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Hipismo

- Publicada em 16 de Outubro de 2014 às 00:00

Turfe em Porto Alegre: a retomada do esporte


MARCO QUINTANA/JC
Jornal do Comércio
“Foi dada a partida”, grita o locutor. Assim que o som ecoa dos alto-falantes, nos pavilhões e nas tribunas, centenas de pessoas giram os pescoços de forma quase sincronizada, em uma estranha e sutil coreografia. Compreende-se: um cavalo de corrida pode ultrapassar os 60km/h. Com vários animais galopando ao mesmo tempo, é preciso ficar atento para não perder nenhum detalhe. Gritos, decepção, euforia. Cerca de um minuto depois – um pouco mais, um pouco menos, depende da prova –, tudo volta ao normal. Pelo menos até a próxima meia hora, quando será dada a largada para um novo páreo. 
“Foi dada a partida”, grita o locutor. Assim que o som ecoa dos alto-falantes, nos pavilhões e nas tribunas, centenas de pessoas giram os pescoços de forma quase sincronizada, em uma estranha e sutil coreografia. Compreende-se: um cavalo de corrida pode ultrapassar os 60km/h. Com vários animais galopando ao mesmo tempo, é preciso ficar atento para não perder nenhum detalhe. Gritos, decepção, euforia. Cerca de um minuto depois – um pouco mais, um pouco menos, depende da prova –, tudo volta ao normal. Pelo menos até a próxima meia hora, quando será dada a largada para um novo páreo. 
Esse ritual, comum a qualquer hipódromo do mundo, se repete todas as quintas-feiras no Jockey Club do Rio Grande do Sul. Situado na zona Sul de Porto Alegre, o Hipódromo do Cristal sobreviveu a períodos de incerteza financeira, mas se mantém firme como palco de um esporte que, mesmo perdendo público ao longo dos anos, continua cativando gerações desde o século XVII.
“O turfe é minha vida”, sintetiza Alcir da Costa Umpierre, de 62 anos, aposentado há cinco da vida nas cocheiras. Ele fazia partos de éguas puro sangue inglês (raça predominante no esporte) em dois haras, um em Estrela e outro em Santa Bárbara do Sul, em São Paulo. “Sempre gostei muito de cavalos, então, mesmo tendo deixado de trabalhar, continuo frequentando o Cristal. Venho aqui há 50 anos”, diz Umpierre, que se mantém distante dos guichês de apostas. “Dinheiro de aposentado é pouco, né”, justifica.
Para o ex-parteiro, o Jockey Club já viveu seus dias de ouro, e hoje vê o público escassear, a não ser em dias com programação especial. “Só vem bastante gente no Protetora e no Bento Gonçalves”, lamenta, mencionando os dois principais GPs do calendário gaúcho. “Além disso, só tem carreira na quinta. Antes, tinha sábado, domingo e segunda”, suspira.
Sem o mesmo envolvimento afetivo com o esporte, mas nitidamente entusiasmado com as corridas, o empresário João Flaubiano Silveira Porto, 71 anos, circula pelas arquibancadas do hipódromo com um binóculo nas mãos. Ele não é o único. Olhando ao redor, percebe-se inúmeras pessoas com o objeto a tiracolo. “Fica mais fácil acompanhar”, explica.
Porto confessa que gosta mais de “cavalo de salto”, referindo-se ao hipismo, mas que vai ao Cristal pelo “espetáculo”. “Não venho ver só o cavalo, venho ver o jóquei também. O que importa é o desafio”, resume. Coincidentemente, faz o mesmo desabafo que Umpierre em relação ao declínio do esporte. “Já fui mais aficionado. Peguei o Jockey Club no auge, agora está paupérrimo. Infelizmente, o turfe caiu muito no decorrer dos anos. Hoje venho mais nas provas grandes: o Protetora e o Bento, que é agora em novembro”, admite.

Concorrência e perda de público

O Hipódromo do Cristal foi fundado em 1959 – antes, os turfistas de Porto Alegre e Região Metropolitana frequentavam prados em bairros como Menino Deus e Moinhos de Vento. A estrutura, projetada pelo arquiteto uruguaio Roman Fresnedo Siri, era considerada moderna para a época, com direito a escada rolante, refletindo um período de ouro para o esporte e para o Jockey Club, que ainda não sofria com a concorrência.
“Houve um período de declínio forte, perdeu-se muito público para o futebol, um esporte que também entrou em crise durante um tempo, mas saiu dela por meio da televisão. Outras formas de lazer também apareceram, como os shop-pings”, ressalta o vice-presidente da entidade, Ricardo Felizzola.
Além da corrida em si, o turfe é apreciado por causa de outro aspecto: o jogo. E esse atrativo também sofreu com o desinteresse do público a partir da criação das loterias da Caixa Econômica Federal. “Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, o turfe teve momentos bons. A partir daí, entrou em declínio, chegando à sua condição mais crítica nos anos 1990. E aqui não foi diferente”, lembra o dirigente. “Falava-se muito, na época, que o Hipódromo iria fechar as portas. Felizmente, isso não aconteceu.”
Em um momento de recuperação – financeira e de prestígio –, o Jockey Club do Rio Grande do Sul projeta um crescimento de público e de apostas, de forma a se manter viável economicamente. Como isso não é tarefa fácil, a direção investe em iniciativas ousadas, como o recente Desafio de Campeões, disputado em setembro e que envolveu nada menos que os dois maiores jóqueis do mundo: o brasileiro Jorge Ricardo, o Ricardinho, e o canadense naturalizado norte-americano Russel Baze. Na disputa, que consistia em cinco páreos, Ricardinho acabou levando a melhor. Para os turfistas gaúchos, porém, o triunfo já estava garantido quando da confirmação do desafio.
“São dois jóqueis incríveis, com mais de 12 mil vitórias cada. Eles nunca tinham se enfrentado, e isso aconteceu aqui. O Jockey voltou a chamar a atenção da imprensa e atraiu um bom público. Veio gente que não aparecia há anos por aqui”, comemora Felizzolla.
Para Jorge Ricardo, que vive na Argentina, onde o esporte está em um patamar superior hoje em dia, a realização do desafio foi tão celebrada quanto a vitória. “Se o Baze tivesse vencido, não seria injustiça. O mais importante é termos uma disputa dessas no Cristal, hipódromo pelo qual tenho muito carinho, pois foi onde meu pai fez história (o já falecido jóquei Antônio Ricardo venceu o primeiro Grande Prêmio Bento Gonçalves realizado no local). Tomara que o turfe continue crescendo no Brasil e se torne forte como já foi um dia.”
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