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Coluna

- Publicada em 22 de Agosto de 2014 às 00:00

São Paulo surrealista entra em cena


Jornal do Comércio
O melhor da agenda teatral de São Paulo, onde estive na semana passada, provavelmente seja o filme do recentemente falecido Alain Resnais, Amar, beber e cantar. Quanto às salas teatrais, continuam as stand up comedies, alguns espetáculos cômicos que, pelo sucesso de público, como os antigos folhetins, têm a continuidade batizada de espetáculo A-2, e assim por diante. Alguns poucos trabalhos, e então quase sempre em salas fora do perímetro central da cidade, recriam textos que já fizeram a história da dramaturgia brasileira, como As moças, de Isabel Câmara, e uns outros mostram que alguns dramaturgos que se sobressaíram nos anos 1970 e 1980 sobrevivem ainda hoje, como Flávio Marinho (Academia do coração), Carlos Meceni (Assalto alto) ou Ronaldo Ciambroni (As filhas da mãe). 

O melhor da agenda teatral de São Paulo, onde estive na semana passada, provavelmente seja o filme do recentemente falecido Alain Resnais, Amar, beber e cantar. Quanto às salas teatrais, continuam as stand up comedies, alguns espetáculos cômicos que, pelo sucesso de público, como os antigos folhetins, têm a continuidade batizada de espetáculo A-2, e assim por diante. Alguns poucos trabalhos, e então quase sempre em salas fora do perímetro central da cidade, recriam textos que já fizeram a história da dramaturgia brasileira, como As moças, de Isabel Câmara, e uns outros mostram que alguns dramaturgos que se sobressaíram nos anos 1970 e 1980 sobrevivem ainda hoje, como Flávio Marinho (Academia do coração), Carlos Meceni (Assalto alto) ou Ronaldo Ciambroni (As filhas da mãe). 

Um espetáculo que me chamou a atenção, por isso mesmo, foi São Paulo surrealista, realização que, embora premiada e financiada parcialmente pelo governo do estado paulista, é uma produção off grandes teatros e companhias. Trata-se da Cia. Teatro do Incêndio, de Marcelo Marcus Fonseca, com direção de Wanderley Martins. Seu foco é a passagem de André Breton pela cidade de São Paulo, na década de 1920, permitindo-lhe reviver a estética e os autores do surrealismo, de Alfred Jarry a Antonin Artaud, Mário de Andrade e Patrícia Galvão, numa leitura que procura ser atualizada em relação ao momento contemporâneo da cidade e da sociedade brasileira em geral.

A sala, pequena, acanhada - que surpreende ter liberação de bombeiros e alvará da prefeitura - fica na rua da Consolação. Um elenco jovem e numeroso mescla músicos e atores, numa iniciativa de resistência cultural, pelo que é explicado pelo diretor, ao final do espetáculo, sem terem salários fixos. O espetáculo acha-se há ano e meio em cartaz, o que supõe boa receptividade de público (e de crítica). Na noite em que assisti ao trabalho, contudo, debaixo de chuva (felizmente, para São Paulo), a plateia era acanhada, mas isso não tirou o entusiasmo e a dedicação do elenco.

São Paulo surrealista lembrou-me muito alguns trabalhos do Oficina, do José Celso Martinez Corrêa, que, aliás, está apresentando Cacilda!!! A rainha decapitada, sobre a relação entre a atriz Cacilda Becker e o diretor Adolfo Celi, responsáveis pelo TBC, nos anos 1940, espetáculo com mais de 4 horas de duração! A relação entre um e outro me veio pela criatividade, pelo desafio, pela provocação, mas variedade de cenas que caracterizam o espetáculo a que assisti. É evidente que diretor e dramaturgista sabem bem onde querem chegar e o que querem dizer: mas isso pressupõe um público razoavelmente bem informado a respeito dos acontecimentos que servem de referência para o espetáculo. De qualquer modo, mesmo que não se domine este tipo de informação antes de se assistir ao espetáculo, fica o envolvimento do público pela multiplicidade de cenas, pelos inúmeros personagens que desfilam pelo espaço da cena e, sobretudo, pelas relações, às vezes inusitadas e inesperadas, entre personagens e passagens históricas, entre o presente e o passado, e assim por diante.

O elenco é equilibrado e altamente qualificado: afinal, a proximidade com o público, como num teatro de arena, exige muito mais de um intérprete do que numa situação de palco italiano ou com a existência da chamada quarta parede, em que o ator está mais protegido. Aqui, ele está a menos de um metro de distância da plateia. Além do mais, boa parte das cenas ocorre com figurinos sumários, o que por vezes excita a alguns dos espectadores e, mais que isso, o espetáculo pressupõe certa interatividade entre público e elenco.

Com cerca de 70 minutos de duração, São Paulo surrealista surpreende pela força: eis um espetáculo que Luciano Alabarse deveria programar para o Porto Alegre em Cena de um próximo ano.

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