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Coluna

- Publicada em 25 de Julho de 2014 às 00:00

Matando saudades da ópera


Jornal do Comércio
Estreada no, até certo ponto, acanhado espaço do auditório do Instituto de Artes, na rua Senhor dos Passos, no ano passado, a montagem da ópera Dido e Enéias retorna à cena, agora, no belo espaço do Theatro São Pedro. A troca de ambiência teve vantagens e desvantagens: evidentemente, ampliou a área de circulação dos intérpretes e permitiu a presença da orquestra camerística no subsolo, o que lhe ampliou a sonoridade. Mas as projeções, tanto com o texto do libreto, em português, quanto aquelas que constituem simultaneamente espaço e movimento cênico, com sugestões de passagem de tempo, ficaram prejudicadas, porque idealizadas originalmente para um outro espaço, aqui não tiveram a mesma eficiência, em parte por causa da distância maior entre o projetor e o palco, em parte porque as imagens perdiam-se, muitas vezes, nas cortinas da boca de cena. De qualquer modo, a comparação que faço é a partir do DVD que estava à venda, no saguão do teatro, e que documenta toda a encenação. Para o público, porém, que não o assistiu, certamente este pormenor passa praticamente despercebido.

Estreada no, até certo ponto, acanhado espaço do auditório do Instituto de Artes, na rua Senhor dos Passos, no ano passado, a montagem da ópera Dido e Enéias retorna à cena, agora, no belo espaço do Theatro São Pedro. A troca de ambiência teve vantagens e desvantagens: evidentemente, ampliou a área de circulação dos intérpretes e permitiu a presença da orquestra camerística no subsolo, o que lhe ampliou a sonoridade. Mas as projeções, tanto com o texto do libreto, em português, quanto aquelas que constituem simultaneamente espaço e movimento cênico, com sugestões de passagem de tempo, ficaram prejudicadas, porque idealizadas originalmente para um outro espaço, aqui não tiveram a mesma eficiência, em parte por causa da distância maior entre o projetor e o palco, em parte porque as imagens perdiam-se, muitas vezes, nas cortinas da boca de cena. De qualquer modo, a comparação que faço é a partir do DVD que estava à venda, no saguão do teatro, e que documenta toda a encenação. Para o público, porém, que não o assistiu, certamente este pormenor passa praticamente despercebido.

A iniciativa do Instituto de Artes da Ufrgs é extremamente bem-vinda. Dido e Enéias, de Henry Purcell, leva ao auge a experiência da mascarada inglesa, abre o caminho para a ópera, na corte britânica, mas, ao mesmo tempo, antecipa o desaparecimento deste tipo de espetáculo: quando Handel chega a Londres, a ópera que aí se faz já aderiu ao modelo italiano. A obra de Purcell, ao fugir da obrigação de louvar ao soberano, pode centrar-se no enredo: por ser um divertimento de corte, dava ênfase ao bailado, portanto, ao coletivo da encenação, ao contrário da futura ópera italiana, que destacaria o cantor solista, valorizando as árias que consagrariam primas donnas e tenores.

A encenação que aí temos esmerou-se no cuidado da produção: o maestro convidado, Diego Schuck Biasibetti, tem bom comando da orquestra; ficou claro, porém, que praticamente ninguém olhava para o maestro, que se via constrangido a seguir os cantores, e não o inverso. Certamente, isso se deverá ou ao espaço diferenciado em que agora a encenação se deu, ou pela falta de experiência dos intérpretes. Seja como for, as coisas andaram no ritmo (sem trocadilho). O cenário de Marco Fronkowiak tratou de ocupar o espaço cênico com economia: de fato, temos apenas a cadeira da rainha em cena. Tudo o mais, são adereços acrescidos aos figurinos, de Daniel Lion, e a um bom trabalho de iluminação e de projeções, graças a Fernando Ochôa. Assim, o palco nunca ficou vazio, e as passagens de luz e sombra alcançaram seus objetivos. O resultado da encenação foi altamente positivo e, sobretudo, vem suprir a falta das antigas encenações que o Centro de Cultura Musical da Pucrs, com o patrocínio da Cia. Zaffari, promoviam em nossa cidade. Neste sentido, seria muito bom que a montagem de Dido e Enéias pudesse ser encenada mais vezes, e que outras óperas viessem a ser produzidas. Tenho certeza que um bom projeto apresentado ao governo federal pode garantir verbas para tal iniciativa.

Cynthia Barcelos interpretou Dido, enquanto Lucas Alves viveu Enéias. São intérpretes jovens, com bonitas tonalidades de voz, mas a quem falta ainda uma projeção vocal, o que vão adquirir com o tempo. Suelen Matter viveu a aia Belinda com bastante empenho, mas quem mais me chamou a atenção foi Hevelyn Costa, que interpreta a Segunda Mulher (tem uma bela voz e excelente interpretação dramática) e Débora Elisa Sydow, que vive a Primeira Bruxa: houve cuidado com a articulação da frase, ao lado da correta entonação, sem descurar da encenação propriamente dita. Pessoalmente, contudo, dispensaria o falso sorriso grudado nos rostos de todos os intérpretes (afinal, estamos diante de uma ópera encenada no século XXI e que não tem qualquer relação com o balé clássico russo ou francês). Dispensável, igualmente, a dramatização do coral, que tira a atenção do palco e, ao mesmo tempo, quase não é visto, pois se encontra em uma zona escura.

No mais, louve-se a iniciativa de toda a universidade, seu esforço e sua persistência. Vai ser muito bom se o Instituto de Artes assumir, junto à comunidade, a encenação de algumas óperas, sobretudo aquelas que pouco ou jamais foram assistidas na cidade.

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