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Coluna

- Publicada em 03 de Outubro de 2014 às 00:00

Reencontro com Pluft


Jornal do Comércio
Em setembro de 1955, pela primeira vez, o palco do Tablado, no Rio de Janeiro, assistiu à montagem de Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado. Em 2013, o mesmo Tablado promove nova produção daquele texto, provavelmente o trabalho mais referencial da dramaturga, e que a consagrou nacionalmente. A atriz Cláudia Abreu resolveu reencenar a peça, que ela já interpretara anteriormente. É esta montagem a que assistimos no final da semana passada, no espaço do Theatro São Pedro. Cacá Mourthé, que igualmente já interpretara o texto, é quem assina a direção do espetáculo. Assistir a este texto, uma vez mais, é fazer a prova dos nove: o texto tem a poesia que envolve os pequenos; o humorismo que encanta as crianças mais velhas e, em última análise, diverte e satisfaz aos adultos. Em suma, Pluft, o fantasminha, continua sendo um espetáculo mágico, cujo texto criativo é poético, inolvidável e emocionante. 

Em setembro de 1955, pela primeira vez, o palco do Tablado, no Rio de Janeiro, assistiu à montagem de Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado. Em 2013, o mesmo Tablado promove nova produção daquele texto, provavelmente o trabalho mais referencial da dramaturga, e que a consagrou nacionalmente. A atriz Cláudia Abreu resolveu reencenar a peça, que ela já interpretara anteriormente. É esta montagem a que assistimos no final da semana passada, no espaço do Theatro São Pedro. Cacá Mourthé, que igualmente já interpretara o texto, é quem assina a direção do espetáculo. Assistir a este texto, uma vez mais, é fazer a prova dos nove: o texto tem a poesia que envolve os pequenos; o humorismo que encanta as crianças mais velhas e, em última análise, diverte e satisfaz aos adultos. Em suma, Pluft, o fantasminha, continua sendo um espetáculo mágico, cujo texto criativo é poético, inolvidável e emocionante. 

A atual montagem, inteligentemente, não quis inventar a pólvora nem quebrar padrões. É um espetáculo linear, simples e eficiente, que faz rir e permite que o belo texto de Maria Clara Machado seja ouvido pela criança, que ouve e entende, e porque entende se identifica, e ao se identificar, acha graça e ri. Para o adulto, esta montagem tem um elemento a mais de atração: logo antes de iniciado o espetáculo, apresenta fotografias dos intérpretes da primeira encenação, e logo depois uma entrevista da dramaturga, contando a gênese de criação do texto. Só isso já valeria a pena. Mas como, afinal, a encenação é dirigida às crianças, e certamente não é isso que as atrai, passamos ao espetáculo. 

Aberta a cena, os três jovens marinheiros salvadores de Maribel, atrapalhados, prendem de imediato a atenção do público. A marcação é simples, mas precisa. O cenário de Ronald Teixeira e Flávio Graff permite a duplicação dos espaços: fora e dentro da casa. E assim o espetáculo não perde sua dinâmica.

Outro momento que atrai a gurizada é quando o pirata entra na casa, com a menina Maribel como prisioneira, disposto a encontrar o tesouro, e então Pluft, e depois o tio Gerúndio, apagam sua vela, escurecendo o lugar e causando medo no pirata (parêntesis: que belo achado o nome do tio, Gerúndio: o tempo verbal, no idioma português, indica uma ação em desenvolvimento, apontando para o infinito, tempo ideal para um fantasma, pois não?). A mãe faz pastéis de vento (outro achado) e Pluft, gradualmente, vence o medo de gente e até se diverte assustando aos marinheiros ou ao próprio pirata. A linguagem de Maria Clara é preciosa, pequenas passagens que nos mostram sua atenção para com a psicologia infantil: quando a menina chora, Pluft observa, aflito, para a mãe, que Maribel “está derramando o mar todo pelos olhos”, do mesmo modo que a mãe lembra que, quando o marido morreu, transformou-se em papel celofane... eis uma dramaturga extraordinária, atenta aos modismos e ao modo de ver infantil, sem artificialismos, mas com um ouvido eficiente para registrar tais observações.

O espetáculo tem aventura, tem surpresas, tem humor e, sobretudo, escapa de maniqueísmos. O Pirata não vai matar Maribel, mas quer casar-se com ela (claro, hoje em dia, pode ser até pior, mas não ocorria isso naquela época...). Parece valentão, mas é tão medroso quanto os marinheiros que vêm salvar a menina. Assim, a dramaturga aproxima os personagens da experiência cotidiana da gurizada, que pode se identificar com as figuras em cena, abrindo caminho para elaborar seus próprios problemas, angústias e dúvidas.

Se o Brasil tem uma certa tradição na literatura dirigida às crianças, não tem esta mesma tradição na dramaturgia para crianças. O início da criação de textos deste tipo se dá a partir do final do século XIX, com Figueiredo Pimentel e Olavo Bilac. No final da primeira metade do século XX, foi a vez de se destacar Lúcia Benedetti, mas ainda com um certo apego ao aspecto pedagógico que se entendia os textos devessem ter. Foi Maria Clara Machado quem, retomando a cruzada de Monteiro Lobato na prosa para crianças, quebrou tabus e desenvolveu efetivamente um trabalho preocupado com a emancipação infantil, e não seu modelamento segundo padrões adultos. Por isso ela é importante, e por isso ela continua nos encantando, como no caso deste Pluft.

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