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Entrevista Especial

- Publicada em 19 de Agosto de 2013 às 00:00

Yeda Crusius afirma que Tarso fez ‘opção pelo déficit’ no Estado


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
Os saques ao Caixa Único e os empréstimos ao Banco Mundial realizados pelo governador Tarso Genro (PT) são alvos de crítica e fonte de preocupação para a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a tucana afirma que o chefe do Executivo estadual optou pelo déficit. Yeda defende seu governo, diz que deixou uma “herança bendita” para o governador, e que a justificativa de que os gastos seriam destinados para investimentos não se confirma.
Os saques ao Caixa Único e os empréstimos ao Banco Mundial realizados pelo governador Tarso Genro (PT) são alvos de crítica e fonte de preocupação para a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, a tucana afirma que o chefe do Executivo estadual optou pelo déficit. Yeda defende seu governo, diz que deixou uma “herança bendita” para o governador, e que a justificativa de que os gastos seriam destinados para investimentos não se confirma.
A ex-governadora afirma que os próximos governos terão dificuldades para administrar o Estado após a gestão de Tarso. Yeda também projeta as eleições de 2014 e se mostra entusiasmada com a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB) para a presidência da República. Na disputa pelo Palácio Piratini, defende o lançamento de uma candidatura própria e acredita no nome do ex-prefeito de Uruguaiana e ex-deputado estadual Sanchotene Felice.
A tucana faz ainda uma avaliação das manifestações populares de junho e afirma que os protestos mais recentes têm cunho político e são realizados por grupos financiados por partidos de esquerda. Yeda deve confirmar em outubro o retorno à disputa política por uma vaga na Câmara dos Deputados, no ano que vem.
Jornal do Comércio – Como avalia a gestão do governador Tarso Genro (PT)?
Yeda Crusius – É um governo que entrou dizendo que faria diferente do que fez a governadora do PSDB. A governadora que fez o ajuste das contas públicas, a reestruturação da dívida por 30 anos com o Banco Mundial, que investiu e pôde colher excelentes resultados em termos de crescimento econômico mesmo durante seus quatro anos difíceis, com a crise de 2008 e 2009. Então, se ele vai fazer diferente, foi eleito e está legitimado para isso.
JC – E está sendo diferente?
Yeda – Completamente diferente. Quem faz dívida faz diferente de mim. Quem faz dívida compromete o futuro. A opção do governo é clara: optou pelo déficit e tomou a decisão de gastar. Só que o déficit coberto pela dívida impede a liberdade dos futuros governantes. E inclusive se, em termos de responsabilidade fiscal, continuar neste passo, vão se fechar as portas que abrimos. Em dois anos, conquistamos o pagamento dos maiores passivos, reestruturamos todas as carreiras de servidores públicos, menos professores e Brigada Militar – porque houve uma decisão corporativa de que não aceitariam as carreiras que propusemos na Assembleia.
JC - Houve investimentos?
Yeda - Só pude fazer isso após o déficit zero. Não fiz mais déficit e pude investir, melhorar o serviço público. Isso está nas pesquisas de avaliação dos usuários dos serviços públicos, foi impressionante a melhoria percebida nas políticas públicas. Nós cumprimos tudo aquilo que nos propusemos a cumprir: ampliar os serviços públicos, melhorar as carreiras e melhorar o serviço público. Em 2008 assinamos com o grupo da Celulose, trouxemos o plástico verde, participamos de todo crescimento naval, fizemos parcerias público-privadas (PPPs) esperadas há décadas. Mudamos a pauta de infraestrutura e saneamento. Então, cumprimos a parte econômica e a parte social. Se o novo governo decidiu começar diferente, sinto muito, porque alguém vai ter que resolver isso logo ali adiante.
JC – O governador justifica os empréstimos ao afirmar que fará investimentos. Essa promessa tem se tornado realidade?
Yeda – Até agora os investimentos não foram feitos. Mas os gastos já. Conquistamos o respeito mundial e pusemos o Estado em condições de fazer empréstimos. Mas os investimentos não foram feitos. A opção foi por gastar e encontraram todas as condições por uma herança extremamente bendita que deixei para este governo.
JC – Como vê os saques ao Caixa Único?
Yeda – Isso é dívida. Já estão gastando bastante. Ano que vem não tem mais. E não tem mais nos depósitos judiciais para trazer para o Caixa Único e gastar como se tem gastado. É preocupante. Trazer os depósitos para o Caixa Único desta forma não é investimento, é gasto corrente.
JC – Como o partido está se articulando para as eleições de 2014?
Yeda – No campo nacional, o partido já está definido. Aécio Neves é um político de larga experiência e moderno. Foi governador de Minas Gerais e se reelegeu fazendo uma transformação que foi reconhecida e se estendeu a todo Brasil, que foi o “choque de gestão”. Aplicou a lógica de liderança e resultados no setor público e resolveu o déficit, uma questão estrutural, e passou a ser um berço de investimentos de tecnologia, indústria, comércio e infraestrutura. Ele foi modelar e, quando chegou na hora da decisão, deu apoio ao Serra e foi ser candidato ao Senado, e a partir do Senado desenhar um novo projeto para o Brasil. Ele esperou para se lançar como candidato à presidência da República quando conseguisse a unidade do PSDB e conseguiu.
JC – Qual o impacto das denúncias do chamado “propinoduto”?
Yeda – Os movimentos disseram que não aceitam mais corrupção. Então, a parte aparelhada do partido político líder, que é o PT, junto com seus satélites, os pequenos como PSTU e P-Sol, sem dúvidas vão tentar colar no PSDB aquilo que não pertence ao modo de conduta do PSDB. Embora a corrupção exista, desde sempre, em todos os níveis. Metrô e trem são investimentos decenais em São Paulo e que conseguiram contrapor este problema que é a mobilidade. A gente vai informar tudo e vai ficar muito claro esse ataque maciço que os governos que fazem têm sofrido. Os governos do PSDB são reconhecidos porque fazem e não são marcados pela história da corrupção, como são marcadas, por exemplo, desde o começo do governo (da presidente) Dilma (Rousseff), as obras federais. Então é um ataque, é um ataque eleitoral e deve ser respondido como o (Geraldo) Alckmin (PSDB) está respondendo. Se a Siemens mostra que formou cartel, ele vai entrar contra a Siemens pedindo ressarcimento do preço a mais.
JC – Algumas pesquisas demonstram que o senador Aécio é pouco conhecido pela população. Como mudar esse panorama?
Yeda – Pesquisa é um indicador do momento, e temos que respeitar. Se fosse pela pesquisa, estava eleito o (ministro) Joaquim Barbosa e por que ele é considerado para os pesquisados aquele em quem gostariam de votar para a presidência da República? Porque fez uma coisa que tem tudo a ver com as manifestações de junho. Teve a coragem, no Supremo (Tribunal Federal), de levar e terminar a primeira parte do escândalo do processo do mensalão. Então a pesquisa dá um indicador: onde ele não é conhecido é para onde ele tem que ir. É para onde todo o sistema do PSDB tem que trabalhar, fornecendo informações de quem é o Aécio, o que já fez e o que pretende fazer. As pesquisas podem ser um dos guias de organização para as eleições.
JC – E no Estado?
Yeda – No campo estadual, mudou a direção estadual, e há uma proposta para que tenhamos candidatura própria ao governo do Estado, desde que isso pactue com a estratégia nacional em relação ao Aécio. O partido não tem problema nenhum de ter candidatura própria. Nós já temos vários candidatos, agora o Sanchotene (Felice) se colocou como candidato. Nós não temos mais problemas na escolha do que vai ser o PSDB para as eleições de 2014 no Estado. Há uma unidade partidária.
JC – Mas qual seria o candidato?
Yeda – O Sanchotene é um. Acho que é muito cedo. Quem lançou antes a campanha eleitoral foi a Dilma. Os estados ainda não estão prontos. Tem que esperar até outubro, quando acaba o prazo legal de filiação. O projeto já está sendo construído nacionalmente e não tenho dúvida de que estadualmente, com a unidade partidária, será construído também. Não é uma candidatura só para constar, é para marcar posição, fazer oposição ao governo federal e ao estadual. Então, há um largo campo político em desenvolvimento para o PSDB local agora que está unificado. Ainda mais depois das manifestações de junho, que são diferentes do que a gente vê se organizando todos os dias aparelhadamente.
JC – Há um aparelhamento nas manifestações?
Yeda – Sim. São escolhidos os governadores e prefeitos que se quer atacar. Os movimentos tipo Black Bloc e cobertura da Mídia Ninja são aparelhados. Eles recebem dinheiro federal. Hoje está mais do que informado como é que eles vivem e sobrevivem. Começaram a aparecer bandeiras partidárias outra vez. Então, estas manifestações que vão várias vezes por semana em vários locais do Brasil já são campanha eleitoral. Quem tem mandato tem que ter organização suficiente para informar a população do que está acontecendo.
JC – Qual a diferença com as manifestações de junho?
Yeda – Tive a oportunidade de estar na Espanha quando se formou o movimento 15-M dos Indignados. Tinha eleições parlamentares e provinciais no domingo seguinte, e o movimento dos Indignados era contra a forma de fazer política. Ele não tinha partido e ele tinha pilares. Os pilares são os do (sociólogo espanhol Manuel) Castells: movimentos a partir do chamamento pelas redes. O propósito dos Indignados era extremamente amplo, mudar a forma pela qual a política vinha sendo feita. Acompanhei isso em maio de 2011 e quando nasceu o junho de 2013 no Brasil. O que Castells dizia em 2011? “Os pilares que te diferenciam como movimento para a mudança são que vocês devem reivindicar o acesso à liberdade pela internet universal. E em segundo o lugar, o movimento tem que ser não violento”. Mas esses novos movimentos que estão por aí são financiados com propósitos eleitorais e voltados para espaços importantes na política, principalmente na política do PT e de seus associados. Os movimentos de junho foram além, porque quando começaram a aparecer bandeiras partidárias, os próprios manifestantes deram fim às bandeiras.
JC – As manifestações de rua atingiram todos os partidos, inclusive o PSDB.
Yeda – Atingiram todo o mundo e o modo de fazer política, mas sem identificar. Os movimentos de junho eles não disseram a partidarização. Eles tiveram que a política não vai bem e todos foram atingidos, não sobrou nenhum para não ser atingido. Aliás, quem foi atingida mesmo foi a grande mídia, que foi pega de surpresa. A liberdade foi amplamente utilizada pela imprensa que cada um de nós somos, através das redes sociais.
JC – Como será a atuação em Porto Alegre, onde o partido teve uma votação pouco expressiva na última eleição municipal?
Yeda – O partido saiu enfraquecido demais na Capital. Porto Alegre mostra que o PSDB é um partido mais de Interior. Os deputados estaduais são todos do Interior. O resultado que se colheu foi por erros e acertos da própria campanha. E também não se conquistou votos semelhantes, por exemplo, aos das minhas candidaturas à prefeitura de Porto Alegre. Eu sou Porto Alegre, tenho a dimensão estadual e nacional, mas sou Porto Alegre. Quando saí, não se colocou nenhum outro líder com a mesma perspectiva de voto que tinha.
JC – Vai disputar uma vaga para a Câmara dos Deputados?
Yeda – O que me acendeu muito a expectativa de “valer a pena fazer política sempre” foram as mobilizações de junho. Tudo que foi colocado como problema depende da definição das políticas públicas no orçamento federal. Ele tem que se democratizar, as políticas sociais e as prefeituras não podem viver do gosto de uma definição, como a de política para o transporte individual, ao contrário do que pediam as ruas. Então, a gente tem que ganhar força para fazer a reforma federativa. E essa força tem que estar no Congresso Nacional. Para este posto de disputa, me dá prazer de participar do processo de construção dessa mudança. A definição deve ser em outubro.

Perfil

Yeda Rorato Crusius (PSDB) nasceu em 1944, em São Paulo. É graduada pela USP em Economia.Em 1970, radicou-se em Porto Alegre e se tornou professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 1990, filiou-se ao PSDB. No governo de Itamar Franco, foi ministra do Planejamento. Em 1994, foi eleita deputada federal com a terceira maior votação do Estado. Em 1998 e 2002, foi reeleita. Candidatou-se à prefeitura de Porto Alegre em 1996 e 2000, mas acabou derrotada nas duas ocasiões. Em 2006, concorreu ao governo do Estado e, na disputa, superou o então governador Germano Rigotto (PMDB) e o ex-governador Olívio Dutra (PT). Durante a sua gestão,  entrou em conflito com PDT e DEM e viu a base aliada ser reduzida. Enfrentou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou denúncias de  corrupção em seu governo, o desencadeamento da Operação Rodin - que mostrou a fraude de R$ 44 milhões no Detran - e um pedido de impeachment por deputados da oposição. Yeda se manteve no cargo e em 2010 tentou a reeleição, mas ficou em terceiro lugar na disputa.
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