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Coluna

- Publicada em 13 de Março de 2015 às 00:00

Poética peça para falar de uma poeta


Jornal do Comércio
"Por la blanda arena que lame el mar / su pequeña huella no vuelve más. /Un sendero solo de pena y silencio llegó / hasta el agua profunda (...)// Te vas Alfonsina con tu soledad, / ¿qué poemas nuevos fuiste a buscar?Una voz antigua de viento y de sal / te requiebra el alma y la está llevando y te vas hacia allá como en sueños, / dormida, Alfonsina, vestida de mar."
"Por la blanda arena que lame el mar / su pequeña huella no vuelve más. /Un sendero solo de pena y silencio llegó / hasta el agua profunda (...)// Te vas Alfonsina con tu soledad, / ¿qué poemas nuevos fuiste a buscar?Una voz antigua de viento y de sal / te requiebra el alma y la está llevando y te vas hacia allá como en sueños, / dormida, Alfonsina, vestida de mar."
Com estes versos, numa bela canção intitulada Alfonsina y El mar, o poeta Félix Luna e o compositor Ariel Ramires festejaram a poeta argentina Alfonsina Storni, nascida em 1892 e provavelmente suicidada em 1938, caminhando mar adentro, na praia de Mar del Plata.
Alfonsina Storni não foi apenas uma grande poeta, num tempo em que poucas mulheres ousavam escrever, e sobretudo poesia como a que ela assinou. Foi, também, uma militante avant la lettre do que hoje chamaríamos de feminismo. Por isso, foi feliz coincidência que a temporada nacional de Vestida de mar ocorresse justamente em Porto Alegre, na última sexta-feira, desenvolvendo sua temporada até o domingo passado, quando justamente se festejava o Dia Internacional da Mulher.
Vestida de mar é um texto de Marcus Mota, feito a partir de pesquisa em documentos variados, em torno desta poeta celebrizada pela composição de Luna-Ramires, sobretudo na interpretação fantástica de Mercedes Sosa. Retoma, sinteticamente, a vida da artista (o espetáculo tem 50 minutos de duração), na interpretação irretocável e profundamente sentida de Gelly Saigg, ladeada pelas atrizes Lilian França e Karine Junquiera, que fazem sua assistência e abrem o espetáculo com um de seus poemas.
Marcus Mota evidencia sensibilidade e capacidade de reunir, em poucos traços, o essencial de uma vida: o espetáculo, neste sentido, é como um esboço para um trabalho mais profundo, mas isso não é falha, e, sim, capacidade de ir ao principal, ao sumo, ao centro. Por seu lado, Ricardo César, o diretor, conseguiu reunir um elenco e uma equipe técnica adequadas para a linha do espetáculo, que é intimista, mas precisa ter a sincronia e o ritmo perfeito de um relógio bem azeitado. Tudo isso foi alcançado através da atrioz Gelly S?aigg e da cenografia fantástica de Maria Carmem Sousa, complementada pela iluminação de Vinicius Ferreira.
A forma do Teatro de Arena, sem dúvida, ajudou na comunicação e na emocionalidade do trabalho, mesmo que a linha de direção busque manter-se relativamente distante em relação ao público, salvo quando, em diferentes momentos, a atriz-personagem dirige-se a alguém da plateia, pedindo-lhe cumplicidade: que este alguém guarde um envelope (com uma foto, sabe-se depois), ou que a penteie, enquanto ela declama um poema de sua autoria.
Gelly Saigg não é uma mocinha: é mulher madura que, por isso mesmo, dá consistência à personagem (que ao se suicidar, repete-se, tinha algo em torno de 36 anos de idade). Mas não é esta idade física que interessa e, sim, a idade emocional, aquela surgida com a experiência da vida. O que assistimos no espetáculo, assim, é uma soma radical de poemas, desmembrados de seus apoios, como a rima ou o corte do verso, para se transformarem em texto prosaico, mas não menos poético, a revelar os sentimentos e as contradições, as frustrações e as utopias da personagem. Por isso a mudança constante de entonações, num cenário que é todo metafórico: sobre uma cobertura de arreia de beira de mar, uma cama está parcialmente mergulhada na água, assim como outros elementos cênicos, como que a indicar sobras de um naufrágio: a própria vida da poeta?
Eu andava com saudades deste tipo de espetáculo, que toma a gente pela mão e nos emociona enquanto se apresenta. E, depois, fica latejando na memória e no coração. Belo início de temporada.
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