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Mercado de Trabalho

- Publicada em 23 de Setembro de 2013 às 00:00

Comércio da Capital enfrenta dificuldade para contratar


JONATHAN HECKLER/JC
Jornal do Comércio
Quem anda pelo centro de Porto Alegre já pôde constatar a multiplicação dos cartazes de “precisa-se” colados nas vitrines de lojas, restaurantes, farmácias e outros tipos de estabelecimentos comerciais. São atividades, em sua maioria, que exigem apenas Ensino Fundamental ou Ensino Médio.
Quem anda pelo centro de Porto Alegre já pôde constatar a multiplicação dos cartazes de “precisa-se” colados nas vitrines de lojas, restaurantes, farmácias e outros tipos de estabelecimentos comerciais. São atividades, em sua maioria, que exigem apenas Ensino Fundamental ou Ensino Médio.
De acordo com o Sistema Nacional de Empregos (Sine) de Porto Alegre, em agosto cerca de 7 mil pessoas buscaram uma colocação para vagas como costureiro, cozinheiro, eletricista, empacotador, promotor de venda, telemarketing, técnico em segurança do trabalho, auxiliar administrativo e analista de produção. Mas, de um total de 988 vagas disponíveis naquele mês, apenas 315 foram preenchidas.
A gerente do Sine, Adriana Nunes Costa, acredita que não se trata de um problema de falta de qualificação profissional. “As capacitações estão acontecendo, mas os salários não acompanham. Talvez as empresas devessem rever isso”, afirma ela. “O empregador, às vezes, não quer pegar quem não tem experiência e não oferece salário a quem já tem”, completa.
A vice-presidente de expansão da seção gaúcha da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RS), Simone Kramer Silva, também descarta a falta de qualificação como explicação para o fenômeno. “Olha o que essas vagas operacionais pagam: o piso é R$ 795,00. Com os descontos, fica em torno de R$ 700,00. Para um público que é classe C, qualquer pessoa vendendo produtos cosméticos ou fazendo bico ganha isso”, afirma.
Tanto Simone como Adriana citaram o baixo nível de desemprego (5,7% registrados em julho na Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED - do Dieese, o menor desde 1992 e o menor entre as capitais) como um fator para a dificuldade de preencher essas vagas. A avaliação é a mesma da gerente da Belshop da Rua da Praia, Elaine Valados, que está procurando uma operadora de caixa e duas vendedoras. “Tem várias empresas contratando, muita oferta. Aí, às vezes, quem tem o perfil não quer trabalhar no sábado, por exemplo, fica mais difícil”, diz.
Além da questão salarial e do baixo desemprego, a demanda por mais qualidade de vida também tem aparecido como fator a dificultar as contratações. Uma comerciária que preferiu não se identificar reclamou da carga horária e do tempo gasto no trânsito. “São oito horas de trabalho por dia, mais duas horas no ônibus, por um salário de R$ 795,00 e uma comissão de 1%. É só um pouco mais do que o salário-mínimo e com um só dia livre na semana. A impressão que eu tenho é que eu não saí da loja”, desabafa.
A questão da qualidade de vida se torna ainda mais impactante quando se trata de conseguir alguém para trabalhar em shopping, por exemplo. A gerente da Froyogo, do Rua da Praia, Cenira da Silva Nunes, que o diga. “No shopping, é preciso trabalhar no domingo. A pessoa recebe uma bonificação por isso, mas, ainda assim, é difícil quem queira a função”, detalha.
“Existe falta de qualificação? Existe. Mas não é o pior dos problemas. Há falta de desejo das pessoas de ficarem no shop-ping”, complementa Simone, da ABRH-RS. “Será que a hora extra e o bônus compensam ir até lá no domingo? Vale a pena ganhar R$ 10,00 a mais e perder o churrasquinho?”, questiona. Na avaliação da especialista, nos últimos anos, com a melhora da renda e maior acesso aos bens de consumo, as pessoas estão se tornando mais críticas e exigentes. “Não tem mais essa de que lá fora tem uma fila de 100 querendo um determinado emprego. Não tem mais essa fila”, alega.
Cenira conta que treinou 50 pessoas nos últimos seis meses, mas que é muito difícil conseguir quem se mantenha no emprego. Ela também vê falta de interesse das pessoas que se apresentam para o trabalho. “Não é um trabalho difícil. Mas como contratamos um pessoal com média de idade de 18 a 20 anos, é um grupo jovem, que se chateia quando falamos alguma coisa. Então tem até isso, tem que saber como falar com eles. Tentamos uma vez uma senhora, que tinha muito interesse, mas não pegou o pique”, conta.

Falta de experiência dos candidatos é um dos entraves apontados por empregadores

Rosecler de Fátima Lima, gerente da Bykytsys da avenida Borges de Medeiros esquina com a rua Riachuelo, está com vaga aberta para operadora de caixa há uma semana. Segundo ela, são recebidos muitos currículos, mas é difícil encontrar alguém com o perfil. Ela se queixa de que muitas pessoas que levam seu currículo até lá não cuidam de sua própria apresentação, um detalhe fundamental para quem deseja trabalhar em uma loja que vende roupas. Por isso, elogiou Cristiane Peres, 24, e Priscila Abreu, 25, depois que as duas deixaram seus currículos na loja. Cristiane, aliás, dá mais uma mostra do peso da qualidade de vida na busca pelo emprego. Diferentemente da amiga, desempregada há dois meses, Cristiane está trabalhando como operadora de caixa em um restaurante, mas não está feliz com o horário, das 19h à 1h.
Uma das dificuldades citadas pelos gerentes é encontrar alguém que tenha experiência. Diego Soares, 25, que faz faculdade de Gestão Hospitalar, é motorista, está desempregado há seis meses e diz que tem dificuldade de encontrar algo que traga frutos e tenha uma boa remuneração. “Sou motorista, posso conduzir qualquer veículo. Faço vários cursos para me qualificar, mas está difícil, porque, para os caminhões, para os ônibus, que pagam mais, pedem muita experiência. Mas como é que eu vou conseguir experiência sem trabalhar?”, pondera. Casado e com uma filha de sete anos, Soares diz que tem trabalho para funções como garçom. “Mas o salário é muito baixo”, argumenta.
Para a vice-presidente de expansão da ABRH-RS, Simone Kramer Silva, vive-se um momento de transformação no mercado de trabalho e é preciso uma “mudança de consciência” para passar por ele. “Nós lidamos com mão de obra jovem que está pouco tolerante, que não espera. É um relacionamento que necessita ser construído. Os empresários, primeiro, precisam valorizar mais as pessoas que contribuem, não necessariamente com dinheiro. Desenvolver e contribuir para um melhor ambiente, mais reconhecimento. A empresa precisa investir para que isso aconteça”, defende. “As pessoas não querem só um bom salário, não querem só uma carteira assinada. Querem se complementar de forma mais ampla, como seres humanos, profissionais”, assegura.
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