O mercado de trabalho brasileiro se modificou ao longo da última década. O emprego se manteve em alta e, ano após ano, constata-se um índice menor de pessoas sem ofício. A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do Dieese, mostra que, nas sete principais regiões metropolitanas do País, o nível de desocupados atingiu 9,5% em novembro de 2013, um dos menores patamares da série histórica. Em Porto Alegre, a capital com o melhor resultado, a taxa é de 6,2%.
No entanto, uma coisa pouco mudou no período: os jovens de 16 a 24 anos seguem donos das maiores taxas de desemprego, que, no caso porto-alegrense, atinge 14,8% das pessoas nessa faixa etária.
O fenômeno não é novidade. Em muitos países, o desemprego entre os jovens é mais alto na comparação com outras faixas etárias. Mesmo com redução nos índices dessa faixa etária na última década, o Brasil apresenta uma série de particularidades que influem na composição das taxas ainda elevadas em relação à média geral. A População Economicamente Ativa (PEA) jovem caiu nos últimos anos. No País, saiu de 4,5 milhões de indivíduos para 4 milhões entre 2002 e 2012. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, decresceu de 413 mil para 364 mil em igual período.
“O desemprego jovem diminuiu quase pela metade desde o início dos anos 2000, mas a transição demográfica que o Brasil está vivendo contribui para isso. Há uma oferta menor de jovens no mercado de trabalho em relação às pessoas mais maduras”, aponta a economista da Fundação de Economia e Estatística, Bruna Borges. Em paralelo a esse cenário, Bruna aponta que, com a melhora na renda da população, muitos jovens passaram a dedicar mais atenção aos estudos e adiaram o ingresso ao mercado, algo que reflete nos levantamentos.
O diretor adjunto de estudos e políticas sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Henrique Corseuil, enfatiza que um dos fatores que mais pesa no desemprego jovem é a alta rotatividade. “Geralmente, o jovem se aloca em empresas menores ou que pagam baixos salários. Assim, ele fica pouco tempo. Com o mercado de trabalho aquecido, aumenta a rotatividade voluntária, pois o jovem acaba procurando um novo emprego”, aponta. Além disso, o especialista ainda constata que há dificuldade de colocação por causa da pouca experiência dos candidatos, o que acaba tornando mais difícil a conquista do primeiro emprego.
Corseuil lembra que é possível diminuir mais os índices de desemprego entre os jovens e a diferença para a taxa geral da população, porém acredita ser improvável a existência de patamares semelhantes nos dois segmentos. “O desemprego jovem no mesmo nível ou próximo do índice geral é irrealista. Até porque o jovem tem menos experiência, e o empregador sempre fica mais reticente ao contratar. No entanto, com o reforço dos jovens que estão se qualificando e depois vão ingressar no mercado, é possível chegar perto dos 10%”, projeta.
A coordenadora da PED no Rio Grande do Sul, Ana Paula Sperotto, acredita que a diminuição do desemprego jovem é um dos principais desafios a ser enfrentados pelo País. Para isso, segundo a especialista, é necessário diminuir a chamada geração “nem-nem”. “São jovens entre 16 e 24 anos que nem estudam e nem trabalham. Esse dado tem reduzido muito pouco nos últimos anos, o que não é bom. É uma parcela da população jovem que está principalmente nas periferias”, enfatiza. Na Região Metropolitana da Capital, esse segmento representava 11,7% dos indivíduos em 2002 e baixou apenas para 11,2% dez anos depois.