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Entrevista Especial

- Publicada em 17 de Fevereiro de 2014 às 00:00

PMDB não pode tardar em escolher o candidato, prega Ponte


JONATHAN HECKLER/JC
Jornal do Comércio
O experiente político Luis Roberto Ponte (PMDB) defende que o seu partido defina o quanto antes o candidato ao Palácio Piratini. Ele teme que a demora prejudique a formação de uma boa aliança e inviabilize a candidatura peemedebista quando for batido o martelo. O melhor nome para a eleição de 2014, conforme Ponte, é o de José Ivo Sartori, pois só o ex-prefeito de Caxias do Sul reuniria condições eleitorais e capacidade de unir em torno de si a base do partido no Estado.

O experiente político Luis Roberto Ponte (PMDB) defende que o seu partido defina o quanto antes o candidato ao Palácio Piratini. Ele teme que a demora prejudique a formação de uma boa aliança e inviabilize a candidatura peemedebista quando for batido o martelo. O melhor nome para a eleição de 2014, conforme Ponte, é o de José Ivo Sartori, pois só o ex-prefeito de Caxias do Sul reuniria condições eleitorais e capacidade de unir em torno de si a base do partido no Estado.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Ponte avalia ainda o impacto da escolha do palanque nacional sobre a candidatura local do PMDB. Ele acredita que, no Rio Grande do Sul, se o partido se vincular à candidatura de reeleição de Dilma Rousseff (PT), que terá o peemedebista Michel Temer como vice, irá perder votos para a provável candidata do PP, Ana Amélia Lemos. “Se o PMDB apoiar o PT nacional, na minha opinião, Ana Amélia está eleita.”

Na opinião de Ponte, aqueles que defendem o apoio a Temer e, portanto, a Dilma, estão usando a questão nacional para tentar desgastar a candidatura de Sartori, mesmo antes de ela ser admitida pela direção. A defesa de Paulo Ziulkoski (PMDB) para a disputa ao Piratini seria uma estratégia desse grupo pró-Temer, encabeçado pelo deputado federal Eliseu Padilha (PMDB).

Ele também analisa a situação do senador Pedro Simon (PMDB), que decidirá se deixa a vida pública ou concorre a mais um mandato ao Senado Federal. Para ele, o decano peemedebista também não pode mais prorrogar sua decisão sobre o pleito deste ano, para não atrapalhar a sua candidatura ou a de um aspirante a sucessor.

JC – O PMDB, no ano passado, dizia que definiria o candidato até novembro, para não repetir os erros de 2010. Faz certo em postergar a decisão sobre o candidato do partido ao Palácio Piratini, que só sairá em março?

Luis Roberto Ponte - Está no ponto de decidir. Não podemos tardar. Se tardar, vamos perder aliados. Não pense você que Ana Amélia, que é uma excelente candidata, tem um apoio muito grande. Há de ter muitas pessoas no PSB preferindo uma aliança com Ana Amélia. E tem muita gente que acha que a aliança boa é com o PMDB, pela afinidade de ideias e ações, e, sobretudo, no imaginário das pessoas. Tem que ser feito e concluído, na minha opinião, pelo menos um balizamento, um desenho neste mês para se comprometer com os aliados. O PSB vai dizer: quero um palanque aqui para o Eduardo Campos (PSB), topo o (candidato) de vocês, mas vocês têm de estar comprometidos. A gente tem que decidir isso. E tem que ter respaldo das bases. Não é o respaldo dos prefeitos, é da opinião pública dos eleitores do PMDB. Em que pese que os prefeitos geralmente saibam a tendência dos eleitores, e, por isso, são importantíssimos. Mas pode ter um prefeito que vai dizer que, para si, é melhor estar com Dilma, porque vai ganhar uma máquina no seu município. 

JC – Na sua avaliação, quem é o candidato do PMDB ao Palácio Piratini em 2014?

Luís Roberto Ponte - À luz das circunstâncias de hoje e do que já ocorreu, o melhor candidato para o PMDB é Sartori. Ele é hoje quem mais está unindo as bases. Acredito que Germano Rigotto (PMDB) faria um excelente governo. E fui do governo dele. As pesquisas dizem que Rigotto seria quem tem mais condições eleitorais de disputar.  Mas Rigotto nem deseja mais. Porque ele viu que a base do partido se inclinou para Sartori. E é um bom candidato. E pensou: “por que vou incentivar a disputa interna”? É uma posição de grandeza. Sartori é um bom candidato e pode recuperar esses números que ele ainda não tem (nas pesquisas). Para essa conjuntura, acho Sartori um candidato ideal. Vai unir o partido, tem condições de governar bem e eleitorais, porque tem o exemplo de quando governou. É um homem probo, que vai ajudar a introduzir nacionalmente a cultura da decência, que é a coisa mais importante hoje em nível federal. E a cultura da probidade mesmo, não é a de dizer, mas a de dizer e agir. Em nível nacional não se pode contemporizar com nada que não seja ético. Por isso, acho que Sartori é o candidato ideal. Inclusive nessa questão das alianças, minha intuição é de que ele tem uma boa potencialidade de aliança. Talvez não tanto quanto Rigotto – que é muito bem quisto por todos os partidos — mas ele tem uma condição, e Rigotto pode ajuda-lo nessa composição.

JC - Esse movimento pela candidatura de Paulo Ziulkoski, que parece ter apoio do deputado federal Eliseu Padilha, pela vinculação com a candidatura de Dilma Rousseff e Michel Temer, pode dividir o partido no Estado?

Ponte - Surgiu essa ideia, que não digo que não seja verdadeira, de que a preferência de  Sartori, nacionalmente, é por uma candidatura que não seja a do PT. Ele não tem nada contra Dilma. Tudo indica que Sartori acha que, eleitoralmente, o desejo dos eleitores do PMDB seja de não votar no candidato do PT para presidente da República. A intuição dele é de que os eleitores do PMDB não desejam que o partido não apoie o candidato do PT nacionalmente. Por um milhão de razões: o tratamento que temos tido do PT, pelo que achamos que o PT está fazendo de mal para o Brasil, embora saibamos das coisas boas. Michel Temer é uma pessoa de bem. Será doído para nós votar contra ele. Isso é conflitante? Ele mesmo, quando esteve aqui, deixou claro que liberava. Ele frisou a necessidade de um candidato que possa ajudar a ampliar as bancadas, porque o PMDB nacional é o número de parlamentares que vão se eleger. Então esse constrangimento não precisamos ter. Se o apoio a Temer prejudicar a eleição no Estado, nem ele vai querer. O PMDB tem que definir o candidato. O problema nacional vamos decidir com ele, em uma discussão mais ampla.  

JC – Se há estas definições o que falta para o partido anunciar a decisão?

Ponte – Temos que definir o candidato estadual independentemente de definir o candidato nacional agora. Porque estão usando que o Sartori irá vetar o PT para tirá-lo da jogada. “Ó, vamos criar o Ziulkoski”, é a estratégia de Padilha. Não o critico por fazer isso. Ele quer apoiar a Dilma, e tem todo o direito. Ele é amigo do Michel Temer e quer apoiá-lo. O objetivo dele é esse. Provavelmente, ele pouco está se interessando se vai eleger o melhor governador do Estado. Ele coloca o plano estadual em segundo plano. Para nós, é o contrário. E ele pode estar fazendo isso porque acha fundamental para o Brasil o PT governar. Não tiro o direito dele. Mas nossa visão é outra. Queremos fortalecer aqui para ajudar lá. Por isso, o PMDB tem que definir: o nosso candidato é esse aqui. 

JC - Arrisca fazer uma projeção, prevendo quem será o candidato mais forte que o PMDB irá enfrentar, Ana Amélia Lemos, Tarso Genro (PT) ou Veira da Cunha (PDT)?

Ponte - Se o PMDB apoiar o PT nacional, na minha opinião, Ana Amélia está eleita. Pelo menos para o segundo turno. Essa  corrente mais defensora das liberdades de empreender, que não vê no lucro algo ruim, mas uma solução, esse povo que é o anti-PT hoje, que é grande, vai fugir do candidato do PMDB e vai ir com Ana Amélia. Isso a tornará eleita para o primeiro turno, ou vai para o segundo turno. O natural é que esse eleitor vá com Ana Amélia, porque Vieira da Cunha tem essa referência de que é ligado ao governo nacionalmente e provavelmente vai estar defendendo o PT nacionalmente. 

JC - É o momento de Pedro Simon deixar de disputar as eleições para o Senado?

Ponte – Simon tem que ter o direito de decidir. Embora não seja ele que decida — quem decide é a convenção —, mas o partido deve dizer: “o que você decidir, vamos apoiar na convenção. Se quiser ser candidato, tem todas as condições de ser”. Ele tem energia e um conceito nacional que é importantíssimo. Talvez muitas pessoas acharão que ele não tem o vigor nem essa atuação de tratar dos problemas econômicos do Rio Grande. A área dele é mais macro, dos conceitos nacionais, da decência, da visão de quem presta e de quem não presta, dessas coisas maiores. O Rigotto andaria todo o Estado, sabe dos problemas econômicos melhor que ele, está mais a par sob esse aspecto. Mas não tem esse nome nacional — embora seja uma pessoa de grande integridade e esse simbolismo, que é importante, para o partido, inclusive. Se ele não tivesse condições, o PMDB deveria dizer: “Você foi tudo para o PMDB, mas tem isso e isso e você vai acabar perdendo a eleição”. Não é o caso. Se for ele o candidato, é um bom candidato.

JC - Qual é a tendência?

Ponte - Na minha opinião, ele não quer. Ele está sem se definir, o que muita gente critica porque é ruim para a candidatura de Rigotto. Mas é bom para outros que tentem. Por isso, protelar um pouco não era ruim. Mas agora está passando dos limites. Ele (Simon) diz agora que não quer ser candidato. “Mas se o partido apelar, não fugirei.” Até para não parecer que tem medo de Lasier Martins. É correto ele ficar em posição de disposição ao partido. As perspectivas são boas até de ele completar o mandato de oito anos, com 93 anos de idade. Mas deve ter um suplente de qualidade. Vou defender isso dentro do partido. E não pelo receio de ele não durar, mas até para ele se sentir à vontade de ficar quatro anos. Ele pode confirmar isso antes, ser combinado. O mais ético dos senadores do Rio de Janeiro, Saturnino Braga, foi eleito com essa combinação de que o suplente assumiria após quatro anos. Porque a vantagem dele é que ele tem um eleitor que não quer que deixe de concorrer, porque ele é a ética, a probidade.

JC - A cúpula PMDB negocia para que a Dilma tenha um palanque com vários candidatos nos estados. No Rio Grande do Sul, ele teria PT, PMDB e PDT. O PMDB estadual quer a participação de Dilma no palanque de seu candidato?

Ponte – Acho que até tira votos (risos). No partido, vejo muitas restrições ao PT, não a Dilma. Mas aí alguém diz: “Dilma é Dilma, PT é PT”. Toda essa tese vai ser discutida. Essa análise não é cartesiana. Não é uma demonstração de teorema. 

JC - E qual é a perpectiva do PMDB para essas eleições em âmbito nacional?

Ponte – O PMDB, queria ou não queria, vai participar do próximo governo. Seja Dilma, Eduardo Campos ou Aécio Neves (PSDB). Não é que o PMDB vai buscar. O que ganhar vai buscá-lo. Porque é imprescindível em um regime presidencialista de composição, um partido governar o País sem apoio, nem digo maioria. E o PMDB, a não ser que saia, fragorosamente, mal em todo o País – coisa que não deve acontecer - vai ser procurado. Não é fisiologismo do partido e nem digo que é do presidente. Todo dia a imprensa diz que o PMDB é fisiologista, que quer o ministério tal. Isso é uma estultice. Mas até para cumprir o papel de ajudar a governabilidade tem que ter poder na mão, tem que ter poder de influenciar a presidente e a opinião pública, ter ministérios, poder no cargo. Não é que vou ter que colocar um amigo do PMDB para me ajudar, claro que tem gente que quer para isso. Mas não é para isso que se deve querer. Deve-se querer para ajudar o governo. O PMDB não vai governar no próximo governo, mas vai participar fortemente. Ainda que perca com o seu vice, será convidado a participar. O PMDB não vai mendigar ser governo, fisiologicamente. Vão suplicar para que o PMDB participe do governo. E não é que vamos governar com qualquer um. Vão suplicar e vamos ter que concordar. Porque é nosso dever concordar. Só vamos discordar se os nossos compromissos forem desrespeitados. Mas, para exigirmos esse compromisso, temos que ter força, que é o tamanho da nossa bancada.

Perfil

Luis Roberto Andrade Ponte, 80 anos, é natural de Fortaleza, Ceará. Graduou-se em Engenharia, pela Ufrgs, em 1956. Na área, buscou especialização em Pavimentação Rodoviária, concluída também pela instituição em 1967. Foi eleito por três vezes presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon-RS), permanecendo no posto de 1980 a 1989, e cinco vezes presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), de 1997 a 2003. Até hoje mantém sua atuação na área, por meio do trabalho em uma construtora da qual é sócio. Deputado federal por dois mandatos, de 1987 a 1994, participou da Constituinte e foi líder do governo em 1988 e em 1990 na Câmara dos Deputados. Antes, no período final da gestão do presidente José Sarney (PMDB), de 1989 a 1990, foi ministro-chefe da Casa Civil. Assumiu ainda como deputado suplente na legislatura de 1995 a 1999. Atuou como secretário estadual de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais entre 2003 e 2006, no governo de Germano Rigotto (PMDB). Integra a executiva do PMDB no Rio Grande do Sul.

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