O verão é bom para quem pode estar na praia, descansando e aproveitando o mar. Nunca essa máxima foi tão verdadeira como nas últimas semanas, em que as altas temperaturas castigaram os gaúchos. A época é complicada para quem tem de trabalhar engravatado – como alguns profissionais da área financeira e jurídica, por exemplo –, suportando calor de 38 graus, como o registrado na semana passada.
A novidade é que um antigo aliado para reduzir o desconforto, o ar-condicionado, tem falhado nas horas mais importantes. O motivo é o mesmo que paralisa também refrigeradores, ventiladores e quase todos os aparelhos necessários para uma rotina confortável: a falta de energia elétrica. O que antes ocorria raramente se tornou corriqueiro. Desde aqueles dias de calorão no Natal passado, pipocam notícias sobre interrupções no fornecimento de energia por todo o Rio Grande do Sul.
A explicação também é corriqueira e tem lá sua lógica: aumento na demanda, que causa elevação no consumo. Por precaução, o fornecimento é desligado por algum tempo em diversos pontos de bairros ou municípios, segundo as informações das empresas de energia. Semana passada, por exemplo, o Estado atingiu um novo recorde: o pico de demanda alcançou 6.686 MW no dia 22 de janeiro. A capacidade de atendimento do Rio Grande do Sul, conforme o Balanço Energético de 2012, é de 7.100 MW.
Naquele mesmo dia (a temperatura alcançou 38 graus em Porto Alegre), cerca de 13 mil consumidores ficaram sem luz à tarde na Capital por cerca de duas horas. Segundo a CEEE, os cortes no fornecimento são pontuais e decorrem de excesso de trabalho dos equipamentos, bem como da elevação da demanda devido ao forte calor e à maior inclusão social econômica (traduzindo: maior poder de compra dos gaúchos para aquisição de equipamentos como ar-condicionado, por exemplo).
Se ficar sem luz durante o expediente já é ruim, durante a noite tornou-se um desafio dormir em madrugadas com temperatura de 30 graus. Só mesmo com auxílio do ar-condicionado. Novamente, em algumas noites, os cortes no fornecimento transformaram as horas que seriam de sono em horas de vigília. Impossível dormir com o corpo suando. Na economia, também houve reflexos. Sem refrigeração, cerca de 18 mil frangos morreram em Marau, ainda no dia 22, devido ao forte calor.
Apesar do rápido alento do fim de semana passado, com temperaturas na faixa dos 20 graus, a previsão para os próximos 15 dias é de mais provação, com o retorno do calor em todo o Rio Grande do Sul. Milhares de gaúchos ligarão seus aparelhos de ar-condicionado ao mesmo tempo em que indústrias e comércio utilizarão carga máxima para gerar riqueza e conservar estoques. É de cruzar os dedos e esperar que o sistema suporte tamanha demanda por energia elétrica.
Contudo, citar a elevação do consumo por conta de maior poder aquisitivo da população é simplificar por demais o debate. É o mesmo que culpar a venda de veículos pelo entupimento das estradas, ou a demora no desembarque de mercadorias pela escassa capacidade dos portos brasileiros. A infraestrutura é que necessita de mais investimentos para suportar o aquecimento da economia: precisamos de portos maiores, rodovias duplicadas e maior capacidade da transmissão de energia.
Para quem coloca panos quentes e é da turma que recomenda “aguentar no osso, pois coisas assim acontecem”, um alerta: luz não pode faltar. Não é somente questão de conforto. Sem energia, um hospital não realiza cirurgias, não há água para beber e não se produz alimentos. Sem energia, não há vida.