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Coluna

- Publicada em 08 de Agosto de 2014 às 00:00

Entre o egoísmo e as máscaras


Jornal do Comércio
A dramaturga alemã Rebeca Kricheldorf (cujo nome também aparece como Rebekka) nasceu em Freiburg, no ano de 1974. Formada em línguas latinas, ela integra a paisagem dramatúrgica alemã já há alguns anos, tendo recebido premiações variadas. A coisa no mar foi o texto escolhido para a montagem da jovem diretora Jéssica Lusia, vencedora do 5º Concurso para Novos Diretores de Teatro, que o Instituto Goethe promove, em conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura, de Porto Alegre. O Goethe mantém, há muitos anos, diferentes projetos que buscam traduzir, montar e tornar conhecida a dramaturgia contemporânea alemã, com excelentes resultados. Neste caso, temos uma situação até certo ponto inusitada: um barco de passeio, ancorado no cais para receber uma festividade, solta-se de suas cordas e seus cinco passageiros encontram-se, de repente, em alto mar, ameaçados por alguma coisa que os vigia desde a água.

A dramaturga alemã Rebeca Kricheldorf (cujo nome também aparece como Rebekka) nasceu em Freiburg, no ano de 1974. Formada em línguas latinas, ela integra a paisagem dramatúrgica alemã já há alguns anos, tendo recebido premiações variadas. A coisa no mar foi o texto escolhido para a montagem da jovem diretora Jéssica Lusia, vencedora do 5º Concurso para Novos Diretores de Teatro, que o Instituto Goethe promove, em conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura, de Porto Alegre. O Goethe mantém, há muitos anos, diferentes projetos que buscam traduzir, montar e tornar conhecida a dramaturgia contemporânea alemã, com excelentes resultados. Neste caso, temos uma situação até certo ponto inusitada: um barco de passeio, ancorado no cais para receber uma festividade, solta-se de suas cordas e seus cinco passageiros encontram-se, de repente, em alto mar, ameaçados por alguma coisa que os vigia desde a água.

Eis uma situação-limite que serve de boa base para o desenvolvimento de uma dramaturgia que busca, sobretudo, a revelação da verdadeira face de personagens que vivem das e nas aparências, marcados por seus egoísmos.

Com mais de hora e meia de duração, a estreia da peça ocorreu com a presença da autora, que participou, inclusive, depois do espetáculo, de um debate com o público. Sabe-se que a diretora optou por não cortar nenhuma fala ou cena, o que surpreendeu a própria dramaturga. Toda a primeira parte do espetáculo, que dura quase uma hora, é extremamente literária e conceitual, com o comando de Carla, uma mulher de 42 anos, médica, viúva, desiludida, mas que diz gostar da vida e ser alegre, apesar de um filho, Ronnie, de 14 anos, que ela pretende seja doente emocional e que, por isso mesmo, precisa freqüentar psicólogos. Sua amiga é Berenice, uma mulher cética, aos 53 anos de idade, ex-escritora que, como ela mesmo diz, em algum momento teve uma epifania e decidiu que não valia mais fazer qualquer coisa na vida. Ela se torna uma espécie de consciência das pessoas que com ela cruzam. Na situação dramática, de sua pretensa amiga Carla.

Carla está acompanhada do atual companheiro, um editor de revista masculina, Bóris, pouco mais velho que ela, e que, cínico quanto a relacionamentos, fez vasectomia justamente para jamais procriar e poder manter livremente seus romances sexuais. O grupo se completa com a garçonete Mimi, de apenas 18 anos, que se diz romântica e ainda guarda sua virgindade. 

Carla parece ser a grande força motriz de tudo. Gradualmente, porém, com a situação do barco perdido em alto mar e a ameaça da “coisa” que, em determinado momento, aparece, é Berenice quem toma as rédeas da situação, gravando fitas cassete em um aparelho que acabara de ganhar de presente de Carla, e do qual, num primeiro momento, desdenhara.

A peça tem cenas curtas, exige um pulso muito forte da direção e uma precisão nas interpretações, sob pena de arrastar-se. Mas isso não acontece naquela primeira hora, até o momento em que Bóris parece ser engolido, na madrugada, por aquela coisa, a que se seguirão outros desaparecimentos. O texto da peça segue num certo zigue-zague, porque, embora haja unidade dramática entre o início e o final das ações, graças ao gravador, a inversão de ênfases não fica muito clara ao longo do espetáculo. O que é simples brincadeira - a gravação das fitas por Berenice - transforma-se no mote condutor das ações dramáticas, ao final, configurando quase que duas peças diversas, ainda que partindo do mesmo tema.

O elenco jovem não consegue ter a força necessária para levar o texto, embora Natália Karam, que vive Berenice, acabe se impondo ao longo do espetáculo.

O esforço de toda a equipe vale pela revelação de uma nova escritora (para nós, no Brasil): a trilha sonora de Tomás Dornelles Piccini é o aspecto técnico mais interessante. A iluminação de Carina Sehn marca bem a passagem das cenas; os figurinos de Geluza Tagliaro são estranhos e ajudam muito na criação de um clima “fora do tempo e do espaço” que marca todo o espetáculo. A síntese de tudo é uma expectativa por novos encontros com a autora, a diretora e o grupo.

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