Dos primeiros filmes do século XX aos mais novos lançamentos; da nouvelle vague francesa ao cinema tailandês: é possível encontrar de tudo na E o Vídeo Levou, uma das videolocadoras tradicionais ainda remanescentes de Porto Alegre. Fundada em 1989, a empresa tem no seu acervo cerca de 30 mil títulos em DVD e blu-ray, além de vender filmes e pôsteres para o Brasil todo.
Em meio à turbulência enfrentada hoje pelas locadoras devido à disponibilidade de filmes na internet, a E o Vídeo Levou segue firme e forte. Com 34 mil pessoas cadastradas, a locadora tem atualmente cerca de 2.300 clientes ativos, ou seja, aqueles que alugam pelo menos um filme por mês. A explicação está no perfil da empresa, que nunca foi voltado aos grandes lançamentos produzidos em Hollywood e sim a obras mais difíceis de encontrar. “Temos material de pesquisa para estudantes universitários e para pessoas que se interessam por cinema antigo ou não comercial. A E o Vídeo Levou é uma biblioteca de imagens”, explica o proprietário e também atendente da loja, Álvaro Bertani.
A mistura entre as curvas futuristas e as colunas gregas da fachada faz com o cliente se sinta em um ambiente cinematográfico antes mesmo de entrar na locadora. “Queria um conceito de cinema, que chamasse a atenção. Mas o principal no projeto era que o cliente não precisasse se deslocar por toda a loja para encontrar um filme”, conta Bertani, que estudava Arquitetura quando abriu o negócio, junto com a irmã.
O nome da empresa é um jogo de palavras com o clássico norte-americano ...E o Vento Levou, lançado em 1939. “Nós começamos a brincar com nomes de filmes, fizemos uma votação com meus colegas da faculdade e esse ganhou. A única coisa que eu não queria é que fosse um nome em inglês”, relembra Bertani. Na época, ele não tinha o hábito de ir ao cinema. “Meu gosto cinematográfico era bem diferente, tive que aprender a cultura dos blockbusters”, diz.
Nos 25 anos à frente do negócio, Bertani viu o mercado de vídeos passar por grandes mudanças. Com a transição do formato VHS para o DVD no início dos anos 2000, o empresário conta que realizou uma “operação gigantesca e rápida”. Todo o acervo e também a mobília do prédio foram substituídos em três anos. Apesar da logística necessária à adaptação, a novidade impulsionou o mercado, favorecendo as produções clássicas e fora do circuito comercial. “Por ter um baixo custo de produção, o DVD veio com tudo e possibilitou filmes que nunca seriam lançados no formato anterior”, explica.
Bertani define a concorrência dessa época como uma “carnificina”, com muitas brigas por preços e promoções. Hoje, a maior ameaça está em sites como o YouTube e o Netflix, que oferecem serviço de exibição on-line de vídeos. Outra dificuldade foi uma perda de fornecedores que não resistiram à nova configuração do mercado e fecharam as portas. “As poucas locadoras que sobraram se associaram para fortalecer os negócios. Temos que manter os fornecedores vivos”, resume.
A internet, no entanto, também é uma grande aliada da empresa, que expandiu os negócios para o mundo virtual. A venda de filmes pelo site já é responsável por 50% do faturamento da locadora, com entrega para todos os estados do País. Outra facilidade é a possibilidade dos novos consumidores se cadastrarem pela internet. “É possível fazer a locação no site e pedir tele-entrega, então tem muitos clientes que nós nem conhecemos”, diz. Atualmente, a E o Vídeo Levou realiza em torno de 100 cadastros novos por mês, a maioria de jovens. “Tem acontecido algo inédito: nós estamos indicando vídeos por duração. Alguns clientes, quando veem que o filme tem mais de 1h30, não levam para casa.”