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direitos humanos

- Publicada em 28 de Julho de 2014 às 00:00

Casamentos coletivos no Estado agora com casais homoafetivos


GILMAR LUÍS/JC
Jornal do Comércio
A realização de casamentos coletivos com a possibilidade de inscrição de casais homossexuais ganhou força no Estado. Após o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovar em maio uma resolução que obriga os cartórios de todo o Brasil a celebrar o casamento civil e converter a união estável homoafetiva em casamento, neste semestre, três municípios realizarão a cerimônia gratuitamente. O primeiro será Santana do Livramento, no dia 13 de setembro. O segundo, em 25 de setembro, ocorrerá em Porto Alegre. O terceiro e último do ano acontecerá em Pelotas, no dia 6 de dezembro.

A realização de casamentos coletivos com a possibilidade de inscrição de casais homossexuais ganhou força no Estado. Após o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovar em maio uma resolução que obriga os cartórios de todo o Brasil a celebrar o casamento civil e converter a união estável homoafetiva em casamento, neste semestre, três municípios realizarão a cerimônia gratuitamente. O primeiro será Santana do Livramento, no dia 13 de setembro. O segundo, em 25 de setembro, ocorrerá em Porto Alegre. O terceiro e último do ano acontecerá em Pelotas, no dia 6 de dezembro.

A decisão da juíza da 3ª Vara Cível de Livramento, Carine Labres, de fazer a celebração em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG) e, ainda, no dia de início da Semana Farroupilha, gerou discussões na cidade fronteiriça. O motivo é que o movimento tradicionalista costuma ter pouca abertura a mudanças. O CTG Sentinelas do Planalto, contudo, abraçou a ideia. As inscrições para o casamento foram encerradas na sexta-feira e formalizarão a união de 30 casais, sendo um deles composto por homossexuais. O Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) não informou se a dupla é de mulheres ou de homens, a fim de preservá-la.

Na Capital, as 30 vagas já estão esgotadas. Entre elas há dois casais, um feminino e outro masculino, que serão juridicamente reconhecidos. O desembargador José Carlos Teixeira Giorgis, diretor do Memorial do Judiciário do Estado, entidade que ajuda a organizar o evento, lamenta a pouca presença de homossexuais. “Procuramos divulgar bastante a possibilidade da união homoafetiva, mas somente dois casais se interessaram, talvez pelo pioneirismo da ocasião. Pretendemos fazer uma integração para mostrar que não há nenhum tipo de preconceito, e encorajar a união civil homossexual”, afirma.

Com histórico de decisões a favor da comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT), a Justiça do Estado, segundo Giorgis, se esforçou para ser a primeira, também, a realizar um casamento coletivo com a nova possibilidade. O Rio de Janeiro, porém, foi a primeira unidade federativa a organizar o evento. Em 2001, o tribunal gaúcho foi pioneiro no País ao reconhecer um casal do mesmo sexo como entidade familiar.

Em nível nacional, o deputado federal Jean Wyllys (P-Sol) é o principal parlamentar a defender projetos nessa área. Ele propõe, entre outras, a Lei Gabriela Leite (4.211/2012), que regulamenta a atividade dos profissionais do sexo, a Lei João W. Nery ou Lei de Identidade de Gênero (5.002/2013), que estabelece mecanismos jurídicos para o reconhecimento da identidade de gênero, permitindo mudar sexo, prenome e imagem na documentação pessoal, e a Lei 5.120/2013, que altera o Código Civil para reconhecer o casamento civil e a união estável entre pessoas do mesmo sexo.

Apesar de, como parlamentar, o papel de Wyllys ser o de propor leis, o deputado questiona a eficácia de uma resposta puramente penal à homofobia, como ocorre em casos de racismo. “Isso minimizou o racismo? O movimento LGBT tem a obrigação de ser menos reacionário, mais progressista, libertário”, defende. Na visão do parlamentar, achar que o endurecimento de penas e prisões para injúria homofóbica e discriminação solucionariam o problema da homofobia é um equívoco. As sugestões dele são penas educativas, como trabalhar em entidades voltadas para homossexuais.

A presidente da Comissão Nacional de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maria Berenice Dias, discorda. “A criminalização da homofobia é indispensável. Criminalizar não significa colocar na cadeia, penas alternativas também são penas e, para que elas ocorram, precisa existir uma lei que diga isso”, explica. Segundo a advogada, a Justiça consegue conceder direitos, mas sempre a partir da legislação existente. “Porém, concordo que sejam punições brandas, que tenham um caráter pedagógico, como a Lei Maria da Penha”, destaca.

Políticas públicas são a base do Estatuto da Diversidade Sexual

Para sanar a falta de leis que protejam a comunidade LGBT, a OAB criou o Estatuto da Diversidade Sexual e coleta assinaturas da população para aprová-lo. “É um assunto difícil de ter avanços, tanto que o Jean Wyllys até hoje não conseguiu o número de assinaturas suficiente para apresentar a proposta do casamento civil igualitário, enquanto há outras pautas que atingem o mesmo número de assinaturas em 24 horas”, lamenta Maria Berenice.
O projeto necessita da coleta de assinaturas de 1% do eleitorado, cerca de 1,4 milhão de pessoas, para ser aprovado. Até agora, aproximadamente 60 mil assinaram a petição pública. O apoio pode ser dado pelo site www.estatutodiversidadesexual.com.br. “Estou decepcionada com a demora em conseguir essas assinaturas. Achei que as pessoas seriam mais sensíveis à dor do outro”, aponta a advogada.
No texto, são 106 artigos, distribuídos em 18 seções. Além de consagrar princípios, traz regras de direito de família, sucessório e previdenciário e criminaliza a homofobia. Aponta políticas públicas a serem adotadas nas esferas federal, estadual e municipal, além de propor nova redação dos dispositivos da legislação infraconstitucional, que precisam ser alterados.
A falta de apoio de católicos e evangélicos é um empecilho na implementação de legislação. “Estou fazendo uma campanha para que homossexuais, nestas eleições, não votem em quem não reconhece seus direitos. Acho que, assim, os evangélicos não seriam eleitos”, comenta Maria Berenice. A vulnerabilidade da comunidade LGBT, para a advogada, faz com que eles sintam necessidade de adotar a religiosidade da família, até para diminuir o sentimento de rejeição.
Jean Wyllys, ao contrário, tem uma postura mais integradora a respeito dos religiosos. “A comunidade evangélica não pode ser suprimida dos rumos da nação, do projeto de País que queremos. Esse projeto também tem que ser discutido por essa comunidade, que é crescente”, salienta. O diálogo com os religiosos é possível, conforme o deputado. “O que me preocupa não são os evangélicos, mas o fundamentalismo religioso, que nega, por exemplo, a pluralidade das famílias”, pondera.
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