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ÁFRICA DO SUL

- Publicada em 06 de Dezembro de 2013 às 00:00

Nelson Mandela morre aos 95 anos


WALTER DHLADHLA/AFP/JC
Jornal do Comércio
Ícone da queda do apartheid e figura adorada pelos sul-africanos, Nelson Mandela morreu nesta quinta-feira, aos 95 anos. A causa foi uma série de complicações decorrentes de uma infecção respiratória.
Ícone da queda do apartheid e figura adorada pelos sul-africanos, Nelson Mandela morreu nesta quinta-feira, aos 95 anos. A causa foi uma série de complicações decorrentes de uma infecção respiratória.
Primeiro presidente negro da África do Sul (1994-99), Mandela não era visto em público desde a final da Copa do Mundo da África do Sul, em julho de 2010. Sua última aparição ocorreu em abril, quando recebeu um grupo de políticos encabeçado pelo atual presidente sul-africano, Jacob Zuma. As cenas transmitidas pela TV estatal, em que aparece distante e alheio ao que se passa a seu redor, causaram comoção no país.
Esta era sua quarta internação desde dezembro de 2012, quando começou a enfrentar uma crise respiratória. Do lado de fora do hospital, uma multidão de jornalistas e admiradores mantinha vigília permanente desde o agravamento do seu estado de saúde.
Respeitado internacionalmente pelos gestos de reconciliação, Mandela passou 27 anos preso por se opor ao sistema segregacionista branco. Após intensa pressão internacional, foi libertado em 1990. Saiu da prisão para negociar com a minoria branca o fim do regime e para ser presidente eleito sob uma nova Constituição.
Em seu governo, adotou como prioridade o discurso de unidade nacional e desencorajou atos de vingança e violência. Analistas apontam que não conseguiu dar atenção suficiente a programas sociais, à geração de empregos e à epidemia de Aids.
Em 1999, declinou da possibilidade de concorrer a um novo mandato para se dedicar a causas sociais e a ser uma espécie de consciência moral da nação. Pouco a pouco, no entanto, foi reduzindo sua visibilidade, à medida em que a idade avançava.
Ainda não está claro quando e onde será o enterro. Há duas possibilidades: na vila onde nasceu, Mvezo, ou na pequena localidade em que passou a infância, Qunu.

A trajetória de um líder

Mandela nasceu em 18 de julho de 1918, com o nome de batismo Rolihlahla - aos sete anos, uma professora exigiu que tivesse um nome católico e o chamou de Nelson. Filho de Henry Gadla, chefe da tribo Thembu da etnia xhosa, sua vocação para a liderança é atribuída à formação familiar, já que ele foi criado para seguir os passos do pai. Ao contrário do que previa a tradição, decidiu estudar. Abandonou Mvezoe e foi viver em Alexandra, bairro negro no subúrbio de Johannesburgo. Casou-se com Evelyn Mandela em 1944, com quem teve dois filhos e duas filhas.
Em 1953, formou-se advogado pela Universidade de Witwaterrand e montou um escritório de advocacia para negros. Nessa época, entrou para o Congresso Nacional Africano (CNA) - movimento nacionalista de luta contra o apartheid.
Em 1960, aumentou a repressão contra o CNA, que nos últimos anos vira crescer sua importância política. O movimento liderava greves e manifestações de desobediência civil. Naquele ano, Mandela conseguiu autorização do líder do movimento, Albert Luthuli, para montar o que seria o braço armado do CNA, o Umkhonto we Sizwe (“Lança da Nação”). Ainda em 60, o CNA seria banido e passaria à clandestinidade.
Apesar de ter autorizado a criação do grupo, Luthuli, Nobel da Paz de 1960 e presidente do CNA de 1952 a 1967, nunca defendeu o uso das armas. Mandela acreditava na luta armada para defender a liberdade dos negros sul-africanos.
Ele foi preso em 5 de agosto de 1962 e condenado à prisão perpétua por sabotagem contra o governo em 12 de junho de 1964. Quando isso aconteceu, vivia com a militante Winnie Madikizela, que conheceu nas reuniões do CNA, em 1956, quando ainda vivia com Evelyn. Casaram-se em 1958 e tiveram duas filhas.
Incomunicável durante 27 anos, Mandela deve a Winnie o início do movimento de luta por sua libertação. Ela foi presa e ameaçada, além de processada por envolvimento em atos radicais. No final da década de 1980, Mandela era o preso político mais famoso do mundo.

O legado para os sul-africanos e para o mundo

Mandela deixa um importante legado a favor da igualdade de direitos entre os homens e, mesmo após sua morte, tende a contribuir para fortalecer a democracia sul-africana.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Comunicação e Marketing Político e professor da Universidade Mackenzie, Roberto Gondo, há um desgaste natural do CNA, partido que governa o país desde a eleição de Mandela, o que abre espaço para o surgimento de novos partidos.
“Mandela era o principal moderador da política sul-africana. Perde-se um grande líder nacional e, nesse vácuo, nascem outros grupos interessados em assumir a liderança. Esse processo é positivo para a democracia e, como esses grupos não são radicais, as mudanças não devem ter impacto econômico”, acredita. “A África do Sul é o ponto de equilíbrio do continente. Se ela se desestabiliza, os outros países também sofrem.”
Apesar de contar com diversos líderes locais, o continente africano não possui nenhuma figura com o carisma e a envergadura de Mandela, capaz de ocupar esse espaço no imaginário popular. “O povo africano fica órfão e deve cultuá-lo. No entanto, o país seguirá com problemas típicos de países emergentes, como desemprego, corrupção e segregação racial velada, que precisam ser resolvidos”, afirma o professor e pesquisador do curso de pós-graduação em História da África e do Negro no Brasil, Philippe Lamy.

Após 27 anos na prisão, Mandela assume como primeiro presidente negro e dá fim ao apartheid

O Conselho de Segurança da ONU exigiu, por meio de sanções econômicas, o fim do apartheid. A sociedade branca sul-africana parecia cansada do banimento imposto pela comunidade internacional.
Em 14 de setembro de 1989, assumiu a presidência Frederik W. de Klerk. Herdeiro de fundadores do Partido Nacional, ele iniciou reformas políticas. Em 2 de fevereiro de 1990, legalizou o CNA e, no dia 11, anunciou a libertação de Mandela.
Livre, o líder negro iniciou negociações por reformas políticas. Separou-se de Winnie em abril de 1992, após 33 anos de casamento. Recebeu o prêmio Nobel da Paz, juntamente com o presidente Frederik de Klerk, no dia 15 de outubro de 1993.
Em maio de 1994, tornou-se o primeiro presidente negro na história da África do Sul, encerrando de fato o período do apartheid. Concluiu o mandato em 1999, sem tentar uma reeleição, como já havia se comprometido. Em 2004, se retirou da vida pública.

Frases e personagens

“Nelson Mandela lutou por um ideal e morreu por um ideal. Hoje ele vai para casa. Ele não nos pertence mais, pertence à História.” Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, ao se pronunciar sobre a morte do líder sul-africano nesta quinta-feira.

“O combate de Mandela transformou-se em um paradigma para todos aqueles que lutam pela justiça, pela liberdade e pela igualdade. O seu exemplo guiará todos aqueles que lutam pela justiça social e pela paz no mundo.” Dilma Rousseff, presidente do Brasil.
“A mensagem de Nelson Mandela não desaparece, ele continuará a inspirar combatentes da liberdade e dar confiança ao povo em defesa de causas justas e direitos universais.” François Hollande, presidente da França.
“A nossa nação perdeu o seu maior filho. O nosso povo perdeu um pai. Apesar de já sabermos que este dia viria, nada pode diminuir o nosso sentimento de profunda e duradoura perda. A sua luta incansável pela liberdade valeu-lhe o respeito do mundo. A sua humildade, a sua compaixão e a sua humanidade mereceram-lhe o seu amor.” Jacob Zuma, presidente da África do Sul.
“Nelson Mandela foi uma figura singular no cenário global – um homem de dignidade calma e realização imponente, um gigante da justiça e uma fonte humana de inspiração.” Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU.
“Uma grande luz extinguiu-se no mundo. Nelson Mandela foi um herói do nosso tempo.” David Cameron, primeiro-ministro britânico.
“Nós acreditamos que a África do Sul pertence a todas as pessoas que vivem aqui, não apenas a um grupo, seja branco ou preto. Nós não queremos uma guerra inter-racial, e vamos tentar evitar isso até o último minuto.” Nelson Mandela, em abril de 1964.
“Nós devemos demonstrar claramente nossa boa vontade aos nossos compatriotas brancos e convencê-los pela nossa conduta e argumentos de que a África do Sul sem o apartheid será um lugar melhor para todos.” Também Nelson Mandela, em fevereiro de 1990.
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