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Consumo

- Publicada em 16 de Janeiro de 2010 às 00:00

Custo de vida no Brasil assusta estrangeiros


Gilmar Luís/JC
Jornal do Comércio
Vânia Serafin, 28 anos, chegou no início de janeiro ao Brasil para um estágio de oito meses e procura um lugar para viver na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Ela reclama que há poucas opções e está assustada com os preços. Só conseguiu flats por cerca de R$ 1,7 mil. Vânia conta que em Lisboa é possível dividir um apartamento com um amigo - numa boa região, com quarto separado e contas incluídas - por 200 euros, cerca de R$ 500.

Vânia Serafin, 28 anos, chegou no início de janeiro ao Brasil para um estágio de oito meses e procura um lugar para viver na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Ela reclama que há poucas opções e está assustada com os preços. Só conseguiu flats por cerca de R$ 1,7 mil. Vânia conta que em Lisboa é possível dividir um apartamento com um amigo - numa boa região, com quarto separado e contas incluídas - por 200 euros, cerca de R$ 500.

A experiência da publicitária portuguesa está longe de ser exceção. Estrangeiros que chegam ao País e brasileiros que vivem no exterior sentem no bolso o "preço do sucesso" brasileiro. Queridinho da vez dos mercados internacionais e uma das primeiras economias a sair da crise, o Brasil está na moda e cada vez mais caro.

O índice Big Mac, criado pela revista The Economist e uma das medidas mais conhecidas de comparação de preços entre países, demonstra isso. O sanduíche do McDonald's está custando US$ 4,02 no Brasil, mais caro que nos Estados Unidos (US$ 3,57), no México (US$ 2,39) e na Argentina (US$ 3,0). Só perde para os US$ 4,62 cobrados na Europa.

Um levantamento da consultoria Euromonitor, feita a pedido do jornal O Estado de S.Paulo, detectou que os preços de vários produtos no País estão entre os mais altos. O quilo de iogurte custa US$ 2,9 no Brasil, o mesmo que na França. O quilo de comida de bebê fica em US$ 12,3, comparado com US$ 8,1 no Reino Unido. E o papel higiênico brasileiro está entre os mais caros do mundo: US$ 4,4 o quilo, ante US$ 3,3 nos EUA e US$ 3,8 na França.

A consultoria cruzou os dados de tamanho do mercado pelo volume vendido e encontrou um custo médio. No Brasil, a classe C cresceu e ganhou das empresas lançamentos específicos, mais baratos, o que reduz o preço médio. Ainda assim, a comparação com os valores praticados nos países da Europa e nos EUA não favorece o País.

A diferença de custo de vida chama mais a atenção da parcela da população brasileira que viaja ou até vive no exterior. Priscilla Raunaimer Carneiro, 32 anos, mora no sul da Itália com o marido, Fillipo. O casal tem uma loja de produtos brasileiros. Compraram recentemente um sofá-cama por 200 euros (R$ 500). No site de uma da grande varejistas de móveis de São Paulo, um sofá-cama custava R$ 1,6 mil na sexta-feira. "No Brasil, não tem a opção de comprar móveis de boa qualidade e gastar pouco", disse Priscilla.

Segundo o economista do JP Morgan Júlio Callegari, as pessoas estão percebendo intuitivamente os efeitos da valorização da moeda brasileira. Uma série do Banco Central (BC) - que compara o real com as moedas dos parceiros comerciais - aponta que o câmbio, descontada a inflação, está 1,7% acima do que valia em novembro de 2008, antes da crise. Por esse critério, o real está 20% acima da média histórica (desde 1988) e apenas 4,4% abaixo de dezembro de 1998 - último mês de câmbio fixo do Plano Real.

Mas não é apenas o fator cambial que explica as diferenças de preço. No Brasil, os consumidores estão confiantes e a demanda segue forte, enquanto outros países enfrentam recessão. O mercado imobiliário é um caso exemplar. Foi nesse setor que começou a bolha nos EUA, mas o Brasil, particularmente São Paulo, ainda experimenta um "boom".

Quem vive fora do País também reclama das despesas do dia a dia por aqui. Dizem que não existem "lojas de desconto", que são comuns no exterior, e que os produtos importados e de marca custam "caríssimo". Vânia comprou em Portugal um relógio Swatch por 80 euros (cerca de R$ 200) e viu o mesmo produto aqui por R$ 480. "Só tenho roupas da Zara e me disseram que é quase uma loja de luxo no Brasil", disse.

Alguns serviços também podem ser um problema - embora ainda seja muito mais barato contratar uma babá, uma faxineira ou ir à manicure no Brasil. Alexandre Castello Branco, 34 anos, é supervisor de auditoria da PriceWaterHouse&Coopers, em São Francisco, nos EUA, e esteve no Brasil em agosto de 2009. Ele reclama que gastava mais de R$ 70 para sair para jantar em São Paulo. "Não custa mais que R$ 35 em lugares do mesmo padrão em São Francisco", disse. A alimentação fora de casa foi um dos itens que mais subiu no Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) no ano passado. A jornalista Rachel Verano trabalha como freelancer, viveu na Europa e passou o último ano viajando com o marido pela Ásia. Apaixonada por mergulho, ela conta que visitou os melhores lugares do continente e garante que não gastou mais de 70 euros em cada passeio, cerca de R$ 180.

De férias no Brasil, foi mergulhar em Fernando de Noronha e pagou R$ 300. "Fiquei chocada. O custo de vida no Brasil está igual ou mais caro que na Europa." Pelo menos pelas sandálias Havaianas os brasileiros continuam pagando menos que os gringos. Priscilla compra por R$ 10 o par no centro de São Paulo e vende na sua loja na Itália pelo equivalente a R$ 50.

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