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Saúde

- Publicada em 08 de Dezembro de 2014 às 00:00

“A peruca muda o olhar da mulher com câncer”


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
Uma nova legislação deve melhorar a autoestima das pessoas que passam por tratamento com quimioterapia no Rio Grande do Sul. No final do mês passado, foi promulgada a Lei Estadual 14.608/2014, de autoria da deputada Marisa Formolo (PT), que estabelece que pacientes com câncer do Sistema Único de Saúde (SUS) terão direito a receber uma peruca quando estiverem sofrendo queda de cabelo.
Uma nova legislação deve melhorar a autoestima das pessoas que passam por tratamento com quimioterapia no Rio Grande do Sul. No final do mês passado, foi promulgada a Lei Estadual 14.608/2014, de autoria da deputada Marisa Formolo (PT), que estabelece que pacientes com câncer do Sistema Único de Saúde (SUS) terão direito a receber uma peruca quando estiverem sofrendo queda de cabelo.
Apesar de a legislação ser uma novidade, há entidades que realizam esse tipo de serviço há muito tempo – a mais antiga no Estado é o Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama). Para a 1ª vice-presidente da ONG, Liane de Araújo, a legislação tem extrema importância, pois o acessório melhora a autoestima da mulher. Em entrevista ao Jornal do Comércio, no entanto, ela ressalta a necessidade de fiscalização da sociedade civil, a fim de que a proposta seja implementada.
Jornal do Comércio - Há quanto tempo o Imama possui esse banco de perucas?
Liane de Araújo - O Imama vai completar 22 anos de existência. O banco de perucas tem 18 anos já. Hoje, felizmente, muitas pessoas têm se preocupado com essa questão da peruca. A maioria das mulheres que está passando pela quimioterapia chega à nossa sede triste, com uma expressão de dor, vergonha, se sentindo constrangida. Percebemos muito isso. A falta de cabelo simboliza, para ela, que está doente. Quando elas colocam a peruca, mudam o olhar. Temos a parceria de duas lojas, a HD Perucas e a Cabelo Mais, que nos emprestam os acessórios e também colhem os cabelos doados e confeccionam voluntariamente as perucas.
JC - Como a senhora se envolveu com o trabalho na entidade?
Liane - Eu tive câncer de mama há 18 anos e sobrevivi. Quero que outras pessoas vivam 18, 20, 40 anos, como eu também quero viver mais (Liane tem 58 anos). Quando eu tive câncer de mama, eu disse que não ia morrer porque queria ver meus netos. Já tenho um de 16 anos. Agora, minha meta é ver meus bisnetos. A gente tem que querer viver, e a peruca aumenta a autoestima das mulheres e ajuda nos tratamentos. Vemos na expressão, no olhar delas, que muda. No ano passado, emprestamos mais de 180 perucas. O Hospital Fêmina também faz esse trabalho de empréstimo, bem como o Hospital Santa Rita, mas ainda falta informação para que todos saibam desse serviço, principalmente no Interior. Hoje, funciona principalmente pelo boca a boca.
JC - Como é o trabalho com as perucas?
Liane - A Cabelo Mais, que confecciona perucas com cabelos doados, faz um cadastro lá das pessoas que realizam as doações. Se ela usa uma mecha tua que não é suficiente para fazer uma peruca, procura cabelos semelhantes, anota todos os nomes das pessoas que doaram cabelo para aquela peruca e dá um retorno para todas elas, pergunta se querem vir aqui, ver o acessório pronto, tirar foto com ele, para dar uma satisfação para o doador. Isso faz com que as pessoas se envolvam mais com a causa, porque dá mais credibilidade para a nossa instituição. Quando as perucas retornam do empréstimo, são ajeitadas, higienizadas e voltam para o banco de perucas, para que outras pessoas possam pegá-las. A procura e a rotatividade são grandes, mas sempre temos o suficiente. Temos também esse trabalho no Imama de Três de Maio.
JC - O que a senhora acha da nova lei?
Liane - A gente apoiou a causa durante todo o processo. É uma legislação importante, mas temos que ver como vai funcionar. Teria que haver uma estrutura própria das secretarias para manter esse serviço, pois é preciso ter alguém para higienizar, escovar, ajeitar, deixar toda limpinha e arrumadinha a peruca. Teria que ter, ainda, um profissional para fazer a entrega e o controle das perucas. Estamos na expectativa. A lei tem 180 dias para entrar em vigor, então está em fase de estruturação. Normalmente, se cria uma expectativa quando a lei é aprovada, as pessoas saem correndo, querendo que ela seja implementada, e muitas vezes demora mais do que 180 dias, porque é difícil. Sabemos que há municípios que não têm nem informatização. O sistema estadual, por exemplo, estava com problemas e tinha registro de apenas 170 novos casos de câncer de mama e de colo de útero no Rio Grande do Sul neste ano. A quantidade é muito maior. São 57.120 novos casos no Brasil por ano. Aqui no Estado, há em torno de 1.020 mortes e cinco mil novos casos em um ano. Precisamos cobrar e monitorar o sistema de saúde, e esse é um trabalho de toda a sociedade civil, para que realmente se cumpra esse prazo de 180 dias.
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