Até agora, o Ministério Público e a Polícia Federal atuaram muito bem, mas particularmente o Judiciário, na pessoa dele.

JC – O P-Sol já tem nome pra concorrer a prefeitura de Porto Alegre?

Pedro Ruas – Oficialmente não temos, porque não é o momento ainda. Mas pelas conversas que tenho tido – e isso é um trabalho político que terá que ser construído dentro do P-Sol -, a Luciana Genro teria um papel extraordinário, podendo inclusive chegar no segundo turno, porque ela tem uma capacidade muito grande de traduzir os anseios mais fortes da nossa sociedade, particularmente dos oprimidos, das minorias discriminadas. Ela tem essa capacidade muito grande e mostrou isso no ano passado, na campanha presidencial. O nome da Luciana empolga a militância e vejo, até fora do P-Sol, muita gente empolgada.

JC – Em uma entrevista no Jornal do Comércio, a deputada federal Maria do Rosário (PT) falou em união da esquerda e não descartou apoiar nomes como a Manuela ou a Luciana Genro. Como o senhor veria uma aproximação do PT pra apoiar...

Pedro Ruas – Como aliança é impossível. Isso é uma questão estatutária. Nós não fazemos aliança com qualquer partido que integre a base do governo federal, estadual ou governo municipal. Eu recebo com simpatia, mas é impossível qualquer aliança com o PT. Não há possibilidade.

JC – Nas últimas eleições, temos visto uma alternância limitada dentro do P-Sol, com eleições majoritárias sendo disputadas por Luciana Genro e Roberto Robaina. Existe uma preocupação em renovar os quadros?

Pedro Ruas – Nós temos hoje a maior juventude partidária de Porto Alegre, provavelmente uma das maiores do Estado. Nós temos uma condição excepcional de renovarmos em curto prazo todas as nossas lideranças e temos feito esse processo. Hoje, o primeiro suplente da bancada estadual é o Jurandir Silva, de Pelotas, um jovem de 30 anos, o segundo é a Fernanda (Melchionna), uma jovem que foi vereadora com 23 anos. Há uma preocupação do P-Sol na formação desses quadros e temos cada vez mais jovens que vão assumindo essas posições e isso não só aqui, mas também nacionalmente. Hoje, a juventude como setor organizado, representa 80% do nosso partido.

Perfil

Pedro Luiz Fagundes Ruas tem 59 anos e é natural de Porto Alegre. Advogado, é especializado na área trabalhista. Iniciou sua atividade política no movimento estudantil, a partir da adolescência. Na universidade, combateu a ditadura militar, incluindo a luta pela anistia. Em 1979, com a volta do ex-governador Leonel Brizola do exílio e o fim do bipartidarismo (MDB/Arena), Pedro Ruas participou da fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), cuja presidência estadual chegou a exercer. Porém, um ano após a morte de Brizola - em 2004 -, Pedro Ruas deixou o PDT, depois de 26 anos de militância, e passou a integrar o recém-criado Partido Socialismo e Liberdade (P-Sol). Foi eleito cinco vezes vereador da Capital - tendo exercido dois mandatos pelo P-Sol. Nas eleições de 2014, conquistou uma vaga de deputado estadual e é o primeiro representante do partido na Assembleia Legislativa. Também integra o diretório nacional, a executiva estadual e o diretório municipal da sigla.
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