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Coluna

- Publicada em 17 de Junho de 2014 às 00:00

Grandioso mas incompleto


CLAUDIO FACHEL/PALÁCIO PIRATINI/JC
Jornal do Comércio
O anúncio da Ópera açoriana, sobre e em frente ao Palácio Piratini, para comemorar a data da chegada dos 60 casais açorianos ao que hoje é a cidade de Porto Alegre, foi antecedido de uma expectativa enorme. Mas também gerou certa frustração, ao final da performance de cerca de uma hora de duração.

O anúncio da Ópera açoriana, sobre e em frente ao Palácio Piratini, para comemorar a data da chegada dos 60 casais açorianos ao que hoje é a cidade de Porto Alegre, foi antecedido de uma expectativa enorme. Mas também gerou certa frustração, ao final da performance de cerca de uma hora de duração.

Louve-se, desde logo, as iniciativas de Luiz Antonio de Assis Brasil e Marcelo Restori que, sob o patrocínio do governo do Estado, buscaram quebrar a monotonia de nossa paisagem cultural. É preciso ter coragem e ousadia, e isso não faltou aos idealizadores do espetáculo. A idéia básica era uma performance em torno da epopeia açoriana. Restori já demonstrou, em momentos anteriores, que tem competência para isso. A pesquisa de Gabriela Silva, a partir de estudos de Luiz Antonio de Assis Brasil, certamente levantaram perspectivas importantes. Por exemplo: o mito de que as ilhas dos Açores são remanescentes da antiga Atlântida, ou a importância das viagens no imaginário ilhéu, e assim por diante.

Restori idealizou um espetáculo verdadeiramente desafiador e emocionante: teve a sorte de encontrar o apoio necessário, mas nem sempre concretizado, das condições meteorológicas. Apesar do frio, nenhuma nuvem, nenhum vento. O céu estrelava. Nove bailarinas, duas atrizes, duas performers de rapel cênico: este o elenco. Mas talvez a grande atração fossem, mesmo, os guindastes que sustentavam os elásticos e fiações que seguravam as performers ou, ao final da encenação, trouxeram a embarcação alada que, saindo da parte mais alta do palácio, projetou-se sobre o espaço aberto na rua Duque de Caxias. Como uma aparição fantástica, como um antigo monstro - mas este do bem -, o navio balançou e baixou, mas quando todos esperávamos que ele descesse até a praça e dali, quem sabe, surgissem os colonizadores, ele retornou aos céus e o espetáculo se encerrou. Faltou aquele clímax tão necessário a uma encenação deste tipo.

O investimento em criatividade e em inventividade para concretizar o espetáculo foi enorme. Mas quando se faz um grande plano, corre-se, evidentemente, um grande risco. E o conjunto de riscos, aqui, era imenso: primeiro, o roteiro. Nem tudo o que se pesquisa pode ser utilizado em um único espetáculo. Aqui, evidentemente, muita coisa precisou ser deixada de lado, mas talvez as escolhas entre o que dizer e o que silenciar não tenham sido as melhores. Ao menos, elas não chegaram a alcançar uma unidade no texto, que deveria ser dramático: faltou emoção, no que sobrou de retórica e adjetivação. Em vez de ação dramática, tivemos narrativa. Comentário. Mas era para ser um espetáculo, e isso acabou por acontecer apenas parcialmente.

A coreografia de Aline Karpinski igualmente pode ter sido bem pesquisada e foi certamente bem executada, mas ficou sensivelmente prejudicada pelo fato de o plano original de iluminação não ter sido completamente realizado. Do mesmo modo, as performers e as atrizes: o espetáculo acabou ficando entre a luz e o lusco-fusco, nem sempre destacando aquilo que deveria ser mais observado. Como resultado, a coreografia ficou pesada e longa, repetitiva, sem conseguir desenvolver-se mais e afirmar-se, até mesmo pela falta de espaço a que as plataformas em que ela ocorreu a condenaram.

As performers, enfim, também enfrentaram percalços. Se abismaram o público, que aplaudiu, entusiasmado, evidenciaram pouca variação em seus voos. Foram igualmente prejudicadas pela dificuldade em os canhões de luz conseguir acompanhá-las em todos os movimentos.

Em síntese, foi um espetáculo bonito, inesperado e fora dos padrões. Vai ficar inesquecível. Mas não ficou bem acabado e que alcançasse todos os seus objetivos. Neste sentido, ficou parcialmente frustrado. É uma lástima, de qualquer modo, que ele não possa ser repetido, ao longo das próximas semanas durante a Copa. Seria uma bela atração para os visitantes da cidade e certamente permitira corrigir as falhas que apresentou. Faria maior justiça a seus criadores.      

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