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DESENVOLVIMENTO

- Publicada em 24 de Outubro de 2014 às 00:00

História da marca Vert é case de inovação


JONATHAN HECKLER/JC
Jornal do Comércio
Na tarde desta quinta-feira, quando o francês François-Ghislain Morillion subiu ao palco do Teatro do Sesi, no 6º Congresso Internacional de Inovação, para contar a história da marca de tênis Vert, da qual é cofundador, encontrou um auditório cheio, mas ainda em movimentação, retornando de uma breve pausa entre as palestras. Em português fluente, Morillion contou que a empresa foi idealizada a partir de uma conversa regada à vodka, em uma tarde de primavera em Nova Iorque, em 2002. O fato arrancou risos dos presentes, agitando ainda mais o ambiente, mas suscitando a atenção de todos.
Na tarde desta quinta-feira, quando o francês François-Ghislain Morillion subiu ao palco do Teatro do Sesi, no 6º Congresso Internacional de Inovação, para contar a história da marca de tênis Vert, da qual é cofundador, encontrou um auditório cheio, mas ainda em movimentação, retornando de uma breve pausa entre as palestras. Em português fluente, Morillion contou que a empresa foi idealizada a partir de uma conversa regada à vodka, em uma tarde de primavera em Nova Iorque, em 2002. O fato arrancou risos dos presentes, agitando ainda mais o ambiente, mas suscitando a atenção de todos.
Contextualizando a primeira afirmação, Morillion contou que trabalhava no mercado financeiro em Nova Iorque com o também francês Sébastien Kopp, ambos formados em Administração. “Discutíamos que não estávamos felizes. Nossa vida estava vazia e a única preocupação dos nossos amigos era conseguir a melhor mesa no melhor restaurante e entrar na balada, nada contra a balada, mas sabíamos que o mundo enfrentava problemas maiores.” O auditório imergiu em um silêncio absoluto e reflexivo, mas a partir dali todos eram olhos e ouvidos fixados na história que Morillion iria contar.
Naquela tarde, Morillion e Kopp decidiram abandonar o emprego e viajar durante um ano para estudar sustentabilidade. Passaram três meses em cada um dos quatro países que visitaram: Índia, China, África do Sul e Brasil. Dos 56 projetos que conheceram, apenas um despertou o interesse dos jovens de 22 anos. Era o negócio de uma empresa francesa que comprava palmito pupunha de uma cooperativa do Norte do Brasil, pagando um valor pela matéria-prima acima do mercado e sem intermediários. “A sustentabilidade estava no negócio”, salientou Morillion.
Apostando em um modelo semelhante, os empreendedores decidiram investir na fabricação de tênis. “Nós gostamos de tênis, crescemos na geração Nike, mas conhecemos a realidade dessa indústria, em que os tênis são desenvolvidos a partir da exploração do Sul pelo Norte.” Resolveram empreender no Brasil. As matérias-primas básicas na produção dos tênis da marca são lona, algodão e borracha. Em todas as etapas, os fornecedores não recebem pelo preço de mercado, mas de acordo com valores acordados entre a empresa e as cooperativas.
Do Nordeste, principalmente do Ceará, vem o algodão orgânico, que é plantado em áreas de multicultura sem uso de agrotóxicos. Já a borracha vem do Acre, onde os seringueiros não só extraem o látex como beneficiam o produto em um processo semi-industrial, que eleva em mais de três vezes os ganhos dos produtores, favorecendo a manutenção dos seringueiros na atividade, sem que tenham que se dedicar a atividades menos sustentáveis, como a pecuária.
A fabricação dos cerca de 100 mil pares de calçados produzidos por ano também é realizada em um local escolhido estrategicamente. Morillion diz que pesquisou as localidades que ofereçam mão de obra que assegurem as melhores condições aos trabalhadores e optou pela cidade gaúcha de Campo Bom. Nesse momento, foi efusivamente aplaudido, não só pela escolha, mas pela história que fascinara a todos e que atravessa o País, garantindo sustento acima do mercado a mil agricultores, minimizando ao máximo o impacto ambiental.
“No Brasil, a gente paga cinco vezes mais por um funcionário”, dimensionou o empresário, sem, no entanto, gerar dúvidas, pois a constatação estava mais do que justificada. “Fazemos questão de estar em uma fábrica que respeita os trabalhadores”, sustenta.
Apesar das escolhas que aparentemente inviabilizariam o negócio, Morillion reforça que a produção é viável. Os tênis são vendidos a R$ 200,00, abaixo, inclusive, do preço de muitas marcas comercializadas aqui. Para garantir rentabilidade, a estratégia da Vert é abrir mão da publicidade. A empresa não investe um centavo em propaganda. “Quando você compra um tênis, 70% do preço dos produtos tradicionais é publicidade”, justifica. Além disso, a Vert trabalha com um estoque mínimo, produzindo na medida da demanda dos consumidores.
Com esse histórico, e a aprovação do público presente, compreende-se que a Vert não necessite de divulgação. A fidelização dos consumidores e propagação da marca é espontânea. O primeiro mercado da marca, que completa 10 anos em 2015, foi o francês, onde é comercializado com outro nome: Veja. No ano passado, o produto passou a ser vendido no Brasil e, por razões óbvias, o nome foi alterado. Assim, o tênis, produzido aqui, é vendido na França com um nome em Português e no Brasil com um nome em Francês (a tradução de Vert é verde). “Nós sabemos que não estamos resolvendo os problemas do mundo. Nossa missão é contar a nossa história para passar o bastão para os outros. Fizemos um trabalho inspirado na cadeia do palmito pupunha. Dele desenvolvemos um tênis. Quem sabe alguém saia daqui e reinvente o celular ou o computador”. Os aplausos prolongados fecharam a apresentação.

Congresso Internacional de Inovação aprofundou o tema sustentabilidade

Realizado nos dias 22 e 23 de outubro, no Teatro do Sesi, em Porto Alegre, o 6º Congresso Internacional de Inovação reuniu especialistas e empresários para mostrar como empresas estão desenvolvendo novos modelos de negócios, voltados para a solução de dilemas atuais da sociedade. Com o tema “Megatendências: inovação e a economia da sustentabilidade”, o congresso foi promovido pelo Sistema Fiergs e destacou caminhos que levam à inovação.
Ontem, o especialista em processos de estratégia, inovação e mudança, Marc Sniukas, que é diretor da Doujak Corporate Development, empresa que atua na mesma área, traçou os passos a serem seguidos por quem quer empreender e inovar. “O mais importante é conversar com as pessoas. Muitas empresas, quando vão desenvolver algo novo, contratam uma consultoria, mas é fundamental conversar, principalmente, com quem não compra o seu produto e também com especialistas”, disse.
Sniukas salientou que o empreendedor precisa observar os “não clientes”, com o objetivo de compreender por que não compram seus produtos, quais são as barreiras e como quebrá-las. Só a partir daí, a empresa deve criar soluções e, por fim, testá-las antes de lança-las para reduzir riscos. A preocupação principal, no entanto, é estar realmente comprometido com a inovação, ressalvou. “No mercado, sempre se sabe se a empresa leva a sério uma proposta, porque ela investe e dedica uma equipe ou pessoa para pensar no desenvolvimento estratégico”, sustenta, ressalvando que é relutante quando a empresa quer desenvolver, mas alega que não tem recurso ou equipe para dedicar.
O vice-presidente da Fiergs e sócio-fundador das empresas Altus, Teikon e HT Micron, Ricardo Felizzola, destaca que o foco do congresso mudou ao longo dos anos. “No começo, tínhamos um direcionamento forte em eixos como poder público e academia. Neste, a gente percebe uma participação maior de industriais, de donos de empresas”. Felizzola reforçou que o tema sustentabilidade é uma espécie de alerta, incitando empresas a inovarem.
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