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50 ANOS DO GOLPE

- Publicada em 02 de Abril de 2014 às 00:00

Herzog é assassinado no DOI-Codi de São Paulo


ACERVO INSTITUTO VLADIMIR HERZOG/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
O título deste texto não pôde ser lido no período que sucedeu aquele 25 de outubro de 1975, data da morte do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo. A versão publicada na época foi de suicídio. A retificação da certidão de óbito veio somente no ano passado, quando, por iniciativa da Comissão Nacional da Verdade e atendendo a pedido da família do jornalista, a Justiça de São Paulo determinou que passasse a constar que a morte de Herzog decorreu de “lesões e maus-tratos” sofridos durante interrogatório militar.
O título deste texto não pôde ser lido no período que sucedeu aquele 25 de outubro de 1975, data da morte do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo. A versão publicada na época foi de suicídio. A retificação da certidão de óbito veio somente no ano passado, quando, por iniciativa da Comissão Nacional da Verdade e atendendo a pedido da família do jornalista, a Justiça de São Paulo determinou que passasse a constar que a morte de Herzog decorreu de “lesões e maus-tratos” sofridos durante interrogatório militar.
Nascido na Iugoslávia e naturalizado brasileiro, Herzog foi um entre centenas de mortos pela ditadura militar brasileira. Integrante discreto do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi tachado - assim como os colegas que assumiram a direção de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, no dia 3 de setembro de 1975 - como comunista, ou seja, “inimigo” direto do regime comandado pelos militares e forças de segurança. Depois da reprodução de uma matéria da BBC sobre o vietcongue Ho Chi Min e a retirada das tropas norte-americanas do Vietnã, foi visado por conservadores da própria imprensa e pela linha dura do regime. “Viram o noticiário de ontem na TV Cultura? Falando do esquerdista vietnamita Ho Chi Min?”, provocou o colunista Cláudio Marques, que era ligado aos militares e à repressão. No dia 17 de outubro de 1975, o colega e jornalista Paulo Markun, então chefe de reportagem da TV Cultura, foi preso. Uma semana depois chegou a vez de Herzog.
O jornalista, que era muito mais ligado ao cinema e às artes do que à política de militância, trabalhou na BBC de Londres, logo depois do golpe. Em seu retorno ao Brasil, viu algumas portas na imprensa serem fechadas por ser taxado de subversivo. No ano de 1975, quando os grupos de resistência armada já haviam sido “exterminados” pelos militares, parte da cúpula das forças armadas pensava em distensionar o regime com a possibilidade de um retorno próximo à democracia. Outro grupo, por sua vez, era completamente contrário e começou a chamada “caça às bruxas” aos comunistas ou a qualquer pessoa suspeita para justificar a manutenção da ditadura. Neste ambiente, está o contexto da prisão de Herzog.
Conforme o jornalista Audálio Dantas (autor de “As duas guerras de Vlado Herzog”, vencedor do Jabuti no ano passado), a caça aos jornalistas, em 1975, começou em julho, três meses antes do assassinato de Herzog - 12º jornalista preso naquele período, ou seja, um dos últimos a chegar às celas do DOI-Codi, em São Paulo. “Ele só não foi preso antes porque exercia um cargo importante, nomeado pelo governador do Estado. Chegaram a dizer, absurdamente, que ele era agente da KGB (serviço secreto da ex-União Soviética) e do serviço secreto britânico”, disse Dantas ao Jornal do Comércio.
Sobre a repercussão da morte de Herzog na imprensa, Dantas reitera que a maioria das grandes redações se acovardou, não divulgando nada ou comprando a versão do II Exército, de que Herzog teria se suicidado.
“A Folha da Tarde, por exemplo, que era da Folha de S.Paulo, era completamente a favor da linha dura que estava dentro do governo Geisel”, diz. De acordo com Dantas, Herzog é um dos mais de 20 jornalistas brasileiros assassinados pelos militares durante o regime totalitário. O jornalista Rodolfo Konder depôs a um grupo de advogados, meses depois do assassinato de Herzog, sobre o que vira e ouvira nas celas do DOI-Codi, onde também esteve preso em 1975. “De lá, podíamos ouvir nitidamente os gritos, primeiro do interrogador e depois de Vladimir, e ouvimos quando o interrogador pediu que lhe trouxessem a ‘pimentinha’ e solicitou ajuda de uma equipe de torturadores. Alguém ligou o rádio, e os gritos de Vladimir se confundiam com o som do rádio. A partir de determinado momento, a voz de Vladimir se modificou, como se tivessem introduzido alguma coisa em sua boca; sua voz ficou abafada, como se lhe tivessem posto uma mordaça.”

Manifestantes protestam contra violência policial

No dia em que o golpe militar de 1964 completou 50 anos, movimentos sociais e centrais sindicais fizeram uma manifestação na zona Sul de São Paulo em repúdio à violência policial e aos projetos de lei antiterrorismo, em tramitação no Congresso Nacional. Segundo estimativas da Polícia Militar, cerca de 800 pessoas participaram ontem do protesto, chegando a ocupar uma das pistas da Avenida Paulista.
Os manifestantes, a maioria deles com camisetas de movimentos sociais, carregam cartazes com dizeres contra a violência policial em protestos e fotos de vítimas da ditadura. Dois caixões feitos de papelão lembram, também, brasileiros mortos durante o regime militar.
O grupo se dirigiu para as sedes do Ministério Público Federal, Secretaria da Justiça de São Paulo e gabinete da Presidência da República em São Paulo para entregar um documento com críticas aos projetos antiterrorismo e aos governos federal e estadual. Participaram do ato representantes do MST, MTST, CUT, MPL, entre outros. “Na maioria dos atos que fazemos, eles (governos estadual e federal) tentam combater os manifestantes com o uso de força policial. Não é diferente da ditadura”, criticou Joaquim Modesto Silva, da direção do MST.
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