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Cinema

- Publicada em 04 de Outubro de 2019 às 03:00

A família e o infinito

Hélio Nascimento
Quando Stanley Kubrick realizou 2001: uma odisseia no espaço, além de ter dirigido a maior ficção-científica do todos os tempos, enriqueceu sua arte com uma obra que ficará para sempre como um dos momentos mais luminosos da história do cinema. Esta não é uma afirmação ditada pela subjetividade ou pelo entusiasmo. Qualquer filme do gênero, não importa sua qualidade, sempre será um devedor daquele portento cinematográfico. E não só do gênero. Todo e qualquer filme que procurar caminhos inovadores e propor algo que se afaste da narrativa tradicional estará pagando tributo àquele monumento. É que o grande Kubrick não se limitou a um gênero. Procurou, também, partindo da ideia não concretizada de Serguei Eisenstein em filmar O capital, de Karl Marx, realizar um filme-ensaio, no qual as imagens fossem a tradução de constatações feitas em ensaios anteriores.
Quando Stanley Kubrick realizou 2001: uma odisseia no espaço, além de ter dirigido a maior ficção-científica do todos os tempos, enriqueceu sua arte com uma obra que ficará para sempre como um dos momentos mais luminosos da história do cinema. Esta não é uma afirmação ditada pela subjetividade ou pelo entusiasmo. Qualquer filme do gênero, não importa sua qualidade, sempre será um devedor daquele portento cinematográfico. E não só do gênero. Todo e qualquer filme que procurar caminhos inovadores e propor algo que se afaste da narrativa tradicional estará pagando tributo àquele monumento. É que o grande Kubrick não se limitou a um gênero. Procurou, também, partindo da ideia não concretizada de Serguei Eisenstein em filmar O capital, de Karl Marx, realizar um filme-ensaio, no qual as imagens fossem a tradução de constatações feitas em ensaios anteriores.
Alguns momentos de 2001 são antológicos pela indelével impressão que causam, renovada a cada nova revisão, entre elas, para citar um exemplo, a da descoberta da utilidade da mão, na qual, quase uma ilustração de uma página de Friedrich Engels em A dialética da natureza, ressaltou a importância e a grandeza de tal momento enriquecendo a imagem com o trecho inicial de uma das mais célebres composições de Richard Strauss, então inspirado em Nietsche. Melômano como era, foi capaz de ver numa valsa de outro Strauss o resumo de uma dança cósmica e também o momento eterno de um rio sempre renovado. Mais recentemente, radicalizando a proposta, Alexander Kluge realizou Notícias da antiguidade ideológica: Marx, Eisenstein, o Capital, que chegou ao Brasil apernas em DVD, por iniciativa do Instituto Goethe e do Instituto de Tecnologia Social. O filme misturava gêneros para de certa forma ressaltar caminhos dos quais o cinema, nos últimos anos, mas não em sua totalidade, tem se afastado.
James Gray, o diretor de Ad astra - rumo às estrelas, é mais um a abordar o gênero da ficção-científica de forma a merecer do espectador respeito e atenção. É um filme realizado com inegável competência e beneficiado com amplos recursos de produção. Entre os idealizadores do projeto e também produtor, por sinal, está o brasileiro Rodrigo Teixeira. Até os admiradores de Gray certamente concordarão que ele não é um Kubrick. Mas ele se encontra entre aqueles que tem procurado manter vivo um cinema adulto e responsável. Depois do mexicano Alfonso Cuarón, em Gravidade, ele é mais um a reafirmar que o gênero da ficção-científica cinematográfica tem ainda muito espaço a ser explorado. Na verdade, tal cenário não tem limites capazes de deter a imaginação humana, até por permitir que um cineasta fale do presente colocando personagens e explorando situações criadas em cenários de um mundo que, ainda inexistentes, tornam possível tornar explícitas dores e insatisfações que, mesmo permanecendo hoje ocultas, geram conflitos e desequilíbrios emocionais. E não é a primeira vez que o cineasta aborda tal tema. Em seu filme anterior, Z: a cidade perdida, ele colocava em cena o inglês Percy Fawcett, que em 1925 desapareceu com o filho no Mato Grosso.
O novo filme de Gray tem outra referência bem clara. Ele não utiliza apenas as sugestões do filme-ensaio, pois também se aproxima do filme-poema de Terrence Malick, este cineasta misterioso e invisível que sabe explorar como poucos uma narração destinada a valorizar cada imagem. A contribuição de Gray está nas variações do tema da solidão e da agressividade. Esta última se materializa na cena dos primatas, imagens que são complementadas pela fala seguinte do protagonista, quando diz compreender tal violência, pois também a havia praticado, no passado. O universo familiar do astronauta é reconstituído com imagens de curta duração, mas nas quais a solidão é um tema facilmente percebido tanto na relação com a mulher como no relacionamento com o pai. Num mundo em que o contato humano é substituído por mensagens eletrônicas não é surpresa que a declaração final seja simplesmente enviada. Pena que, em algumas cenas, Gray seja vencido pela tentação de assustar o espectador com a exploração do som. Nesse ponto ele esquece a lição de muitos mestres: o silêncio é mais eloquente que o ruído. E poderia evitar aquela perseguição na superfície lunar e encontrar outra solução que substituísse a luta dentro da nave que vai em direção a Netuno.
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