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Entrevista Especial

- Publicada em 04 de Novembro de 2013 às 00:00

Tarso não se sustentará por mais um mandato, avalia Zilá


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Jornal do Comércio
A líder do PSDB na Assembleia Legislativa, Zilá Breitenbach, é enfática ao afirmar que o governo de Tarso Genro (PT) não será reeleito. Representante de um dos principais partidos de oposição ao governo estadual, Zilá critica os empréstimos contraídos pelo Executivo, os saques ao caixa único do Estado e avalia que o governo petista não tem conseguido gerir os recursos financeiros disponíveis.
A líder do PSDB na Assembleia Legislativa, Zilá Breitenbach, é enfática ao afirmar que o governo de Tarso Genro (PT) não será reeleito. Representante de um dos principais partidos de oposição ao governo estadual, Zilá critica os empréstimos contraídos pelo Executivo, os saques ao caixa único do Estado e avalia que o governo petista não tem conseguido gerir os recursos financeiros disponíveis.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, Zilá diz que o governo perdeu credibilidade ao não cumprir promessas de campanha, como o pagamento do piso dos professores, e criou órgãos como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão) para referendar propostas que não se concretizam.
Zilá defende a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB) e afirma que a gestão tucana “não foi compreendida”, e que o partido deverá lançar uma candidatura própria ao Palácio Piratini em 2014. Em uma autocrítica, também avalia que a legenda precisa se reestruturar internamente, especialmente na Capital, para consolidar seu projeto político e obter votações mais expressivas.
Ao analisar o cenário nacional, a parlamentar diz que o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) não deverá se candidatar novamente para a disputa à presidência da República e acredita no nome do senador tucano de Minas Gerais Aécio Neves para enfrentar Dilma Rousseff (PT). A deputada também estima que a consolidação das alianças locais dependerá da definição do cenário político nacional, alterado após o ingresso da ex-senadora Marina Silva no PSB do presidenciável Eduardo Campos (PSB).
Jornal do Comércio – Como avalia o governo de Tarso Genro (PT)?
Zilá Breitenbach - O governo não investe, não cumpre o orçamento e não está atendendo à expectativa do povo. Se analisarmos, começando pela educação, houve um descumprimento de palavra, do compromisso assumido com os professores, da lei, e há uma tentativa de enganar o povo gaúcho, dizendo que o governo paga o piso só porque paga um completivo. Na saúde, no ano passado, o governo encaminhou um orçamento que não tinha contemplados os 12% (percentual mínimo estabelecido pela legislação) e precisou que a Assembleia Legislativa buscasse no orçamento dos poderes o recurso para completar a adequação que seria obrigação do Estado ter feito. O Estado tem, ao longo dos anos, dificuldades de falta de logística na infraestrutura, mas agora estamos realmente vendo o caos na infraestrutura. Aprovamos os empréstimos que o governo pediu e o Executivo também buscou depósitos judiciais alegando que seriam para investimentos, mas não investe. É um governo de empregos, cargos, conselhos, reuniões, mas de pouca ação. Entendemos que é um governo que não deu o resultado que a sociedade gaúcha precisava. O próprio Tribunal de Contas do Estado apontou e deu méritos ao governo Yeda (Crusius, PSDB), que, em três anos, fez uma adequação entre receita e despesa. Não pagando as dívidas que vêm de anos, mas equilibrando as finanças do mês. Neste governo, há um desequilíbrio no orçamento, retiradas do caixa único e busca de depósitos judiciais. Então, o Estado enfrentará grandes problemas na próxima gestão, e o PSDB tem certeza de que esse governo não se sustentará por mais um mandato.
JC– O governo Yeda Crusius (PSDB) foi injustiçado?
Zilá – A gestão de Yeda não foi entendida. Ela estava preocupada com o desempenho econômico do Estado para fazer algumas ações sem deixar de executar serviços básicos. Em todas as áreas, provamos que o governo Yeda investiu mais do que o governo Tarso, apesar de todas as dificuldades que teve. O eleitor tem que entender que o próximo governo terá que vir com uma proposta efetiva de planejar as ações para um Estado que está endividado. A governadora Yeda teve coragem para isso, só que a sociedade, ao não reelegê-la, não entendeu essa mensagem. Talvez tenha faltado habilidade de construir. O próximo governo terá que ser um bom articulador político, deverá ter decisões firmes e deverá, junto com os funcionários públicos, construir o trabalho para que o Estado possa sair dessa insolvência em que está.
JC– O governo Yeda teve uma oposição muito forte. Acredita que a oposição ao governador Tarso Genro tem cumprido o papel de apontar falhas, tanto quanto a oposição à governadora Yeda?
Zilá – A oposição do PT ao nosso governo foi forte, mas não teve consistência, porque tudo aquilo que criticaram estão fazendo da mesma forma. Mas conseguiu, sim, dar um impacto negativo no trabalho, e de todas as formas procurou não só prejudicar o andamento do governo, mas também a própria imagem de quem governava. O que nós da oposição estamos fazendo é divulgar com números e de forma objetiva todas as falhas deste governo. A população tem que saber que nem tudo é o que parece. Estamos com um governo que mais divulga e menos faz. Estamos trabalhando  para mostrarmos à sociedade gaúcha que um governo que não tem palavra, que não investe e que não procura conter a grande máquina pública. Não estou falando do aumento para os funcionários, estou falando do aumento de cargos, de estruturas criadas e que realmente não dão resultado para a população. Se analisarmos a publicidade e segurança, veremos que houve o mesmo número de investimentos nas duas áreas até 31 de agosto deste ano. Então, se divulga, mas não se faz.
JC – Dentro desse bloco de oposição, o PP e o PMDB devem anunciar candidatura própria. Há uma sinalização de que o PSDB lançará o nome do ex-prefeito de Uruguaiana Sanchotene Felice.
Zilá – Todo partido para crescer e se fortalecer precisa buscar as urnas. Teremos candidatura, temos nomes, o Sanchotene, a própria governadora (Yeda) – que hoje a sociedade gaúcha reconhece como melhor gestora – deputados estaduais e federais que poderão colocar seu nome e prefeitos. Não temos medo de enfrentar as urnas porque temos o que falar. Temos resultados na gestão e temos um trabalho. Estamos trabalhando, dentro da nossa bancada, para buscar mais informações, ter uma visão de fora, de economistas e analistas políticos, para que a gente construa uma proposta para o Rio Grande do Sul. Já tivemos uma proposta e queremos uma proposta para o próximo ano. O nosso partido não tem nenhum receio de enfrentar as urnas, estamos mais cautelosos e ainda não colocamos essa discussão na rua porque queremos construir junto com a nossa Executiva Nacional, as propostas e bandeiras para o Brasil e para o Estado. Então, não é o nome o que nos preocupa. Nomes nós temos, o que queremos é uma proposta sólida. Não podemos chegar na eleição só discutindo quem fez e quem não fez, nós queremos saber que proposta o PSDB terá para o País.
JC – Como alcançar bons resultados na Capital, onde o partido terminou as eleições em quinto lugar com o candidato Wambert Di Lorenzo (hoje PSD)?
Zilá – É uma estratégia que tanto a executiva municipal quanto a estadual estão discutindo. Temos que nos inserir na Região Metropolitana de forma mais efetiva. Acho que melhoramos, temos prefeito em São Leopoldo (Anibal Moacir), Viamão (Valdir Bonatto)e outras cidades próximas, como Estância Velha (José Valdir Dilkin) e Ivoti (Arnaldo Kney). Temos que ter ações em Porto Alegre e também na Região Metropolitana. A gente pode e tem que avançar, porque essa fragilidade não é só do PSDB, outros partidos também não têm conseguido. Defendo que temos que levar a nossa proposta, mas só temos um vereador (Mario Manfro) e falta a militância ser maior para o partido avançar em Porto Alegre.
JC– O deputado federal Nelson Marchezan Júnior, que disputou as prévias na Capital, mas acabou derrotado, teria obtido uma votação mais expressiva?
Zilá – Na outra eleição, o desempenho do Marchezan foi mais ou menos o mesmo (o candidato obteve 2,83% dos votos), então não é questão do candidato, é questão do partido ter estratégias fortes para dar sustentação a um candidato. O candidato por si só – a não ser que ele seja um líder extraordinário – não supera a falta da estrutura partidária. É um problema partidário, não é escolha do candidato.
JC – O que falta na estrutura partidária?
Zilá – O partido não tem ações para buscar filiações, estão faltando mais ações de levar a proposta partidária para Porto Alegre, no bairro, na vila, entre as comunidades do Centro, da periferia. Como temos um vereador, é um grupo pequeno para fazer esse trabalho. Estamos levando a proposta na executiva estadual que temos que, de todas as formas, fortalecer ações da estadual com a municipal para avançar na nossa consolidação na Região Metropolitana.
JC– Qual a projeção do partido para as bancadas federal e estadual?
Zilá – Queremos fortalecer a Câmara Federal, temos um deputado e queremos, no mínimo, ter dois. Mas a meta deverá ser maior, porque o deputado federal ajuda a fazer a construção partidária. A bancada estadual está buscando mais candidatos (atualmente, são sei parlamentares), principalmente em regiões com maior densidade eleitoral. Temos uma posição como oposição e nos mantivemos coerentes, com posições firmes, e esse trabalho da bancada garante um bom resultado nas urnas, que tem que ser trabalhado, porque eleição não se ganha na véspera, é trabalho diário.
JC – Como estão as articulações para as alianças?
Zilá – O PSDB tem conversado com outros partidos e ninguém está dizendo efetivamente “o nosso candidato é este, estamos em campanha”, todos estão com bastante cuidando construindo as possibilidades. Depende das candidaturas em nível federal para saber com quem cada um vai e saber se pode compor. Aqui na Assembleia, estamos fazendo reuniões com a oposição para discutir como é que uma oposição pode contribuir mais para uma proposta para o Rio Grande do Sul. Temos tranquilidade de dizer que, para a oposição, nós temos discurso consistente e com números. Não critico a pessoa, nem o governo, critico o resultado do governo e esse governo está mostrando nos indicadores que deixará uma herança trágica para o Estado.
JC – Os nomes não são uma preocupação, mas nacionalmente o partido parecia ter definido o senador Aécio Neves como candidato à presidência. Como avalia a possibilidade do ex-governador de São Paulo José Serra participar de uma disputa interna?
Zilá – Nenhum político diz que não concorre a cargos, isso é próprio do político. O PSDB está construindo a unidade do futuro candidato e o Aécio Neves é presidente do partido e tem muita habilidade para isso. Ele tem uma trajetória política na família, sabe construir e aparar arestas e tenho certeza de que ele e José Serra, juntamente com o Fernando Henrique Cardoso, estão construindo a candidatura do próximo ano. Acredito que o José Serra é um nome que tem história, mas não será candidato. A construção que está sendo feita é de um bom projeto para o Brasil, com bandeiras definidas. Na eleição anterior (em 2010), faltaram mais posições fortes de projetos para o País, algo que tivemos aqui no Estado, tanto que ganhamos a eleição (no segundo turno, José Serra obteve 50,94% dos votos contra 49,06% da presidente Dilma Rousseff). Mas perdemos o governo do Estado por não termos sido entendidos e por promessas vazias. Aquilo que foi prometido – e não está sendo cumprido – talvez tenha dado a vitória ao Tarso. Hoje ele não tem consistência mais no discurso, porque quem não cumpre o que promete, perde a credibilidade.
JC – A candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), com o apoio da ex-senadora Marina Silva (PSB), faz com que o PSDB seja deslocado para uma terceira via, diferentemente da tradicional polarização nacional entre PT-PSDB?
Zilá – A entrada da Marina Silva no PSB fez com que todos os partidos reavaliassem seus rumos, porque houve uma nova construção política. Mas não vai mudar a trajetória do partido. É uma nova composição, assim como quem vai apoiar ou não, porque todos os partidos deram uma reavaliada, estão analisando. O que aconteceu, na verdade, foi um fortalecimento na oposição à presidenta Dilma.

Perfil

Zilá Breitenbach (PSDB) nasceu em Três de Maio e cresceu em Três Passos, cidades do Noroeste do Estado, teve como primeira atividade profissional o magistério. Após passar pela direção de escolas, foi convidada a exercer a titularidade da Secretaria de Educação em 1988. Posteriormente, assumiu a Secretaria de Saúde e a vice-prefeitura, até se eleger chefe do Executivo municipal em 1996. Comandou o município entre 1997 e 2004, obtendo diversos prêmios de reconhecimento por sua gestão, como o Prefeito Amigo da Criança, Programa Viva Criança e Prefeito Empreendedor.
Em 2006, foi eleita deputada estadual com 25.106 votos. No mesmo ano em que assumiu o mandato, 2007, recebeu o Troféu Ana Terra pelo destaque na administração pública. Em 2010, conquistou a reeleição, com 36.676 votos. Assumiu a liderança da bancada na Assembleia Legislativa no início deste ano e permanecerá na função até o final de 2014. Zilá tem 72 anos, é viúva, mãe de cinco filhos e avó de sete netos.
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