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Coluna

- Publicada em 06 de Fevereiro de 2015 às 00:00

A dramaturgia em nosso meio


Jornal do Comércio
No âmbito do curso de Escrita Criativa do Programa de Pós-Graduação em Letras da Pucrs, tive a oportunidade de desenvolver, no segundo semestre de 2014, uma experiência bastante interessante. Na disciplina denominada “Oficina de Criação Dramática”, discuti com os alunos a criação de textos para o teatro. Na maioria dos casos, os candidatos a se tornarem escritores não imaginam a possibilidade de escreverem para o teatro, o que se tornou provocador e criativo. 

No âmbito do curso de Escrita Criativa do Programa de Pós-Graduação em Letras da Pucrs, tive a oportunidade de desenvolver, no segundo semestre de 2014, uma experiência bastante interessante. Na disciplina denominada “Oficina de Criação Dramática”, discuti com os alunos a criação de textos para o teatro. Na maioria dos casos, os candidatos a se tornarem escritores não imaginam a possibilidade de escreverem para o teatro, o que se tornou provocador e criativo. 

Foram escolhidos textos sobre a criação dramática, suas características, seus desafios e, sobretudo, suas dificuldades: até mesmo, certo comportamento de desvalorização de tal atividade, diante da necessidade de um dramaturgo, depois de escrever seu texto, precisar encontrar um grupo de teatro disposto a montá-lo - produtor, diretor, elenco, espaço específico para a temporada etc –, problemas bastante diversos daqueles que um escritor de ficção precisa enfrentar. 

Para além dos textos escolhidos, que foram analisados e discutidos no formato de seminário, permitindo a intervenção e a reflexão de todos os participantes, fizemos convites específicos a alguns realizadores porto-alegrenses para se encontrarem com aquele coletivo. O critério de escolha foi serem criadores dramáticos (isto é, dramaturgos) que também dirigissem espetáculos, tanto os seus quanto trabalhos baseados em outros autores. Poderiam também eles mesmos ter seus textos montados por outros realizadores, mas precisavam terem a experiência de escrever e dirigir seus próprios trabalhos, em algum momento. Para os cinco escritores-diretores convidados, apresentou-se um questionário que buscava refletir especialmente sobre: a) o processo de criação do texto: se ele já vinha marcado pelo horizonte da posterior criação do espetáculo, por exemplo; b) o processo de criação do espetáculo (se o diretor modificava muito o texto que ele mesmo, enquanto dramaturgo, havia criado); c) nos dois casos, o que facilitava e o que dificultava tais tarefas, inclusive levando-se em conta as experiências de montarem outros dramaturgos ou assistirem a espetáculos realizados por outros diretores, a partir de seus próprios textos.

Os dramaturgos-diretores convidados foram Julio Conte - o mais experiente deles, com uma carreira consolidada, a partir do sucesso do pioneiro e histórico Bailei na curva, ainda há pouco reencenado no Porto Verão Alegre; Patsy Ceccato que, aliás, vem participando do curso de Escrita Criativa e que se destaca por seus trabalhos dedicados a respeito do papel da mulher na sociedade contemporânea; Ronald Radde, cujo Teatro Novo completou 45 anos de atividades ininterruptas e sobre cuja obra desenvolvi um estudo a ser publicado em 2015, através da Secretaria Municipal de Cultura e Editora da Pucrs; Jessé de Oliveira, cujo trabalho estará sendo levado à Alemanha neste ano; além de Viviane Juguero, cujo trabalho tem-se multiplicado na criação, tanto de textos dramáticos quanto poéticos, dirigidos a crianças e adolescentes, além de belos espetáculos que vêm sendo apresentados em temporadas sucessivas entre nós, inclusive viajando pelo Interior.

O resultado da experiência pareceu-me altamente produtivo: de um lado, a conscientização dos jovens escritores para o potencial da escrita dramática; quanto aos dramaturgos e encenadores locais, a oportunidade de refletirem em voz alta a respeito de seu trabalho. Uma das observações talvez mais importantes que se tirou desta prática foi o fato de haver, efetivamente, um processo cultural e de formação de uma comunidade dramática em nossa cidade. Radde, por exemplo, revelou muitos dos atores e atrizes que hoje ocupam o espaço cênico da Capital; Conte assinou a direção de alguns espetáculos de Patsy; Oliveira interferiu na formação de Viviane e dirigiu alguns de seus textos; a artista, no entanto, enquanto atriz, interpretou textos de Jessé Oliveira, e assim por diante. 

O que é certo, em todo esse processo, é que a criação dramática em nosso meio, ao contrário do que se possa pensar, é forte e contínua e, por isso mesmo, merece estudo mais atento, especialmente a partir da academia.        

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