A cultura do software livre ganha espaço no 14º Fórum Internacional do Software Livre, que reúne milhares de pessoas, no Centro de Eventos da Pucrs, em Porto Alegre, entre os dias 3 e 6 de julho. Entre outros destaques desta quarta-feira, estivaram as palestras de Deb Nicholson e Neville Roy Singham, que falaram sobre a descentralização da web e o totalitarismo da internet.
Deb Nicholson, colaboradora do MediaGoblin, software livre de compartilhamento de mídias, apontou os perigos da centralização da internet e apresentou alguns projetos que buscam sua descentralização. Para ela, uma web perfeita seria aquela em que temos controle sobre nossos dados e nossos compartilhamentos. Por outro lado, no modelo atual da internet, as informações de todos os usuários se encontram em um único lugar, e isso acarreta no controle de todas nossas experiências, como no caso do Facebook, afirma.
Nicholson alertou o público que estava presente sobre a vulnerabilidade da internet. Por ser um lugar onde as informações se encontram todas centralizadas em poucos sites, a web pode ser facilmente monitorada. Além disso, mesmo que ela nos ofereça uma infinidade de opções, as fontes de nossas informações se concentram em poucas páginas. A palestrante admitiu ter medo que chegue o tempo em que pessoas ignorantes, que utilizem apenas alguns sites como intermediários de suas informações, governem o mundo.
A saída é buscar os softwares livres, ferramentas abertas que podem ser usadas para qualquer propósito. Além disso, seu código-fonte é aberto para ser estudado e adaptado, se necessário, às necessidades dos usuários. Nicholson mostrou alguns exemplo de redes sociais que seguem às diretrizes do software livre, como o MediaGlobin, o Diaspora e o Friendica. Os projetos são passíveis de ser aperfeiçoados pelo próprio internauta, mas ainda têm alguns problemas, como a quantidade excessiva de spams. Mas como fazer com que os usuários do Facebook migrem para redes sociais de software livre? Para Nicholson, o primeiro passo é desenvolver uma ferramenta em que a pessoa possa transferir seus dados com facilidade de um programa para outro.
Dando continuidade aos debates, um dos fundadores da ThoughtWorks, empresa de consultoria de TI, Neville Roy Singham, falou sobre a ascensão dos monopólios na internet. Ele mostrou dados e informações que confirmam que os Estados Unidos são o Big Brother da vida real. A maioria das fibras óticas, que carregam as informações que trafegam pelo mundo todo, passa pelo país americano. E se não passam, são interceptadas por submarinos americanos. A inteligência dos Estados Unidos teria acesso, portanto, a dados de todas as pessoas do mundo.
Singham questiona a revolução da internet, que ao invés de proporcionar mais democracia, criou um totalitarismo que podemos ver na tela do computador. Skype, Facebook, Gmail, Yahoo, Youtube, entre outras páginas, fazem parte do complexo industrial digital americano que detém todas as informações de todos os usuários dessas plataformas. Segundo Singham, atualmente, 10 sites controlam a maior parte do tráfego de informações na internet. Para ele, isso se constitui na maior concentração de poder jamais vista na história da humanidade.
O palestrante incentivou quem gosta de tecnologia a se aperfeiçoar e promover mudanças, pois, segundo ele, são essas pessoas que representam a verdadeira ameaça para a inteligência americana. Singham teve a oportunidade de conhecer Aaron Schwartz, hacker e ativista que cometeu suicídio no início deste ano, enquanto era processado por pirataria pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O jovem foi homenageado com um ciclo de palestras nesta 14ª edição do Fisl.