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ENERGIA

- Publicada em 24 de Fevereiro de 2014 às 00:00

Ventos com a força de uma Itaipu


ELETROSUL/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
Se o Rio Grande do Sul não tem recursos hídricos para construir uma usina de Itaipu, que em 2013 foi responsável por atender a 16,9% da demanda brasileira de energia e 75% do mercado paraguaio, possui outra fonte renovável com igual potencial: o vento. O diretor de Engenharia da Eletrosul e idealizador do atlas eólico gaúcho, Ronaldo Custódio, recorda que esse mapa aponta que a principal “mancha de vento” da região encontra-se no Litoral e na Metade Sul. Essa última área, com destaque para os municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí, conforme a opinião de vários analistas, pode contribuir, tranquilamente, com a geração de mais de 10 mil MW eólicos (o que seria suficiente para atender à demanda média de dois estados do porte do Rio Grande do Sul). Como comparação, a hidrelétrica de Itaipu tem capacidade instalada para a geração de 14 mil MW. Custódio lembra que, em 2002, o atlas eólico gaúcho indicava que o Estado apresentava um potencial de geração de 15,8 mil MW, a 50 metros de altura, e de 115 mil MW, a cem metros.
Se o Rio Grande do Sul não tem recursos hídricos para construir uma usina de Itaipu, que em 2013 foi responsável por atender a 16,9% da demanda brasileira de energia e 75% do mercado paraguaio, possui outra fonte renovável com igual potencial: o vento. O diretor de Engenharia da Eletrosul e idealizador do atlas eólico gaúcho, Ronaldo Custódio, recorda que esse mapa aponta que a principal “mancha de vento” da região encontra-se no Litoral e na Metade Sul. Essa última área, com destaque para os municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí, conforme a opinião de vários analistas, pode contribuir, tranquilamente, com a geração de mais de 10 mil MW eólicos (o que seria suficiente para atender à demanda média de dois estados do porte do Rio Grande do Sul). Como comparação, a hidrelétrica de Itaipu tem capacidade instalada para a geração de 14 mil MW. Custódio lembra que, em 2002, o atlas eólico gaúcho indicava que o Estado apresentava um potencial de geração de 15,8 mil MW, a 50 metros de altura, e de 115 mil MW, a cem metros.
Alguns fatores da natureza explicam porque a maior parte desse potencial encontra-se no Sul do Estado e próximo ao Litoral. Há um grande fluxo de ar que se movimenta do oceano em direção ao charco argentino, formando uma corrente de ventos que passa pela Metade Sul. “É conhecido pelo gaúcho como vento Aragano, que forma esse corredor que varre o pampa”, detalha. Já no caso do Litoral, a incidência é do vento Nordeste, que se origina em um local de alta pressão atmosférica, no meio do oceano Atlântico, chamado de anticiclone do Atlântico Sul.
Custódio explica que venta mais no Litoral Sul do que no Norte por ser uma região mais afastada da Serra Geral, que tem uma influência aerodinâmica no comportamento das correntes. No Sul, o terreno torna-se uma grande planície, permitindo uma melhor entrada das rajadas. Além disso, quanto mais afastado da linha do Equador, maior é a intensidade do fenômeno de Coriolis, que é uma força associada ao movimento da Terra. O diretor reitera que ambas as regiões são muito promissoras do ponto de vista de geração eólica. Porém, como o Litoral Sul é pouco povoado e com extensas planícies, acaba tendo possibilidades maiores. O diretor-geral da Epcor, Nilo Quaresma Jr., é um dos que concorda com o termo Itaipu dos ventos para a Metade Sul, em especial, quando abrange os municípios de Rio Grande, Santa Vitória do Palmar e Chuí. Outro ponto que o dirigente ressalta é que, se comparado ao Nordeste do Brasil, o Sul tem uma vantagem, que é a média da temperatura anual ser mais baixa. Isso faz com que o vento gaúcho tenha uma densidade maior, por ser mais frio. Ou seja, na mesma velocidade que o vento nordestino, o “Minuano” gera mais energia.
“A eólica é a fonte do futuro na China, Estados Unidos, Alemanha, Espanha e está se espalhando pelo mundo e no País, particularmente no Rio Grande do Sul”, ressalta Quaresma Jr. O empresário classifica o Litoral Sul como mais vantajoso em relação ao Norte no que diz respeito ao potencial para a produção de energia eólica. Somente a Epcor possui mais de 2 mil MW em projetos a serem desenvolvidos em municípios como Rio Grande, São José do Norte, Canguçu, Piratini, Hulha Negra, entre outros. A companhia idealiza os projetos, desde o início da prospecção da área até o cadastramento na Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – braço do governo responsável pela elaboração de leilões de energia.
Quaresma Jr. revela que uma das maiores dificuldades para implementar projetos eólicos é a questão da regulamentação fundiária das terras nas quais serão implantados os parques. A Epcor desenvolveu o projeto Corredor do Senandes, em Rio Grande, cujo investidor é o grupo Odebrecht. O empreendimento, que será concluído em junho deste ano, terá 108 MW de capacidade instalada. Depois, mais 72 MW devem ser habilitados em novos leilões. Outro empreendimento em Rio Grande, desenvolvido pela Epcor, que já foi vitorioso em leilão e terá 55 MW de capacidade, terá o Grupo CEEE como investidor.

Litoral Norte continua com espaço para novos projetos

Apesar de o Litoral Sul e da região de Fronteira serem a atração da vez, a história da energia eólica no Estado iniciou mais “acima”. Osório foi o berço para os primeiros parques eólicos gaúchos (chamados de Osório, Sangradouro e Índios, que somavam 150 MW), finalizados em 2006. E, para o ex-presidente da Ventos do Sul (empresa constituída para a implantação dos complexos) e atual sócio-diretor da Brain Energy Energias Renováveis, Telmo Magadan, ainda há muito espaço para a instalação de parques no Litoral Norte gaúcho.
O dirigente ressalta que existe disponibilidade de terras nas áreas de incidência de vento. Além disso, a tendência é que a produção eólica seja otimizada, com o avanço da tecnologia. Magadan lembra que o parque eólico de Osório começou a explorar os ventos a cem metros de altura e hoje há torres com 110 metros. “Já se consideram tecnologias possíveis para 120 a 150 metros de altura, com capacidade para 3 a 5 MW”, adianta o executivo. Neste contexto, Magadan salienta que é importante realizar um novo atlas eólico gaúcho para atualizar os levantamentos e também um inventário ambiental do Rio Grande do Sul.

Novo atlas eólico deve ficar pronto em agosto

Franceschi calcula que o novo levantamento irá indicar uma grande expansão
na capacidade de geração | MARCOS NAGELSTEIN/JC

O Rio Grande do Sul está prestes a redescobrir a sua riqueza energética por meio de um atualizado atlas eólico. De acordo com o diretor de Infraestrutura e Energia da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Marco Franceschi, o trabalho foi iniciado e a perspectiva é de que seja concluído até agosto deste ano.
A estimativa de Franceschi é de que esse novo levantamento aponte um enorme aumento na capacidade de geração. O dirigente recorda que o primeiro mapa, quando foi concretizado no começo da década passada, levou em consideração medições feitas a 50 metros. O próximo documento abordará alturas que vão de cem a 150 metros. “Temos condições de gerar muito mais energia do que consumimos no Rio Grande do Sul”, aposta Franceschi.
O diretor da AGDI compartilha do entusiasmo dos empreendedores com a Metade Sul e a energia eólica. “A região mais deprimida economicamente do Estado também é a que tem maior potencial eólico”, compara o dirigente. Franceschi antecipa que essa situação significará um enorme ganho para aquela localidade, pois gerará volumosos investimentos. “É o grande potencial de energia do Estado hoje”, reitera. Segundo o dirigente, no total do Rio Grande do Sul em projetos concluídos, em desenvolvimento ou alinhavados, soma-se no momento aproximadamente 20 mil MW eólicos.

Obras de transmissão são necessárias para suportar crescimento

Se o potencial da geração eólica gaúcha pode ser considerado como quase ilimitado, o mesmo não se pode dizer do sistema de transmissão de energia. A região de Santana do Livramento, por exemplo, chegou ao limite da capacidade de conexão na rede, diz o diretor de Engenharia da Eletrosul, Ronaldo Custódio.
Já na área de Santa Vitória do Palmar, está sendo construída uma linha de 525 kV (pela Eletrosul e Grupo CEEE), que dará uma capacidade maior de escoamento. “Mesmo assim, há algumas restrições no sistema, e a energia começa a sofrer dificuldades de ser transmitida a partir de Pelotas”, aponta o dirigente.
Apesar desse obstáculo, Custódio revela que a boa notícia é que esse fato foi identificado pelo governo federal e a expectativa é de que sejam realizados leilões de obras de transmissão no Rio Grande do Sul, ainda em 2014, para resolver o problema. Devem ser contempladas regiões próximas aos locais de geração eólica. A partir do início das obras, depois da obtenção das licenças ambientais, Custódio calcula que, dentro de um ano e meio, será possível concluir as novas linhas de transmissão.

Investimentos bilionários tendem a aumentar

A instalação de cada MW eólico representa um investimento de aproximadamente R$ 4 milhões. A Eletrosul, com parceiros, participa no Estado de empreendimentos que totalizam 782,5 MW de capacidade instalada (operando ou em estágio de implantação). Desse número, 573,7 MW estão previstos para os municípios do Chuí e de Santa Vitória do Palmar. Esse volume poderá aumentar, caso a estatal seja novamente bem-sucedida na disputa de futuros leilões de energia com projetos da região.
Os leilões são disputas em que o governo federal comercializa a geração de energia, e, por consequência, permitem com que saiam do papel os projetos de usinas que apresentarem os menores preços. Segundo o diretor de Engenharia da Eletrosul, Ronaldo Custódio, parte da produção dos futuros parques da companhia, que tiveram a venda de energia assegurada em leilões já realizados, começa a entrar no sistema ainda em meados deste ano. Essa energia será procedente do complexo de Santa Vitória do Palmar. Se tudo transcorrer satisfatoriamente, todo o parque dessa cidade e o do Chuí poderá jogar energia na rede até o segundo semestre de 2015.
Custódio revela que a Eletrosul tem em carteira novos projetos em Santa Vitória do Palmar, aptos a participar de um próximo leilão, que somam mais 200 MW. Em planejamento mais embrionário, estão outros 1 mil MW. “Tem eólica para muito tempo naquela região”, atesta o diretor da estatal.
Além de Santa Vitória do Palmar e do Chuí, a empresa tem uma forte presença em Santana do Livramento. O complexo eólico Cerro Chato (90 MW), em operação plena desde dezembro de 2011, foi o primeiro empreendimento da estatal nesse segmento. A estrutura está sendo ampliada em 78 MW com a construção de mais cinco parques, que deverão estar em funcionamento pleno no primeiro trimestre deste ano. Na cidade, a Eletrosul também desenvolve mais cerca de 1 mil MW, além dos que estão em operação.
Na comparação dos dois locais, Custódio comenta que o melhor vento do Estado está em Santa Vitória do Palmar. Porém, em compensação, o custo da obra civil é maior do que em Santana do Livramento, por apresentar um solo arenoso.

Uruguai é a nova fronteira a ser explorada

Assim como as tradições, o vento é um elemento comum aos gaúchos e aos uruguaios. Por isso, a perspectiva é de que empresas de energia do Rio Grande do Sul aumentem a prospecção de negócios naquele país e também que se intensifique a interligação energética entre a nação vizinha e o Brasil.
O diretor de Engenharia da Eletrosul, Ronaldo Custódio, indica que essa será uma importante pauta nos próximos anos. O dirigente informa que, hoje, o Uruguai importa derivados de petróleo e os queima em termelétricas para gerar energia. A esperança para se livrar dessa dependência de um insumo fóssil e estrangeiro concentra-se na energia eólica e solar.
Custódio prevê que o Uruguai terá um caminho parecido com o do Rio Grande do Sul, com “a eólica vindo para ficar.” O diretor de Infraestrutura e Energia da AGDI, Marco Franceschi, diz que a parceria com os uruguaios já iniciou. O dirigente ressalta que há projetos naquele país sendo desenvolvidos por companhias gaúchas, com uruguaios.
Um desses casos é a porto-alegrense Epi Energia Projetos e Investimentos, que é controlada pelo grupo alemão Eab New Energy. A diretora da Epi, Annelise Dessoy, destaca que a companhia está entre os maiores desenvolvedores de energia alternativa no Uruguai. A ação envolve identificação da área, medição de ventos, realização do projeto, ingresso no leilão, entre outros passos. Na nação vizinha, a companhia conta com a uruguaia Seg Engenharia como parceira.
A empresa desenvolveu dois parques eólicos que estão sendo construídos no país vizinho e que somarão uma capacidade instalada de 150 MW. Também possui participação em um empreendimento fotovoltaico com 66 MW de capacidade instalada. Nos dois complexos eólicos, mais no fotovoltaico, o investimento somado é estimado em aproximadamente
US$ 500 milhões. A dirigente enfatiza que o potencial da energia renovável no Uruguai é promissor, mas, mesmo assim, não chega a se comparar com o de Santa Vitória do Palmar.
Uma das vantagens para os empreendedores que investem no Uruguai é que a geração de energia está mais valorizada lá do que no Brasil. Em janeiro, a estimativa era de que o MWh custava US$ 64,00 no Uruguai.
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