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HISTÓRIAS DO COMércio e dos serviços

- Publicada em 16 de Dezembro de 2013 às 00:00

Bambu’s é a resistência do rock’n roll gaúcho


ANTONIO PAZ/JC
Jornal do Comércio
Longe de querer ser mais um dos bares tradicionais de Porto Alegre que se modernizaram e adotaram o termo “vintage” (antigo, clássico) para qualificar a decoração, o Bambu’s, na avenida Independência, mantém o ar simples que o tornou um dos berços de bandas importantes do rock’n roll gaúcho e abrigo para artistas, estudantes e outros interessados em reunir os amigos.
Longe de querer ser mais um dos bares tradicionais de Porto Alegre que se modernizaram e adotaram o termo “vintage” (antigo, clássico) para qualificar a decoração, o Bambu’s, na avenida Independência, mantém o ar simples que o tornou um dos berços de bandas importantes do rock’n roll gaúcho e abrigo para artistas, estudantes e outros interessados em reunir os amigos.
Fundado há 38 anos por Onorino Fiori, o bar e restaurante localizado no coração da cidade foi criado para suprir uma demanda dos moradores do bairro, com poucas opções de lugares que servissem comida boa e barata. Porém, ao assumir a direção do local, o herdeiro Sidnei Fiori, o Sid, como é conhecido pelos frequentadores assíduos, resolveu mudar o horário de funcionamento, passando a abrir no final da tarde, sem hora para fechar. Aos 18 anos, o Bambu’s entrava na maioridade e começava a ganhar relevância na vida boêmia da Capital.
O espaço se tornou uma mostra do caldeirão cultural que compõe a Capital e atravessou gerações sem alterar absolutamente nada na estética, no atendimento e no cardápio – composto por lanches tradicionais e tendo como carro-chefe o pastel de queijo frito na hora. “Mas a comida não é nosso forte. O pessoal vem mesmo para tomar cerveja e só pede algo para comer mais no final da noite”, completa a esposa de Sidnei, Ana Fiori, atrás do balcão, como de costume.
Ao longo da década de 1990 e início dos anos 2000, o bar assumiu o posto de lar de inúmeras bandas importantes, principalmente de rock’n roll, como Cachorro Grande, Pata de Elefante e Bidê ou Balde. “Sempre recebemos o pessoal do meio cultural. Até hoje, muitos vêm trazer CDs, mas têm uns que nem lembro porque não deram certo”, conta Sid, de forma bem-humorada.
O reconhecimento ao papel de segunda casa dos grupos veio em forma de música. O Bambu’s serviu de inspiração e cenário para o videoclipe da canção Debaixo do Chapéu, da Cachorro Grande, uma das músicas responsáveis por alavancar a carreira da banda fora do Estado. Nele, Sid vive o papel de um dono de bar de poucos sorrisos que manda os “guris” para fora do estabelecimento pelo não pagamento da conta. A mais recente homenagem veio através da música Pesadelo no Bambu’s, da Pata de Elefante. Apesar de narrar um pesadelo, o clipe em animação é divertido e mostra, através de uma história non sense e de cores fortes, um pouco da atmosfera do local.
Próximo dos já desativados Garagem Hermética – importante espaço de lançamento de bandas e reunião de músicos distantes do circuito tradicional –, e Cabaret – destino certo dos porto-alegrenses interessados em uma festa regada a boa música –, e dos ainda existentes Casa de Teatro e Beco 203, o local se tornou a primeira parada da noite de centenas de jovens. “Desde a metade dos anos 2000, o Bambu’s se tornou um ponto de encontro dos amigos que queriam beber antes de entrar nas festas próximas, mas tudo mudou muito com o fechamento do Garagem e o incêndio do Cabaret”, lamenta o proprietário.
Antes disso, o fechamento do bar pela Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic), em julho do ano passado, após denúncia de “algazarra” – amenizado por um acordo que permitiu sua reabertura, mas proibiu a circulação com copos em frente ao bar e aglomeração nas redondezas –, dava sinais de que tempos difíceis estavam por vir. Combinado a isso, o acirramento das fiscalizações durante as operações da Balada Segura contribuíram para a diminuição das vendas no local.
Não resta dúvida de que o local é respeitado pelos porto-alegrenses. Prova disso é que, ao ser interditado pela prefeitura, centenas de pessoas se reuniram em uma grande manifestação pedindo sua reabertura. “Teve gente aqui que realmente é cliente, outros vieram em respeito à história. O Bambu’s é um patrimônio cultural de Porto Alegre”, defende Fiori. “No dia em que teve o protesto aqui na frente, veio mais gente do que em qualquer outra noite em que estivemos abertos”, completa Ana.

Caldeirão cultural da cidade gera polêmica

Querido pelos jovens de espírito de toda cidade, o Bambu’s gera polêmicas entre os vizinhos, que, inclusive, já fizeram um abaixo-assinado pedindo sua interdição. O proprietário Sidnei Fiori, o Sid, contesta o descontentamento dos vizinhos advertindo que o bar ajuda a movimentar a região. “Onde junta gente tem mais segurança. Agora que diminuiu o movimento, já estão começando a acontecer mais assaltos, principalmente no fim de semana”, adverte.
Segundo os Fiori, a algazarra é apenas diversão, pois nunca houve uma briga séria dentro ou em frente ao bar. “Aceitamos todo o tipo de gente aqui, desde que eles se respeitem”, enfatiza Ana, que sabe quando tem de intervir para acalmar os ânimos, dar conselhos ou puxar a orelha de quem está passando dos limites. “Numa época vinham uns skinheads e punks. Quando eu via que começava um burburinho, ia conversar com eles e avisava que não queria briga. Eles me respeitavam e nunca deu nada”, conta.
Atualmente, o Bambu’s passa por dificuldades financeiras e luta para continuar aberto. “Não sabemos o que vai acontecer caso o movimento continue tão fraco, mas sempre fazemos uma reserva nas épocas boas”, avisa Sidnei, garantindo estar preparado para contornar as adversidades. A segurança do casal está amparada no fato de o Bambu’s ser um sobrevivente, já tendo presenciado a derrocada de outros estabelecimentos à sua volta.
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