As escolhas dos turistas estrangeiros vinculados à Copa do Mundo são quase uma unanimidade quando o assunto é o que fazer em Porto Alegre. A maioria tem permanecido na Capital de três a quatro dias e divide seu tempo entre assistir aos jogos, no estádio ou pela televisão, e comemorar os resultados ou simplesmente descontrair em grupo frequentando bares, casas noturnas e as festas do Mundial 2014. Neste sentido, a Fifa Fan Fest é o lugar mais procurado pelos turistas. Mas há os que prefiram confraternizar com os moradores locais, e rumam em busca de diversão pelas ruas de bairros como Moinhos de Vento, Bom Fim e Cidade Baixa, a exemplo do casal de australianos Vivian Paul e Annelies Van Dam. Eles chegaram na segunda-feira passada e, após o jogo entre Austrália e Holanda, seguiram viagem para Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre as experiências de que mais gostaram, segundo Annelies, foi participar de festas nas noites de terça e quarta-feira. “Gosto de conhecer pessoas, e, por aqui, tanto a comida quanto o vinho são muito bons”, diz a australiana.
Nos dias em que permaneceu na capital gaúcha, o casal de torcedores ainda conheceu lugares como o Praia de Belas Shopping e a orla do Guaíba, na altura do Gasômetro, além de caminhar pelo Bom Fim, circular pelo Mercado Público e desbravar a vida noturna do bairro Cidade Baixa. “O clima poderia ser um pouco mais quente, pois faz muito frio, mas, de resto, gostamos muito”, conclui Paul. “Os australianos preferem ir aos bares locais. Nesta noite, faremos o mesmo. Por enquanto, o que mais nos chamou a atenção foi a beleza das garotas brasileiras”, disse o torcedor de Sidney Andrew Jones, enquanto cumpria a pé o trajeto do Largo Glênio Peres para o estádio Beira-Rio — ao lado do colega Robbie Keswick —, na quarta-feira passada, antes do jogo.
Nesse clima de festa e futebol, uma maioria de estrangeiros homens e jovens tem buscado mais se divertir do que fazer turismo tradicional. Mas há muitos casais que optam por conhecer o Centro Histórico, e contratam os ônibus que fazem o city tour oficial, ou realizam por conta própria o trajeto que sai do Mercado Público e vai até o Gasômetro, passando pelo Santander Cultural, pelo Memorial do Rio Grande do Sul, pelo Margs e pela Casa de Cultura.
“Nesta última semana, praticamente todos os hóspedes que recebemos foram estrangeiros vinculados à Copa. Apenas uma família de Niterói (RJ), que já partiu para Gramado, destoava dos demais, que ou se aglomeravam assistindo aos jogos pela TV, ou saíam para as festas e partidas no Beira-Rio”, conta o proprietário do Hostel Boutique, Carlos Augusto Silveira, pontuando que o casal e os dois filhos optaram por conhecer a cidade em ônibus turístico e passearam de barco para contemplar o visual de dentro do Guaíba.
Os holandeses Willian Pheliphe Ludmila e Mariana Berte, que estiveram dois dias seguidos na Fan Fest e conheceram o Beira-Rio no dia do jogo contra a Austrália, fizeram questão de visitar o Centro Histórico. “Vimos prédios bonitos por lá”, resume Mariana. Em Porto Alegre desde o dia 14 deste mês, a família de torcedores argentinos formada por Domingo Gimenez, Letícia Chanampa e os filhos Mauro (14 anos) e Thomas (11 anos) ficará na cidade até o dia 26 de junho. Após assistir ao jogo de Argentina e Nigéria, eles retornam para a província de Catamarca. Até lá, pretendem conhecer os principais lugares que a Capital oferece para cultura e lazer. “Estamos circulando por toda a cidade, que é muito grande e linda”, afirma Gimenez.
Dentre os locais já visitados, o Centro Histórico foi a primeira parada da família. “As igrejas chamam a atenção pela beleza, principalmente a catedral”, completa. O grupo também já passou pela Usina do Gasômetro e circulou pela orla, seguindo até o Praia de Belas Shopping. “O entorno do rio é fantástico”, opina Letícia, emendando que ainda quer conhecer o Parque da Redenção e lamenta não poder ir para as praias gaúchas. “Nos recomendaram esse passeio, mas está muito frio e há muito vento.”
Tempo de estadia diminui os passeios
Na quinta-feira passada, a holandesa Elvira Steenbeek lamentava ter que voltar para casa após 13 dias no Brasil, sendo que as últimas três noites foram vividas em Porto Alegre, com muita festa. Antes disso, ela passou por São Paulo, onde assistiu ao jogo do Brasil contra a Croácia, e confraternizou com outros torcedores na Fifa Fan Fest local. Na capital paulista, ainda deu tempo para Elvira conhecer a agitada vida cultural e boêmia dos bares da Vila Madalena, que tem sido o principal destino dos turistas do Mundial. Já no Rio de Janeiro, passou pelas praias de Copacabana e Ipanema, circulou pela Lapa, foi ao Pão de Açúcar e ao Cristo Redentor — e se encantou com tudo. “Tenho muita vontade de voltar ao Rio”, admite. Em Porto Alegre, a holandesa se limitou a ir ao estádio para assistir ao jogo da seleção de seu país, não sem antes passar pela concentração na Fan Fest, e seguir para o burburinho da Lima e Silva com a República, na Cidade Baixa — onde a quantidade de gente que tem se reunido para beber e conversar levou a EPTC a fechar parte das ruas para a passagem de veículos durante a noite.
Da capital gaúcha, Elvira levará ainda a lembrança do pôr do sol do Guaíba e algumas compras feitas no Praia de Belas Shopping. “Não deu para fazer mais que isso, foi muito pouco tempo”, lamenta a torcedora. Assim como ela, vários outros visitantes deram um rasante pela cidade, sem conhecer ao menos os principais pontos turísticos. “Nós tentamos incentivar que eles conheçam ao menos os prédios históricos e as galerias de arte aqui do bairro Floresta, no entorno da hospedagem”, diz o proprietário do Hostel Boutique, Carlos Augusto Silveira. “Mas esse é um tipo de turista que está atrás de festa”, conclui. Com o estabelecimento lotado, Silveira recebeu, nos últimos 10 dias, franceses, hondurenhos, holandeses, australianos, colombianos, equatorianos e um coreano, que está na Capital já há alguns dias. “Estamos muito contentes e impressionados, porque são todos muito educados e atenciosos — a ponto de recolher a louça do café da manhã para entregar à funcionária da cozinha”, elogia o empresário, que é presidente da Federação Brasileira de Hostels. Agora, admite Silveira, a expectativa fica por conta da chegada dos argentinos.
Museus são alternativas para quem permanece mais tempo
Para os visitantes que querem algo mais que bebidas diversas, papo descontraído de boteco, aglomerado de pessoas em festas nas ruas ou no Anfiteatro Pôr-do-Sol (onde ocorre a celebração oficial do Mundial), há atrações em Porto Alegre que são acessíveis e gratuitas. Alguns já se deram conta disso, e após se aventurarem pelo mundo das artes, voltam gratos pela oportunidade. “Eles ficam muito encantados com as opções culturais que a Capital oferece, e que, muitas vezes, nem os moradores locais sabem que estão acontecendo. Os dois locais mais citados são a Fundação Iberê Camargo e a Casa de Cultura Mario Quintana”, diz o sócio-proprietário do Casa Azul Hostel, Daniel Pereira. Localizado no bairro Cidade Baixa, o estabelecimento está lotado, com 90% de estrangeiros.
Segundo Pereira, até agora não houve nenhuma reclamação dos serviços da cidade. “Todos estão muito à vontade e satisfeitos”, garante o empresário, emendando que a “rotina” dos hóspedes da Copa tem sido sair do hostel às 8h, ir para o Centro Histórico, onde aproveitam para comer e beber até a hora do jogo, seguir para o estádio e voltar para o albergue já “iniciando os trabalhos” para sair à noite. “Eles também aproveitam para conhecer o contraste do bairro, e se encantam com coisas que, geralmente, não vemos graça”, admite o empresário.
Moradores da Capital, o casal de uruguaios Eduardo Vidal e Julie Perreil está recebendo os conterrâneos Miguel e Alberto Vidal, irmãos de Eduardo, desde a terça-feira passada. A dupla ficará na cidade durante toda esta semana, e deve conhecer atrações como a orla do Guaíba, a vida cultural e noturna do bairro Cidade Baixa e os principais museus. Depois, seguem para Gramado, Canela e Bento Gonçalves, em companhia dos anfitriões. Os hermanos se enquadram no grupo de turistas da Copa que busca algo mais que o roteiro oficial dos torcedores, que tem sido: Fifa Fan Fest, estádio Beira-Rio e concentração de bares — sendo a preferência dividida entre os do bairro Cidade Baixa e os da rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento. “Porto Alegre é uma festa, é um lugar para desfrutar tudo o que está disponível”, resume o argentino Matias Risé, que optou buscar diversão circulando com os amigos pela Padre Chagas na véspera do feriado de Corpus Christi. (AL).