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Coluna

- Publicada em 04 de Julho de 2014 às 00:00

Soberba lição de teatro


Jornal do Comércio
Não poderia ter sido melhor para comemorar o aniversário do Theatro São Pedro (27 de junho) do que a única (infelizmente) apresentação do musical Godspell, original de Stephen Schwartz, que aqui recebeu excelente versão dos textos e adaptação musical de Everton Rodrigues, com direção coreográfica de Carlota Albuquerque e direção-geral de Zé Adão Barbosa. Este espetáculo estreou em fins do ano passado, na vizinha cidade de Canoas. E, justamente no dia 27 de junho, aniversário do nosso teatro, também a cidade vizinha comemorava sua data natalícia: 75 anos de Canoas, 156 anos de Theatro São Pedro.

Não poderia ter sido melhor para comemorar o aniversário do Theatro São Pedro (27 de junho) do que a única (infelizmente) apresentação do musical Godspell, original de Stephen Schwartz, que aqui recebeu excelente versão dos textos e adaptação musical de Everton Rodrigues, com direção coreográfica de Carlota Albuquerque e direção-geral de Zé Adão Barbosa. Este espetáculo estreou em fins do ano passado, na vizinha cidade de Canoas. E, justamente no dia 27 de junho, aniversário do nosso teatro, também a cidade vizinha comemorava sua data natalícia: 75 anos de Canoas, 156 anos de Theatro São Pedro.

O espetáculo original estreou em Nova Iorque em 1971, um ano depois do enorme sucesso de Jesus Cristo Superastro. Não alcançou nunca o mesmo sucesso daquele espetáculo anterior, provavelmente pela trilha sonora ser menos inspirada, mas deixou um clássico, Day by Day, que inteligentemente, Ze Adão-Everton mantiveram parcialmente na versão original, nesta encenação.

É curioso isto: Canoas está ao lado de Porto Alegre, mas nos é absolutamente desconhecida. Há dois anos, creio, Luciano Alabarse teve a excelente ideia de levar o Théâtre du Soleil para se apresentar em espaço público cedido por aquela municipalidade. De certo modo, agora, o prefeito Jairo Jorge retribui a simpatia, trazendo o espetáculo financiado pela municipalidade que administra, até a nossa cidade e, especialmente, ao Theatro São Pedro. Coincidência feliz, que trouxe lucro ao público porto-alegrense, infelizmente, presente em pequeno número na sala de espetáculos, já que a maioria do público era de Canoas mesmo. Azar de quem não viu, perdeu um dos espetáculos mais bonitos, mais bem feitos e mais bem produzidos dos últimos anos em nosso Estado.

Zé Adão foi extremamente feliz em suas escolhas. O elenco é totalmente harmonioso, de qualificação vocal admirável, e com um domínio na execução da leve e alegre coreografia de Carlota Albuquerque, que nos surpreende. Zé Adão formou um grupo de onze atores-bailarinos que são, todos, solistas. Por isso mesmo, ele guardou uma composição musical para cada um, à exceção de Tiago Braatz, que interpreta Jesus, e Álvaro Rosacosta, que vive João Batista. A saída de Thainá Gallo do elenco, pois já está em São Paulo, fazendo sua carreira, trouxe para substituí-la Angela Spiazzi, do grupo Terpsi de Dança, que assumiu, evidentemente, um desafio, não pela dança, mas pelo canto. Saíram-se bem - ótimos, excelentes - todos: em cada solo a gente admira firmeza, tonalidade, potência, segurança, alegria. O público se encanta. Que bom que todos os espetáculos musicais fossem assim!

O diretor teve um bravo auxiliar na figura da coreógrafa e de Raul Voges, um dos atores, e ocupou sensivelmente todo o espaço do palco, valorizando-o. Além disso, a existência dos praticáveis, a caçamba envelhecida do automóvel, as telas de separação de espaços, o colorido recriado dos figurinos, por Antonio Rabadan, mais as projeções visuais de Daniel Jaineche, com a iluminação meio psicodélica (como se dizia então) de Maurício Moura e João Fraga, nos devolvem às ruas de uma grande cidade, Nova Iorque, São Paulo ou Porto Alegre, onde um grupo de moradores de rua vivem a chegada da boa nova (que é justamente o que significa a expressão “godspell”, inglês arcaico relativo a “gospel”, forma musical que surgiu no final do século XIX nos Estados Unidos: a boa nova da chegada do Salvador), mito revificado da religião cristã, que ganha ares poéticos e festivos, numa narrativa encantadora, que comove mesmo àqueles não crentes, porque aí se reconhece justamente a força comunicativa deste mito.

É uma lástima que não haja oportunidades de se ter uma temporada deste espetáculo, antes de mais nada, lição de teatro, em todos os sentidos, para todos nós, lição de amor e de alegria ao teatro, lição de sensibilidade de uma administração musical, lição de que se pode, sim, fazer teatro de altíssima qualidade em nossa região. Só Luciano Alabarse para sonhar esta loucura. Só Zé Adão para concretizá-la.

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