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- Publicada em 01 de Agosto de 2014

O diálogo e o ressentimento

Quando Franklin J. Schaffner realizou, em 1968, Planeta dos macacos, inspirado em livro de Pierre Boulle, o cinema dava início a uma série que continua até hoje, tal o fascínio que aquela história exerceu sobre os espectadores. Embora prejudicado por ser exibido em todo o mundo na mesma época em que as telas também mostravam a obra-prima de Stanley Kubrick, 2001: uma odisseia no espaço, o filme de Schaffner obteve repercussão. Seus dois roteiristas, Michael Wilson e Rod Serling, foram nomes importantes do cinema americano, assim como o diretor do filme. O primeiro, uma das vítimas do machartismo, teve de recorrer ao exílio e escreveu roteiros sem ser creditado. São dele os roteiros de Um Lugar ao sol, de George Stevens; Cinco dedos, de Joseph L. Mankiewicz; Adeus às ilusões, de Vincente Minnelli; e Laurence da Arábia, de David Lean. Serling, por sua vez, entre outros trabalhos, foi o roteirista de Sete dias de maio, um dos melhores filmes de John Frankenheimer, um olhar sobre a ameaça de um ataque da direita armada sobre as instituições democráticas. O sucesso de O planeta dos macacos foi tão grande que, entre os anos de 1970 e 1973, foram realizadas quatro continuações. No ano de 2001, Tim Burton realizou uma segunda versão do primeiro filme, um trabalho que merece ser esquecido. Dez anos depois, Rupert Wyatt realizou Planeta dos macacos - a origem, que tinha o objetivo de mostrar o primeiro episódio do processo devidamente esclarecido na última cena do filme de Schaffner. O filme que agora estamos vendo, Planeta dos macacos - o confronto é uma continuação do filme de Wyatt, portanto, mais um passo no rumo da vitória final dos símios.

O prosseguimento de uma história, a retomada de personagens e variações sobre um primeiro tema não são raridades. E não apenas no cinema, onde, por sinal, nos últimos tempos, tal prática é algo corriqueiro, quase sempre com resultados insatisfatórios, com algumas exceções, como o notável Batman, o cavaleiro das trevas, de Christopher Nolan.  O diretor Matt Reeves, que assina o novo filme, pode não ter alcançado os mesmos resultados obtidos por Nolan, mas é mais um realizador a provar que o cinema voltado para grandes plateias pode conseguir seu intento sem abdicar da inteligência e da busca por algo acima dos efeitos especiais. Em uma época na qual a maioria dos realizadores é seduzida pela poluição sonora, é interessante constatar que Reeves, nas cenas de batalha, como para acentuar sua contrariedade com a violência, corta ou diminui a intensidade do som e utiliza a música como elemento principal. Há outros momentos na narrativa que evidenciam que estamos diante de um filme no qual a busca de êxito de bilheteria vem acompanhada por um interesse em colocar o espectador diante de um dilema que não está apernas relacionado ao emprego de recursos técnicos.

O tema principal é bastante conhecido. Símios e humanos estão em conflito, pois os segundos, representados por sobreviventes de uma epidemia, necessitam da energia que pode ser obtida através de uma hidrelétrica desativada. Trata-se, portanto, de uma guerra que sintetiza e simboliza o processo de domínio de determinado território pela busca de matéria-prima necessária. Uns representam a natureza, e outros, o domínio dela. Ao descrever tal conflito, Reeves e seus roteiristas colocam em cena os dois lados em choque, suas razões e também tendências diversas. Isso evita o maniqueísmo e faz do filme uma interessante reflexão sobre a lucidez e a ira. No lado dos símios, o líder é a expressão da inteligência, mas seu principal auxiliar, que tem o nome de Koba, é o sectarismo concentrado numa figura. Seu nome é uma referência ao apelido escolhido por Joseph Vissarionovitch Djugashvili, antes de escolher outro nome que se tornou célebre: Stalin. Koba, que significa “o indomável” em turco, era o nome de um herói popular georgiano admirado pelo futuro ditador. Ao fazer tal referência, o realizador deixa claro sobre o que está falando e também sobre o reino das sombras que aguarda a civilização.  Os olhos do protagonista, no plano final, podem significar a vitória do ressentimento.