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Histórias do Comércio e dos Serviços

- Publicada em 11 de Agosto de 2014 às 00:00

Ao Crochét mantém tradição dos armarinhos


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Jornal do Comércio
Na lojinha espremida entre salões de beleza e a Lancheria do Parque, na avenida Osvaldo Aranha, Ao Crochét não viu o tempo passar. Desde a década de 1950 instalado no número 1.126, o varejo comandando por Regina Katz, filha do fundador, o imigrante polonês Jacob Katz, exerce atração a quem busca itens que podem ser impossíveis de achar em comércios maiores ou convencionais. No Ao Crochét, consumidores de botões, de agulhas, linhas e lãs ou simples elásticos não saem decepcionados.
Na lojinha espremida entre salões de beleza e a Lancheria do Parque, na avenida Osvaldo Aranha, Ao Crochét não viu o tempo passar. Desde a década de 1950 instalado no número 1.126, o varejo comandando por Regina Katz, filha do fundador, o imigrante polonês Jacob Katz, exerce atração a quem busca itens que podem ser impossíveis de achar em comércios maiores ou convencionais. No Ao Crochét, consumidores de botões, de agulhas, linhas e lãs ou simples elásticos não saem decepcionados.
O ponto é também uma daquelas raridades. Maquininha para pagar com cartão de crédito ou débito ou cheque não são vistos nunca. Contar centavos para pagar um ou dois botões é algo comum entre os frequentadores. Assim como a proprietária mantém sempre abastecido um potinho de plástico com moedas para atender rapidamente ao troco de décimos ou centavos de real. Regina alega que já tem muitas coisas para cuidar dentro da loja, o que complicaria lidar com faturas e controle de contrato com operadoras de cartão e bancos.
Na vitrine, anúncios em letra off-set avisam “Lã – linhas - miudezas, tudo para seu lar. Tem telas para bordar, ponto cruz, patchwork.” “Aqui entram crianças, atrás de pedrinhas para fazer colares na escola até mulheres com mais de 90 anos”, relata a proprietária. “Isso me emociona“, rende-se Regina. A maioria ainda conserva a prática de fazer blusas de lã, que exigem agulhas de espessura mais fina, média ou grossa. “Faltou um novelo e vim comprar”, avisa uma senhora que adentra o armarinho e não quer muita conversa. Não dá tempo nem para dizer o nome. “Tenho pressa, preciso terminar uma blusa que vou doar para uma entidade assistencial”, justifica a senhora, com uma acompanhante que sorri diante da vitalidade da nonagenária.
No fim da manhã, o arquiteto e urbanista Antonio Filippini entra rapidamente pela porta, cumprimenta Regina com intimidade de quem há décadas frequenta o comércio e anuncia sua demanda. “Minha filha pediu para comprar um elástico de 10 centímetros de largura para colocar nessa calça”, apresenta Filippini, morador do Bom Fim e que confirma uma estatística de Ao Crochét. “Homens são os que mais compram elástico”, assegura a proprietária, que confessa não saber a razão, apenas que sua tese não falha. O arquiteto é sua prova.
A enfermeira Jaqueline Holz, 26 anos, conta que veio descendo a avenida Protasio Alves, desde o bairro Petrópolis, entrando e saindo de comércios com algum tipo de aviamento até encontrar no Ao Crochét. “Queria umas pedrinhas e uma renda para bordar em uma camisa, mas não é fácil encontrar”, explica a enfermeira. “Gosto de fazer bordados e tricô. É meu passatempo”, comenta a jovem, nativa de Santa Rosa, no Noroeste gaúcho, onde esses hábitos mantêm-se em alta. “Perdemos muito espaço para o comércio de roupa pronta”, lamenta a lojista. Em minutos, Regina emplaca uma animada conversa com a nova cliente, sugerindo alternativas para o bordado da camisa branca de tecido delicado.

Loja marca 80 anos dos Katz na Capital

A primeira versão de Ao Crochét surgiu em 1935, no número 1.216, menos de 100 metros do atual endereço, na avenida Osvaldo Aranha. No princípio, os produtos principais eram roupas e tecidos. O ponto foi aberto pelo pai de Regina Katz, o judeu polonês Jacob Katz, que chegou à Capital em fevereiro de 1928. Na época, itens importados eram trazidos para o comércio local. A herdeira e única à frente do negócio, com quase 80 anos, lembra que a família passou dificuldades até conseguir construir o pequeno edifício que abriga o armarinho desde os anos de 1950.
“A gente trabalhou muito, não sabia o que era sábado e domingo”, conta a comerciante. Em casa, era ela e mais duas irmãs – Rosa e Raquel. Regina optou por estudar e trabalhar na loja. Jacob teve a ideia de especializar o ponto em artefatos de costura e para peças de tricô e crochê. Depois que o pai abriu o ponto, outras casas surgiram no mesmo ramo e movimentaram por décadas a região comercial do Bom Fim, bairro com população de origem judia, mas que mudou sua fisionomia, com a chegada de novos empreendimentos e o tráfego intenso. A herdeira detecta que há cada vez menos oferta de artigos nacionais para renovar a prateleira.
Outra possibilidade é que poucos operadores de comércio do segmento de costura e trabalhos artesanais conseguem reproduzir a diversidade da lojinha dos Katz. “Há outros comércios, mas muita coisa só se encontra aqui”, valoriza Regina, que não cogita transferir a gestão do armarinho a um sucessor mais jovem ou vender o ponto. Ela não informa de jeito nenhum a idade, mas revela uma paixão jovial por fotografia. “Mas me fotografar tu não vai não”, avisa.
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