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- Publicada em 11 de Fevereiro de 2013 às 00:00

Mercado de trabalho atravessa a era do potencial humano


JONATHAN HECKLER/JC
Jornal do Comércio
O atual momento do mercado de trabalho global marca uma mudança em sua dinâmica, com o surgimento da chamada era do potencial humano. Neste sentido, diante da escassez de mão de obra qualificada, as empresas vão precisar, cada vez mais, trabalhar no treinamento e na retenção de talentos. Essa é a avaliação de Riccardo Barberis, CEO do ManpowerGroup Brasil, companhia especializada em recrutamento e soluções na área de recursos humanos. Italiano de Alessandria, cidade próxima a Milão, torcedor da Internazionale, o especialista reside em São Paulo há um ano e meio.
O atual momento do mercado de trabalho global marca uma mudança em sua dinâmica, com o surgimento da chamada era do potencial humano. Neste sentido, diante da escassez de mão de obra qualificada, as empresas vão precisar, cada vez mais, trabalhar no treinamento e na retenção de talentos. Essa é a avaliação de Riccardo Barberis, CEO do ManpowerGroup Brasil, companhia especializada em recrutamento e soluções na área de recursos humanos. Italiano de Alessandria, cidade próxima a Milão, torcedor da Internazionale, o especialista reside em São Paulo há um ano e meio.

Jornal do Comércio - O que é a era do potencial humano?

Riccardo Barberis - A nossa pesquisa sobre a escassez de talentos mostra que, na média, 34% dos empregadores do mundo sinalizam dificuldade em preencher vagas. E a maioria deles confirma que essa dificuldade tem grande impacto na estratégia do negócio. No passado, na era industrial, a máquina fazia a diferença. Depois, no primeiro passo do capitalismo, o potencial de investimento em dinheiro passou a fazer a diferença. Posteriormente, a tecnologia se tornou o diferencial, mesmo que hoje ela tenha virado um pouco commodity. Hoje, qual é o fator competitivo que não é facilmente replicável? A competência das pessoas. Isso é a era do potencial humano. No futuro, essa situação vai mostrar ainda mais seus efeitos, em função da globalização. O talento, hoje, não está somente em Porto Alegre, em São Paulo ou em Buenos Aires. O talento está olhando o seu cenário de oportunidades a nível global. 

JC - Qual a situação brasileira dentro desse contexto?

Barberis - O Brasil é o segundo país do mundo que mostra escassez de talentos, com 71% dos empregadores apontando dificuldade de preencher as vagas. O País perde somente para o Japão, que é impactado pelo envelhecimento da população. A dificuldade é acompanhar o crescimento econômico do País tendo as pessoas com competências e características que os negócios do Brasil precisam. Isso era um pouco previsível, porque, nos últimos dez anos, a taxa de desemprego caiu de 11% para cerca de 5%. O mercado do trabalho formal cresceu de forma significativa, tendo perto de 10 milhões de carteiras de trabalho assinadas nos últimos sete anos. Com isso, as empresas brasileiras vão ter que planejar de forma mais estratégica a atração e, principalmente, a retenção de talentos.

JC - Em relação à escassez de mão de obra qualificada no Brasil, há perspectiva de melhora nessa situação?

Barberis - Há sinais muito bons da percepção do tamanho do problema. A medida do governo federal em mudar um pouco a legislação para entrada de estrangeiros no mercado de trabalho brasileiro me parece um sinal bom. No entanto, esse tipo de medida é para o curto prazo. A médio e longo prazos, seria interessante encarar esse desafio de uma forma mais sistêmica. Isso quer dizer que o governo, as empresas, as universidades e as escolas técnicas deveriam trabalhar o mais perto possível. A capacitação passa a ser uma das palavras-chave.

JC - As empresas brasileiras estão conseguindo identificar e valorizar seus talentos?

Barberis - Sim e não. Algumas empresas estão tomando medidas nessa direção, criando uma ligação mais forte entre empregado e empregador. Essas estão promovendo cursos, treinamentos e criando desafios para as pessoas que estão em casa. Porém, essa tendência não está 100% compreendida. As companhias deveriam compreender que não dá para lidar com os jovens (a geração Y) nos mesmos paradigmas do passado. Um jovem talento, quando chega a uma empresa, pede um forte feedback, um relacionamento transparente para crescer. Isso porque as mídias sociais e a tecnologia estão acostumando os jovens a serem mais diretos e transparentes. A tecnologia está influenciando o modelo social. Meu filho, por exemplo, quando joga videogame no celular e perde a partida, desliga e liga novamente. Esse comportamento é transportado para o mundo do trabalho. O grande desafio da empresa moderna é não só ter jovens em casa, mas tê-los engajados. As companhias precisam considerar que os jovens têm um potencial gigantesco, se bem gerenciados. Elas devem adaptar novas formas de relação, criando uma cultura mais aberta, rápida e transparente.

JC - A tendência é a continuidade da queda da taxa de desemprego no Brasil em 2013? 

Barberis - Nossa pesquisa de emprego para o primeiro trimestre de 2013 mostra que a tendência positiva continua, mas menor. Um grande número de empregadores está hesitando (nem reduzindo e nem aumentando as contratações). Fica claro que o contexto do mercado de trabalho brasileiro permanece positivo, mas começa a ter peso o risco da crise que está por fora: a desaceleração da China, que impacta na nossa exportação, e também a crise da Europa. Acredito que vai continuar havendo resistência ao cenário externo, mas em intensidade menor. Muitos empregadores estão aguardando para ver qual é a tendência antes de abrir vagas.

JC - Essa desaceleração na confiança para contratar era esperada?

Barberis - Concordo que, quando você chega a uns 5% de taxa de desemprego e cria 10 milhões de carteiras assinadas, um movimento de desaceleração faz parte de uma curva normal. Do outro lado, esse cenário sinaliza a dificuldade de preencher vagas de conteúdo técnico. A falta de mão de obra técnica é um dos grandes desafios do mercado de trabalho brasileiro. Há empresas que estão parando de abrir vagas porque sabem que alguns postos, naturalmente, não vão ser preenchidos. A falta de competência técnica e a falta de experiência são os dois principais fatores que os empregadores alegam para não conseguir preencher vagas.

JC - Como solucionar a falta de profissionais com perfil técnico?

Barberis - As soluções para um problema tão grave passam, em um primeiro momento, pela flexibilização da contratação de estrangeiros. No entanto, no médio e longo prazos, é importante estrategicamente para o País pensar em aproximar a universidade e mundo do trabalho. Além disso, acredito que devemos dar ênfase maior na escola técnica. O Brasil tem ótimas escolas técnicas. Infelizmente, como ocorreu em outros países da Europa nos anos 1990, a escola técnica foi considerada, por muito tempo, uma opção secundária pelos jovens. Os dados do trabalho na Europa demostram ser o contrário. Nos países onde o percurso acadêmico foi menos técnico, temos uma taxa de desemprego muito alta, como na Itália, França e Espanha. Um país que sempre investiu na escola técnica, como a Alemanha, consegue ter uma economia saudável. A taxa de desemprego da Alemanha é de 9,5%, um terço da França e um quinto da Espanha. Os jovens alemães viram na escola técnica uma oportunidade de criar caminho nas empresas e até a possibilidade de criarem suas próprias empresas.

JC - A situação de pleno emprego vivida pelo Brasil nos últimos anos mudou, de alguma forma, o perfil do profissional brasileiro? 

Barberis - Não houve mudança no sentido de perfil profissional. O que pode ser olhado como uma tendência dos trabalhadores brasileiros é o poder que ele tem na mão para escolher seu caminho profissional. Hoje, eu encontro muitos jovens que falam que, pela primeira vez, têm duas ou três entrevistas de emprego ao mesmo tempo. É uma situação nova. O poder de escolha, no passado, sempre estava do lado do empregador. Agora, está com o empregado.

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